quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O fim do mundo, cap. 2

Uma semana se passou desde que Emily e eu passamos a andar juntos. Não sei por que raios ela estava sempre me seguindo para qualquer lugar, falando sobre os casos de aparições de óvnis que ela via nos jornais e na internet. Aquilo estava se tornando um pouco chato, mas bem, eu não podia reclamar. Agora, durante o almoço, eu estava sempre acompanhado de uma garota, o que fazia com que todos os meus amigos (se é que posso chamá-los assim) e todo mundo do refeitório me olhassem diferente. Era legal, apesar de minha companhia ser a menina mais estranha da escola.
Foi durante o almoço que ela me falou sobre sua nova revelação. Deixa eu explicar isso: Após assistir ao Canal X, ela insistiu para mim que passou a ter um poder especial: o de identificar, com apenas um olhar, seres sobrenaturais. Eu fazia de conta que acreditava, mas não sabia até que ponto ela tava zoando com a minha cara. O fato é que agora ela poderia, supostamente, não só reconhecer alienígenas disfarçados de humanos ou animais ou qualquer objeto (segundo ela, essa era uma ameaça constante) como, também, poderia identificar os demais Escolhidos, que possuíam uma aura colorida e diferente das pessoas normais. Toda essa situação foi interessante até que, uma semana depois, ela identificou o novo escolhido em nossa escola.
- Eu não acredito que ELE seja nosso novo parceiro. Por que, em meio a tanta gente, ter q ser justamente ele?
- Não fui eu que o escolhi, Max, simplesmente é o que a aura dele me diz.
Estávamos falando de ninguém menos que Raymond Taylor, o popular Ray. Capitão do time de football da escola. O cara mais popular de todo o colégio. Sempre vestia a jaqueta vermelha com o símbolo da escola. Sempre andava acompanhado de um brutamonte careca com cara de mau chamado Henry e um outro cara alto com um topete lambuzado em gel chamado Eddy, sem falar das meninas lindas e descoladas da torcida do time, como Ashley e Whitney, as garotas mais populares do colégio. Eram considerados os caras mais maneiros da escola pelos homens e os mais bonitos pelas meninas.
- Ta certo, Emily, veja bem: nós estamos falando de Raymond Taylor, o RAY. O cara mais popular da escola. Como nós faremos, simplesmente pediremos licença para o resto do pessoal descolado e falaremos para ele sobre a terrível ameaça alienígena que assola nosso mundo?
Ela me olhou séria como se não entendesse a minha situação. Ela também não parecia saber direito com quem estávamos lidando.
- Era exatamente este o meu plano – disse ela, com uma calma e uma seriedade que eu não pude acreditar que aquilo fosse uma brincadeira.
Eu estava chocado. Depois de fazer uma idiotice destas, justamente com o Ray, eu seria considerando o novo “esquisito” da escola. Minha reputação, que nunca foi lá essas coisas, ficaria pior ainda.
- Escuta Emily, eu jamais farei isso, ta bom? Você fala com ele se quiser, eu ficarei espiando de longe. O que seria da minha reputação depois de uma situação dessas? Eu me recuso, ta legal? Eu, definitivamente, me recuso!
Porém, eu sou mesmo um pamonha e ela acabou me convencendo a falar com Ray, com tanto que ela estivesse junto a mim na hora de passar vergonha, o que não fazia muita diferença pra ela.
Emily e eu fomos juntos ao encontro do pessoal mais descolado da escola. Assim que nos aproximamos, interrompendo a conversa, fomos metralhados com olhares estranhos, como quem diz “o que querem aqui, derrotados?”. De repente, Emily, absolutamente calma e indiferente aos olhares, falou:
- Raymond Taylor, nós precisamos conversar com vc.
Muitos olhares estranhos. Eu estava paralisado. Ray parecia muito calmo.
- Ok, podem falar.
- Desculpe, mas gostaríamos de falar a sós com vc.
Nunca havia me sentido tão envergonhado. Era muito pior que a vez da Emily. Os tais Henry e Eddy nos olhavam de forma bem hostil.
- Hum... Ta bem. Eu volto daqui a pouco galera. – disse Ray para seus camaradas que estavam surpresos com o fato dele estar dando atenção à gente.
Fomos a um lugar mais reservado.
- E então, o que vocês querem?
- Explique pra ele, Max.
- EU? Por que eu? A gente combinou que vc diria, lembra?
- Se você foi capaz de me convencer, também será capaz de convencê-lo. Não tenha medo.
Droga, aquilo estava cada vez pior.
- Ta bem, mas antes de tudo, me deixa explicar que isso foi tudo pensado por ELA – e apontei para Emily – e que eu não tenho nada haver com isso ta legal?
Ele concordou. Eu falei tudo da mesma forma que falei pra Emily, pois eu já havia decorado aquele discurso. Ele nos olhava absolutamente surpreso. Depois de um tempo processando a informação, ele levou uma mão à nuca e coçou. Deu uma risada modesta e disse:
- Haha... Bem, vocês me pegaram desprevenido. Não esperava algo tão absurdo assim.
Eu sabia. Tava certo: Max, o cara do primeiro ano, seria o novo menino esquisito da escola. Minha reputação, finalmente, terminava em ruínas. Emily continuava o fitando muito séria para deixar claro que aquilo não era brincadeira. Foi quando Ray continuou:
- Porém, não sei ao certo o que é, mas tem algo em vocês que me passa muita confiança. Pra ser sincero, eu ainda não acredito no que vc disse, mas prometo que darei uma conferida no tal “Canal X” essa noite e prometo também que não contarei a ninguém sobre isso.
- Ta bem, manteremos contato com vc. Até breve. – disse Emily, já me puxando pelo braço para longe.
Aquilo estava ficando mais estranho a cada dia. Aquele cara legal era Raymond Taylor, o Ray que eu sempre odiei? O cara metido a herói da escola, agora bancando o bom sujeito? O lendário Ray, assistindo ao Canal X? Aquilo era muito esquisito para mim. Emily parecia achar o percurso da nossa aventura bastante normal. Ela vivia num mundo a parte. Aposto que ela nem devia saber quem era Ray, Eddy, Whitney e toda essa gente antes de falar comigo. Quando não estava me metralhando com informações sobre a nova revista óvni, estava sempre em sua carteira, quieta, lendo um livro antigo com cheiro de mofo que ela nunca devolvia à biblioteca.
Bom, pra piorar a situação, no outro dia, ao chegar na escola, me deparei com ninguém menos que Ray, o próprio, esperando na porta da nossa sala. Ele me abordou de imediato.
- Cara, isso foi realmente alucinante! Eu nunca imaginei que algo assim poderia acontecer conosco. O Canal X é real! Desculpe por não ter acreditado em vc, Max. E então, que horas Emily sempre chega? Ela está um pouco atrasada para a aula, não está?
Passei um bom tempo pensando em como Ray sabia meu nome. A Emily tudo bem, pois ela era conhecida por todo mundo por suas esquisitices, mas como ele me conhecia? Assim que Emily chegou, nós começamos a conversar sobre a invasão, os alienígenas e toda essa palhaçada. De repente, Henry, Eddy e o resto do pessoal maneiro do time de football aparece.
- Ei Ray, vamos nessa!
- Ok, eu já vou, Henry. Só preciso conversar algumas coisas com meus amigos aqui.
A cara com que Henry me olhou ao ouvir a palavra “amigo” foi indescritível. Não dava pra saber se ele ficou bravo ou se achou que fosse uma piada. Só sei que nossa aventura continuou, cada vez mais estranha e inesperada.

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