segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Lingua, Olho, Coração

Você não vai sentir nada de novo?
Se recuse.
Aquele é você. Você está morto.
Se recuse. Sempre. Não vê?
Esse estado é deprimente.
Enfrente o mundo - homem
Enfrente teus limites
Pague o preço e sofra
Sofra... Constante... Sofra mais
Pela vida
Por uma vida fora desse maldito quarto
Longe dessa bosta de quarto
Chega de se esconder
É chegada a hora de almejar prazeres maiores
Morra, mas morra pela vida
Não vida pela morte... jamais
Não viva pela morte
Por uma morte nessa bosta de quarto!?
Jamais.

Réplica ou O Caleidoscópio

São mil vocês ai dentro
Eu sei, sinto-as todas em minha pele
Mas isso não me incomoda ao todo
Não suporto é não saber
O que sinto por nenhuma de vocês
E quando você fala de amor
É a esfinge de cem corações
Várias mil vezes - amor
Várias mil vezes - amor
Um sentimento
Que percorre cada um dos meus nervos
Emana dos poros macios
Como um animal selvagem, acuado
Talvez... Talvez eu tenha que ferir alguém.

Podemos ser felizes, todos juntos?

É a menina que escolheu amar à distância.
Olhe só pra ela
Com essa alegria tão modesta
Que aprendeu a dividir o coração
Com o sentimento atroz da rejeição
Vale o custo-benefício?
Pra ela vale. Talvez valha.

domingo, 21 de dezembro de 2008

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ninguém quer ficar sozinho nessa vida, não é?

Era um adulto e dez crianças presos em uma ilha. O adulto ditava as regras e as crianças obedeciam, o que não as agradava muito, principalmente à medida em que cresciam e liam os livros que sobraram do naufrágio. Eram todas muito ligadas umas as outras, só não gostavam do Fedido, porque este fedia demais.
Pensaram em arremessar o Fedido aos tubarões, mas o adulto não permitiu. "Não se pode condenar os outros apenas pelo cheiro". Protestaram contra a tirania do adulto. Exigiram seus direitos democráticos e os tiveram. Enfim, a votação: dois contra nove. Fedido não voltaria mais a incomodar. Viva a democracia!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Somewhere... Over the rainbow...

Há pouco tempo atrás, mais ou menos um mês, eu perdi uma pessoa muito querida. Uma das pessoas mais próximas que eu já tive na minha vida.
Já faz quase um mês e a família agora sofre apenas nos momentos em que a presença dele faz realmente muita falta. No começo a gente chorava bastante, a qualquer momento. Nunca se sabia quando alguém não choraria repentinamente. Agora passou e a gente tá tocando a vida em frente, porque não vale à pena ficar sofrendo pra sempre. “Chorar não vai trazer ele de volta”.
Nada vai trazer ele de volta, com certeza. Aquele defunto pra quem todo mundo rezava no velório não era mais aquele amigo que eu tinha, mas, vale mesmo à pena tocar a vida em frente? Eu não sei, mas já percebi que não tenho escolha. Sabe por quê?
Foi a primeira pessoa próxima a mim que eu perdi. Foi absolutamente inesperado. A morte apareceu diante dos meus olhos e disse: “fique esperto, meu irmão, que você pode ser o próximo a cair”. Uma pessoa que eu sinceramente considerava meu amigo não existe mais. Assim, do nada. Acabou tudo. O que eu pensei? “A vida não vale nada mesmo”. É, mas, você acha que eu ainda tô pensando assim?
Passou uma semana e aquele trabalho pra faculdade que eu tenho que entregar até novembro voltou a se tornar um problema real. Aquela conta que eu tenho que pagar voltou a me encher o saco (odeio fila de lotérica, banco, farmácia ou a puta que pariu). A queda do meu time pra segunda divisão voltou a me incomodar. E toda a noite, antes de dormir, eu me lembro do falecido e penso “essas minhas preocupações realmente não fazem sentido nenhum”.
Eu não sei. Provavelmente não. Mas eu não tenho escolha, afinal, eu mesmo só me dou ao luxo de pensar no sentido de toda essa palhaçada depois de já ter comprido com todas as minhas obrigações. A gente toca a vida em frente, mas isso não é porque a vida é bela: é porque a gente não tem escolha. Você sabe que pagar a luz antes do vencimento e entregar o trabalho antes do prazo, no final, é mais importante que a morte de uma pessoa querida ou a efemeridade da vida.
Se eu queria sentir mais, ou, ao menos, com mais intensidade? Acho que queria. Eu chorei pouco, não sei se isso é bom ou ruim. Talvez se eu pudesse chorar mais... Sei lá.
Sei que ainda acho que ficar trancado no quarto esquecendo da vida por uns longos meses ainda me parece uma reação mais natural à morte do que chorar no velório e correr atrás do trabalho da faculdade no dia seguinte.

domingo, 16 de novembro de 2008

Nada

Feminismo? Faça-me o favor

Acabei de ver na televisão o caso de um homem que recorreu à lei Maria da Penha, que prevê os crimes decorrentes de violência à mulher em casos conjugais. O homem era agredido pela esposa e ameaçado de morte pela mesma. O advogado recorreu a tal lei acreditando que não podia haver distinção de gênero nesse caso.
O advogado e o promotor de justiça responsável pelo caso acharam o caso plausível. Outra advogada e a mesma Maria da Penha foram contra a decisão do promotor, afirmando que a lei em questão se aplicava necessariamente às mulheres e que os homens possuíam outras formas jurídicas de defesa e que não precisavam recorrer à lei delAS.
Ora, acontece que, caso as mulheres não saibam, um dos pressupostos básicos da constituição brasileira é que todos são iguais perante a lei, portanto, se existe lei que não a Maria da Penha que possa defender os homens de situação semelhante, essa lei se aplica EXATAMENTE DA MESMA FORMA AOS CASOS QUE ENVOLVEM MULHERES AGREDIDAS. Então, como explicar o sexismo da lei em questão?


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Fardo

- Legal, mas, por que você não escreve um pouco sobre as alegrias da vida também?
- Ah, se eu tivesse acesso ilimitado às alegrias da vida eu não teria porque escrever.
- Mas a vida também não é só tristeza né? A vida é cheia de alegrias e tristezas.
- Sim, mas não faço questão de compartilhar as alegrias da minha vida, só as tristezas.
Depois de um tempo, nenhum deles lembrava o que tinha levado a essa discussão.
- Você é um egoista, sabe disso?
- Sei.

Cardiopatia Congênita II

E durante esse tempo todo
O que você sonhou, meu amigo?
Aposto que foi bom.
Chove como você gostava que chovesse.
Um dia de primavera não podia ter sido melhor.
Mas eu não sei mais o que pensar
Me perdoe, mas esse poema vai ter que esperar
talvez pra sempre...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Eu sou mesmo um solitário

Era uma vez uma pessoa. Essa pessoa, até ser melhor definida, pode ser qualquer pessoa. Pois vá lá, era um homem! Por quê? Porque sim, oras. Nenhuma razão em especial, poderia muito bem ter sido uma mulher, mas é um homem (segredo: se você, leitor, imaginar uma mulher no lugar do homem, não mudará nada, então, se sinta a vontade!). Por enquanto é só um homem vazio flutuando num espaço também vazio, então ele estava num mundo. Uma cidade. Melhor, uma cidade vazia! Sem mais delongas, quem era esse homem? Hum... Alguém sem memória alguma, mas numa condição parecida com a de alguém que teve amnésia que a gente vê nos filmes, que sabe se comunicar direitinho e conhece as coisas mais triviais a sua volta, mas, que não sabe quem é, nem daonde veio e essas coisas.

Então vamos:

Acordou no meio da rua vazia. O silêncio era absoluto, com raras violações cometidas por um vento ruidoso e mórbido. Os semáforos funcionavam, mas não havia ninguém para se parar. Só restara ele, em meio àquela cidade deserta. "Onde estou? onde está todo mundo?" pensou nosso azarado companheiro, para, então, perceber que "Quem sou eu?". Andou aleatoriamente pela rua, enquanto tentava assimilar os fatos. Era uma liberdade incondicional e, como toda liberdade incondicional, era, também, solitária. Não havia, nem ao menos, memórias que o ligassem a nada.
Andou até seus pés pedirem arrego. Gritou e ninguém respondeu. Entrou em casas e não encontrou ninguém. Solidão. Sentou-se e se pôs a chorar. Por quê? Não havia perdido nada. Nunca houve ninguém em sua vida. O que era aquilo? Como? Certamente nunca houve alguém que carecesse tanto de respostas. Nunca houve alguém que não lembrasse nada e estivesse totalmente só. Sem nem ao menos alguém para respostas mais simples como “você está em randomville, meu garoto, ho ho ho!”. Deve ser difícil para quem lê isso se imaginar em situação semelhante, mas o que esse homem sentia era um vazio intenso. Por que sentia dor? Já a havia sentido antes? Teria perdido algo? Sua dor era a única ligação com o passado? Já terei sido feliz um dia? Com que tipo de pessoas eu devo ter convivido? Mas espera! Apenas o fato de que sinto dor é suficiente para supor que eu realmente tenha tido um passado um dia? Será que não nasci agora?
Como podem ver, amigos leitores, o nosso personagem era um sagaz questionador, mas seus questionamentos eram absurdos, pois não havia quem questionar. As lagrimas escorriam por suas bochechas. Ele mesmo não existia. Nunca existira. Quem lembraria dele? Morreria cedo ou tarde de qualquer problema que lhe pudesse ocorrer. Não bastaria se alimentar dos mercados vazios e se abrigar nos prédios silenciosos que o circundavam. Logo teria uma doença qualquer, ou acabaria caindo de uma altura elevada, quebrando a perna e morrendo da perda de sangue. Por que aquilo? Por que essa aflição? Há alguém se divertindo com tudo isso? O que eu faço?
Mal sabia o pobre infeliz, caros leitores, que estava para ter uma grande revelação. Digamos assim: uma revelação divina!
Quando levantou a cabeça deitada entre as pernas curvadas, surpresa! Deparou-se com outro homem (ou mulher) que o olhava fixamente, sem expressão.
- O quê? Quem é você? O que é isso?
O novo homem respondeu:
- Eu sou um anjo. Um mensageiro de Deus. Vim lhe revelar a verdade absoluta.
- O quê?
- Isso mesmo que você ouviu.
Certamente não parecia um anjo. Era alguém bastante normal. As lagrimas cessaram e o soluço se aquietou. O que era tudo aquilo? Ele aparecera do nada? Como?
- Você não tem passado nenhum. Foi criado agora por alguém que sente um grande prazer estético com a sua angústia. Esse alguém é Deus.
O que era aquilo? Isso mesmo? Não fazia sentido nenhum. Por quê? As lagrimas escorriam mais uma vez numa poderosa torrente.
- Você veio pra me dizer isso? Quem é você? Isso é uma brincadeira?
- Não, não é. Deus é onisciente e sabe tudo o que você sente e pensa e fala antes que você sinta, pense e fale. Você pensa, sente e fala porque e o que Ele quer. Ele criou esse mundo em menos de uma hora e, aqui, tudo acontece de acordo com a vontade Dele.
-Você é louco. Louco! Você aparece do nada e começa a dizer essas coisas. Por quê? Que Deus é esse que cria pessoas e as fazem sofrer só pelo seu prazer estético? Isso não faz nenhum sentido.
-Sua vontade é absoluta e suas razões são incompreensíveis para nós. Somos insignificantes para ele. Se ele quiser destruir tudo, ele pode.
Nesse momento, houve um ruído poderoso que fez com que nosso protagonista levasse as mãos às orelhas. Uma nuvem de poeira anunciava a destruição. Os prédios que o circundavam faliam como se implodissem todos, ao mesmo tempo, enquanto o céu passava de um tom branco para um acinzentado indiferente. A revelação divina estendeu seus braços para mostrar o poder da vontade absoluta.
- O que é isso? Por quê? Não faz sentido nenhum! O homem gritava desesperadamente. O que era aquilo? Nada mais fazia sentido.
O homem caiu de joelhos e se afundou na própria confusão.
- Por que ele faz isso? Por quê? Se ele me fez, por que me fazer sofrer? Ele me odeia?
- Não. Ele gosta de você do jeito que te criou. Ou lhe acha necessário.
- Então por que? Por que me fazer sofrer assim? O que sou eu?
O anjo fechou os olhos para a resposta final.
- Você é o personagem de um texto qualquer, postado em um blog aleatório.
- O quê?
Então houve a destruição total.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sexo

- Eu não sei. É essa dor que eu sinto... Deve ser a pior dor do mundo.
- Ninguém sente dores maiores que as dores do mundo.
Silêncio. Ela refletiu.
- É.
Mansa, ela concordou com o argumento filantrópico do companheiro. Aliás, era quase impossível, para ela, combater qualquer argumento daquele companheiro tão intelectual.
Bobagem. As dores dela abarcavam, também, as dores do mundo. O sofrimento alheio devorava seu coração lentamente, como um peixinho devora um pedaço de pão jogado no lago, beijando-o com todos os dentes. E quanto ao mundo? O mundo não dava a mínima para as dores dela. Estava ocupado demais com seus problemas. Se ela, ao menos, conseguisse dizer isso... Se ela tivesse a linguagem para dizer isso...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Cardiopatia Congênita

Acorda, meu amigo
A gente ainda tem tanto que se divertir
Deixa pra dormir no final
Vamos começar de novo
Acorda, meu amigo
Eu quero te ter comigo
Nem que seja pra não fazer nada
Nem que seja só mais um pouco
Acorda, meu amigo
Vamos tentar de novo!
Vamos rir juntos de novo!
Já é de manhã e o café está na mesa
Vamos comer juntos de novo!
Acorda, meu amigo

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Amizade

Eu quero sentir que estamos a uma distância segura
Onde você não possa fugir de mim
Nem que a proximidade seja tanta
Mas eu quero viver com mais gente
Quero viver cercado de gente
E quero ficar sozinho
Quero ficar sozinho com você
sozinho com todo mundo
Eu quero um mundo de segurança
Onde eu não precise fugir de ninguém
Eu quero um mundo de gente que passa
Mas quero que alguém fique comigo
Eu quero uma distância do mundo
E que a distância não seja tanta

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Ama-me, por favor

Ele olhou para o quarto vazio e lembrou que não tinha mais nada para lembrar. Nada que valesse a pena lembrar. Pensou também que não tinha mais nenhum plano para o futuro. Costumava ter, mas, agora não tinha mais ou, se tinha, eram todos muito imediatos e irrelevantes. Se acostumou a viver dos prazeres mais passageiros, recorrendo a eles com uma certa frequência, como a bebida e o tabaco. De repente, pensou sobre si mesmo e percebeu que havia se acostumado a viver desse modo, aguentando os dias da semana, hora após hora, pra tentar a sorte com a felicidade no fim de semana e sempre voltar pra casa no domingo com uma sutil , porém, profunda sensação de insatisfação que se arrastava pelas horas exaustivas e tediosas que estavam por vir na próxima semana. Estranhamente, pensou que havia se acostumado a viver sem, necessariamente, ser feliz, seja lá o que isso significasse. Estranhou também como se tornou comum e aceitável os olhos desviarem do espelho. Não havia porque fitar a si próprio, muito menos por muito tempo. O mais estranho ainda era que, apesar de pensar que havia se acostumado com tudo isso (e, talvez, não fosse só o porre que havia tomado), ainda sentia algo estranho... Era difícil definir, mas era como... uma náusea...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008