terça-feira, 13 de abril de 2010

Crônicas do Mundo 2

~ O Clube ~
E. e K. estavam a caminho de um lugar muito legal. K. estava para apresentar nosso herói ao clube mais maneiro do Mundo 2, que se reunia todos os dias numa casa azul na Floresta das Ilusões. Era um lugar onde apenas meninos podiam entrar. Um clube masculino, onde havia vários bonecos de ação, carrinhos, dinossauros, bicicletas, videogames, mesas de tênis, pebolim e todo o tipo de brinquedo do agrado dos meninos. Também era realizado todo o tipo de esporte, dos mais simples como uma amistosa partida de futebol até os mais radicais. Era um parque dos sonhos para qualquer garoto, repleto de amigos e brincadeiras. Segundo K., neste lugar maravilhoso havia até mesmo uma pista de kart. O pequeno E. estava ansioso.

A casa era realmente grande. Os garotos disseram a senha secreta e passaram pela primeira porta da casa azul. Deram em uma pequena sala com um cabide e uma placa que dizia “Favor, depositar seu casaco e chapéu aqui”. Como E. não usava casaco nem chapéu, passou direto para a segunda sala, onde havia vários tênis e sapatos deixados ao chão, no canto, e uma placa que dizia “Favor, deixar seus calçados aqui”. E. não gostava da idéia de praticar esportes sem seus tênis, mas enfim, regras são regras. A próxima sala era a mais estranha de todas. Havia um balcão no qual um pequeno querubim atendia os meninos que passavam até aquela fase, e uma placa que dizia “Favor, deixar suas demais roupas aqui”. Era uma situação estranha e um pouco desconfortável, mas como K. foi automaticamente se despindo ao entras naquela sala, E. decidiu fazer o mesmo. Regras são regras.

Ao passar pela ultima porta, os meninos adentraram o clube. Era diferente do que E. esperava. Na verdade, aquele lugar parecia mais uma casa de banho, repleta de meninos e querubins que serviam comidas e traziam toalhas aos membros do clube. Estavam presentes todos os garotos do Jardim, como R. L. e O. Os meninos foram recebidos por S., atual presidente do clube. Um cara legal que os levou para conhecer o proprietário daquela casa azul. Foram levados até a diretoria, onde conheceram Eros, um dos 127 deuses do Mundo 2. Era um anjo gigante (Devia ter mais de dois metros), com a pele prateada e brilhante, cabelos dourados e uma voz delicada e melodiosa. A diretoria era um lugar estranho, onde os demais querubins louvavam e dançavam em torno da imagem de um grande falo dourado, símbolo da masculinidade daquele lugar.

E. se sentia desconfortável, mas sabia que logo os jogos e brincadeiras começariam e isso o deixava contente. S. explicou a E. que, antes das brincadeiras começarem, era preciso que membros novos fossem levados à Banheira da Iniciação. Uma banheira mágica onde se podia dormir por horas proporcionadas por uma sensação agradável. A mágica estava em dormir naquelas águas, pois os sonhos que se tinham lá eram sempre de situações radicais. O próprio K. sonhou que pulava de pára-quedas enquanto S. sonhara que estava em um carro de corridas a trezentos quilômetros por hora. Aquilo parecia emocionante, e E. resolveu tentar.

Foi deixado a sós na pequena sala escura onde havia aquela tal banheira. Entrou lentamente e se deitou na água quente e reconfortante para, assim, esperar até que o sono lhe batesse. Não demorou tanto, pois as essências contidas naquela água possuíam um poderoso calmante.

E. dormiu, mas o sonho não foi tão radical quanto esperava. Na verdade, teve um sonho idiota em que A. estava vestida de Hitler, com direito a bigode postiço e tudo, enquanto batia continência para ele. A maior surpresa E. teve ao despertar e descobrir a verdadeira mágica daquela banheira. Sentiu-se estranho, diferente e percebeu que seus cabelos estavam compridos. Primeiramente temeu que tivesse passado anos naquela banheira, mas ao se levantar percebeu a verdadeira mágica. Aquela água havia-lhe mudado o sexo. Agora era uma menina.

E. se desesperou. A primeira coisa em que pensou foi que estaria em maus lençóis se alguém descobrisse uma menina naquele lugar. Os querubins provavelmente o(a) atacariam, pois odiavam meninas. Pensou em sair de fininho sem que ninguém percebesse as mudanças em seu corpo, mas estava nu(a) e suas roupas estavam no balcão, guardadas pelo pessoal da organização.

E. saiu daquela sala tentando ao máximo esconder seu corpo. Sentia vergonha e humilhação. Passou rapidamente pelas outras banheiras de cabeça baixa, ouvindo os risos entrecortados dos demais garotos do Jardim. Pensou que talvez a situação toda pudesse ser um trote feito aos novatos. Todos riam de E. que procurava desesperadamente por K. ou S. para exigir explicações. Enfim encontrou S., que segurava em suas mãos um grandioso buquê de flores e uma caixa de bombom. Que diabos significaria aquilo?

- Olá A. Gostaria de convidá-la para um encontro. Por favor, aceite essas rosas – disse S. entregando as rosas a E.

Então nosso herói (heroína) se olhou pelo espelho que havia sobre o balcão e enfim percebeu que não havia se tornado qualquer menina. Havia se tornado A. Sentiu algo indescritível. Seu coração bateu com tanta violência que o arrebatou de volta ao Mundo 1. O que o Mundo 2 poderia querer lhe dizer, afinal? Após se acomodar em sua maca, E. contemplou aquele belo jardim pela janela de seu quarto e pensou sobre ser A. Concluiu que perdeu sua única chance de entender completamente o que se passava pela cabeça e pelo coração de A.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Crônicas do Mundo 2

~ A Árvore da Vida ~

A. despertou preguiçosa. Não sabia onde estava, mas era um lugar morno e confortável. Algo dava à menina a maior sensação de segurança que já havia sentido. Estava tão escuro que A. mal podia ver sua própria mão em frente aos olhos, aliás, estariam aqueles olhos abertos? Era uma situação misteriosa, mas A. sentia muito sono. Sabe aquela sensação que se tem quando se desperta no inverno pensando que já é hora de levantar, mas, ao olhar o relógio na cabeceira da cama, se descobre felizmente que ainda faltam algumas horas de sono a serem dormidas? Esta sensação boa era o que A. sentia e o que a fazia se aconchegar e continuar a dormir naquele lugar estranho, porém acolhedor.

E assim A. passou, despertando algumas vezes apenas para se virar e se aconchegar para, então, voltar àquele sono tão preguiçoso e agradável. Sentia que havia alguém velando por seu sono. Uma voz delicada e compreensiva que dizia: “Volte a dormir, minha menina, pois ainda não é sua hora”. A. se esqueceu dos prazeres e das dores daquele Jardim. Esqueceu-se, também, de E, J. e todas aquelas pessoas que por hora a machucavam, outras horas lhe davam tanta alegria e prazer. Estava sozinha, hibernando num mundo de carinho e proteção misteriosa.

A. não lembra quanto tempo passou naquele lugar, mas lembra a dor que sentiu ao som da moto serra rasgando a madeira, e da voz desesperada de E. que a chamava. A serra chegava cada vez mais próxima de sua bolha. Enfim a bolsa estourou. E. sabia que aquela atitude era egoísta, mas precisava de A. para desvendar o segredo daquele jardim, o Tesouro Divino do Mundo 2.
E A. foi retirada a força do ventre de carne no cerne da Árvore da Vida. De volta àquele jardim de dor e prazer. De volta ao Mundo 2?