quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ Aventuras no Fundo do Mar ~

E. e A. estavam numa parte muito especial daquele jardim. Havia uma grande piscina que tinha uma parte rasa e outra funda. Aquele lugar parecia até um parque aquático. Nossos heróis estavam na parte rasa quando, de repente, sai de dentro da água uma bela garota de olhos azuis. Disse que seu nome era Sirene, a Princesa Sereia. Contou que na parte mais funda daquela piscina havia um túnel que levava ao reino de Netuno, o rei dos mares, onde haveria uma festa e disse ainda que E. e A. eram convidados de honra.

A sereia deu aos nossos heróis dois comprimidos azuis. Eram comprimidos de oxigênio, e tomando um destes não precisariam respirar por uma hora. Agora de pulmões cheios, mergulharam fundo. No oitavo metro debaixo da água, encontraram um pequeno túnel por onde passava apenas um de cada vez.

O túnel acabou no mar. Era um espaço infinito e escuro, repleto de cardumes de peixinhos coloridos, golfinhos, baleias, medusas, arraias e todo o tipo de bichos do mar. Nadaram até encontrar as ruínas aquáticas do reino de Netuno. Eram varias construções ao estilo grego, sustentadas por colunas de marfim cobertas por musgo e cercadas por belos recifes de coral. Assim que chegaram ao palácio, foram anunciados ao rei, um velho gigantesco com seu tridente e um sorriso bonachão. O rei, então, mandou a princesa conduzir os convidados até o salão de festas onde haveria o banquete.

Havia todo o tipo de frutos do mar. Tudo parecia muito apetitoso. E. resolveu perguntar qual era o motivo da festa. Netuno respondeu “Mas que motivo haveria, pequeno terráqueo, que não teu casamento com minha adorável filha?”.

Sirene era uma bela sereia, mas E. explicou que aquilo seria impossível, pois já havia prometido seu primeiro beijo à A. no dia dos namorados. Nossos heróis não podiam imaginar o quanto a princesa dos mares era ciumenta. Sirene bateu seu pequeno sino dourado e um gigantesco polvo entrou pela porta principal. A sereia disse a seu servo marítimo, apontando para A.:

- Leve esta garota daqui. Prenda-a na masmorra até que morra afogada. Não tolero concorrência. Sou a princesa do mar e tudo que está no mar é meu. Só meu.

Foi fácil para o polvo, com seus oito tentáculos, imobilizar a pobre A. e levá-la para a masmorra do palácio. E. tentou fugir, mas era inútil. Pode sair do palácio, mas o mar era escuro e gigantesco e jamais lembraria o caminho de volta até o túnel. Nadou ao léu até acabar o efeito do comprimido de oxigênio. Desesperado, tentou nadar até a superfície, mas era impossível. A superfície estava a tantos metros acima que não era possível nem mesmo ver a luz do sol. E. nadou e se debateu até que perdesse as forças. Aquele era seu fim.

E. forçou seu retorno. Era a primeira vez que o Mundo 2 mostrava suas garras ao nosso herói.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ A Floresta das Ilusões ~

Deitada em sua cama, A. olhava para o teto de seu quarto e pensava nas coisas como sempre fazia antes de dormir. De repente, A. sentiu que havia algo estranho acontecendo. Estava afundando na cama, como se houvesse um buraco no colchão. A menina tentou se segurar nos lençóis, mas estes também foram lentamente dragados pelo colchão. Após ser engolida pela própria cama, A. caiu. Uma queda longa que a fez sentir calafrios na barriga. Lá no fundo deste imenso buraco (ou seja lá o que fosse), A. viu outra A. deitada sobre outra cama, dormindo. A. caiu sobre a outra A. e as duas se tornaram uma.

Assim que acordou, A. se viu vestindo uma longa camisola branca e um par de pantufas. Estava em um quarto que não era o seu. Um quartinho pequeno, das cores branco e rosa. A menina se levantou e andou pelo quartinho. Estava em uma casa de bonecas no meio de uma grande floresta. Pela janela, A. via apenas árvores e folhas secas sobre o chão. Aquela era a Floresta das Ilusões.

De repente, começaram a sair de todos os lugares belas bonecas com vestidos rendados, cabelos cacheados, olhos brilhantes cobertos por cílios longos e curvados e bochechas avermelhadas. Fizeram uma cortês reverência à menina e disseram:

- Bom dia, Princesa. Dormiu bem? Temos biscoitos esperando pela senhorita. Logo pentearemos seus cabelos e a vestiremos como a princesa que é.

A. não entendeu o que estava acontecendo. Seria mesmo uma princesa? As bonecas explicaram que sim, este é o título com que elas deviam tratar sua dona até que esta casasse, para então receber o titulo de Senhora Rainha. Aquelas eram as bonecas de Pierot, um belo mágico que morava num castelo flutuante e fazia bonecas dotadas de vida para servirem suas amantes, mas A. nunca nem ao menos viu o tal mago. Como poderia ser amante de alguém assim? A. comeu alguns biscoitos e partiu à procura do jardim onde estavam os seus amigos. Levou consigo apenas a boneca Blanche, a de cachinhos louros e olhos verdes. As demais deveriam cuidar da Casa de Bonecas.

Enquanto caminhavam pela mata, uma fadinha brilhante sobrevoou a cabeça de A. Aquela era Jingle Twingles, a fada mais levada de toda a floresta. Uma fadinha estranha com olhos de inseto. Blanche contou que aquela fada havia até mesmo sido expulsa do Bosque das Fadas pela Rainha Titânia por suas brincadeiras cruéis. Jingle Twingles disse para A.:

- Escute menina, estou entediada. Vamos brincar de esconde-esconde, está bem? Você procura, é claro. Vamos, vai ser divertido! ...Não? Pois bem, se é assim que quer, terei que pegar pesado com você. Enquanto não me encontrar, usarei minha magia para fazer com que se perca pelo bosque e fique presa aqui para sempre. Pronta? Aqui vou eu!

A. não podia encontrar a fadinha levada em lugar nenhum, nem ao menos fugir por já estava sob o feitiço de Jingle Twinkles. A. se sentou sob uma árvore e se pôs a chorar. Blanche lamentou não ter trazido um lenço para sua princesa. Eis que, então, pousa uma grande coruja com um par de óculos sobre a árvore em que A. estava e disse:

- Hoo hoo! Olá, minha cara jovem, o que uma bela menina e sua boneca fazem numa floresta como esta? Há um portal que leva ao seu jardim logo ali em frente e... O que? Jingle Twinkles fez uma coisa terrível dessas? Aquela fadinha levada! Não se preocupe, vê aquela árvore oca ali? Aposto que ela esta lá. Agora senhoritas, se não se importam, receio que preciso, o quanto antes, voltar à minha biblioteca. Adeus e boa sorte! Hoo hoo!

A. enfiou a mão pelo buraco da árvore e tirou Jingle Twinkles de seu esconderijo. A fada acusou a menina de roubar no jogo e disse que não a libertaria de sua maldição. A fadinha, agora presa em sua mão, era tão frágil que A. decidiu quebras seu braço esquerdo. Foi como quebrar um graveto. Explicou à fadinha que quebraria cada um de seus membros lentamente até que fosse libertada do feitiço. Jingle Twinkles gritou, chorou e prometeu nunca mais se meter com A.

Em frente, A. encontrou uma grande e maciça porta de madeira no centro de uma clareira. Aquele devia ser o portal do qual o Mestre Coruja falara. A. poderia, então, aproveitar o resto de seu tempo no jardim com seus amigos.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~A. em apuros ~

A. e J. caminhavam pelo jardim. J. era a melhor amiga de A. Era a garota mais bonita daquele jardim. Tinha cabelos dourados e grandes olhos da cor do mel. Usava um adorável vestidinho de verão e sua pele tinha cheiro de protetor solar. Caminhando por este jardim, as duas meninas encontraram uma criação de lindos coelhinhos presos por uma cerca de arame farpado. A. quis um para si, mas J. explicou que aqueles coelhos eram de E., o novo rei dos animais que matou o antigo rei com um taco de beisebol. A única forma de ter um daqueles coelhos seria pedindo um coelho de presente ao novo rei. O problema é que E. era um garoto violento e um pouco cruel. A. sentia um pouco de medo de E., mas, mesmo assim, resolveu tentar.

As duas garotas partiram para o Trono Selvagem. Lá, encontraram E. em seu trono, com uma capa vermelha enrolada no pescoço e a pesada coroa do rei dos animais sobre a cabeça. Vários animais assustadores estavam em volta do rei, como lobos, onças, touros, javalis e gorilas. J. disse à corte que A. queria um coelhinho de E. O garoto pensou, olhou para as duas meninas e perguntou:

- Vocês são virgens?

J. se apressou em dizer que não. A pobre A. não sabia o que era isso e apenas ficou calada. E. concluiu que sim, A. era virgem. Dois gorilas apanharam A. pelos braços e E. disse:

- Que conveniente! Há tempos devo uma virgem como sacrifício a King Kong. O velho macaco deve estar morrendo de fome. Animais, façam os preparativos! Teremos um sacrifício esta noite!

Os animais celebraram e A. foi levada até o covil do King Kong. Foi amarrada em um grande tronco entre um circulo de tochas, em frente à caverna do grande gorila. Era lua cheia – a lua perfeita para fazer oferenda aos deuses. As cordas estavam tão apertadas que machucavam os pulsos e os tornozelos de A. De repente, J. apareceu, com roupas indígenas, o rosto pintado, uma pena na cabeça e um coelhinho branco nos braços. Disse que E. a tinha pedido em namoro e que havia aceitado, e que ele havia lhe dado todos os seus coelhos.

J. falou, enquanto passava pimenta no corpo de A.:

- Não grite, pois isso apenas deixará o King Kong mais enfurecido, o que te fará sofrer mais. Lembre-se de chorar baixinho.

Barulhos estranhos vinham da toca do King Kong. Os macacos tocavam freneticamente os tambores da selva. A. nunca havia sentido tanto medo. A menina fechou os olhos e tentou acordar com toda a força.

Desconectada. O Mundo 2, às vezes, podia ser realmente assustador.

Crônicas do Mundo 2

~Enquanto isso, no Mundo 1...~
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E. desceu até o 305 no terceiro andar. Lá era o quarto de A. Assim que entrou, deparou-se com A. deitada em sua maca, com um pijama cor-de-rosa, grandes óculos de grau e um computador sobre o colo. Ela passava a maior parte do tempo naquele computador. Os pais de A. estranharam e perguntaram a E. quem era afinal. A. se apressou em dizer que era um amigo de escola que veio visitá-la. Os pais desceram até a lanchonete tomar um café, e A. e E. tiveram um momento a sós, mas A. era muito tímida no Mundo 1 e não falou quase nada. Pediu para E. que voltassem a se encontrar somente no Mundo 2.

E. voltou para seu quarto.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ Em busca de Papai Noel ~

A. podia jurar ter visto, por um momento, o gorro vermelho de Papai Noel aparecer sobre o teto da casa. Ninguém sabia onde o Papai Noel se escondia até a hora de entregar os presentes, mas A. sempre desconfiou que fosse em cima da casa, sobre o telhado. E. e A. decidiram verificar. Escondidos (pois subir no telhado era muito perigoso), decidiram subir no muro para, então, subir no telhado do vizinho que era mais baixo e, assim, subir no telhado da casa. De fato, Papai Noel estava lá, bem no centro da casa (para não ser visto pelas crianças que só podiam enxergar o que estivesse na borda do telhado), sentado e comendo os doces de seu grande saco de guloseimas.

Assim que o bom velhinho percebeu que foi descoberto, tirou de seu saco mágico uma porção de balões coloridos e, com eles, saltou do telhado e flutuou para longe no céu. A. e E. mal podiam acreditar naquilo. Desceram e contaram para todo mundo sobre Papai Noel. Alguns acreditaram e outros não.

Assim que anoiteceu e a festa começou, A. chamou E. para longe das demais crianças que brincavam e perguntou “E. você consegue ouvir?”.

Era uma musiquinha natalina igual a das árvores de natal. Procuraram por todos os cômodos, esperando descobrir de onde viria a melodia. Concluíram que vinha do forro da casa. A única passagem para o forro daquela casa era no quarto da avó.

Escondidos dos adultos, os dois pegaram a escada dos pintores e, com ela, subiram até a portinha no teto de dava pro forro. A. sabia que era um lugar horrível, cheio de ratos e baratas gigantes. Naquele lugar escuro e de teto baixo estava Papai Noel, sentado, comendo doces enrolado em um monte de luzinhas natalinas que clareavam o ambiente. O velho disse:

- Ho ho ho! Vocês venceram, crianças. Tomem seus presentes adiantado. E não contem para ninguém onde me escondo, está bem?

A. e E. foram os únicos a ganhar presente antes da meia noite. Assim que entregou os presentes, Papai Noel tirou de seu bolso um saquinho de pó mágico. Jogou o pó sobre sua cabeça e sumiu lentamente, fazendo “Oh, ho, ho!”. O melhor de tudo é que o velhinho esqueceu o saco de doces. Os dois comeram balas, pirulitos, e chicletes até terem dor de dente.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ Caçando um Leão ~

A. queria um presente, e não era qualquer presente. A. queria um coelhinho. Explicou para E. que, para ter um coelho, era preciso ser rei dos animais. Para isso, precisariam matar o Rei Leão, atual rei dos animais que morava em um lugar chamado Trono Selvagem. Por sorte K. estava por perto e poderia ajudá-los nessa caça. K. era legal. Era um menino maneiro, mais velho, mas o mais legal nele é que ele podia se transformar no Jaspion, e isso ajudaria muito na hora de abater o Rei Leão.

Havia um portão no jardim que dava para uma selva tropical. O guardião deste portão era Maitomashin, um robô gigante, do tamanho de uma casa, das cores vermelho, preto, branco e azul. Era um dos 74 deuses do panteão do Mundo 2 e também era um dos Defensores de Tóquio. K. explicou a situação e Maitomashin os deixou passar.

E. levava consigo um taco de beisebol e a tampa da lata de lixo que serviria como escudo. A. trazia um tijolo e K. apenas se transformaria quando a hora chegasse. O Trono Selvagem era lar de toda a corte do reino animal, incluindo os ursos, os tigres, os lobos e os rinocerontes. Por sorte, o Rei Leão estava gripado, o que não o deixava rugir, pois tossia, nem soprar fogo, pois espirrava. E. acertava várias tacadas no bicho, até que ele caiu no chão. A. foi rápida, arremessou o tijolo com toda a força sobre a cabeça do Rei Leão e o matou.

E. tomou a pesada coroa do bicho, a pôs na cabeça e se tornou o novo rei dos animais. A. ganhou uma criação inteira de coelhinhos brancos, pretos e malhados e ficou muito feliz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ O Aniversário de E. e o Rei Pavão ~
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Da janela do hospital, E. pode ver um belo jardim, onde encontra pavões, flamingos, tucanos, araras, beija-flores e até mesmo dodós. O jardim é belo, com um gramado grande, muitas árvores, flores coloridas e um parquinho com vários brinquedos. Enfim, são quatro horas e a empregada chama E. para o chá da tarde. Tinha topo o tipo de guloseimas, doces, bolachas, bolos, salgadinhos e refrigerantes. E. pergunta, ao reparar na vela sobre o bolo “É aniversário de quem?”. As empregadas riem e dizem “Surpresa!”. Então, todos os amigos de E. se revelam. Isso é ótimo! Tem um chapéu de festa roxo sobre sua cabeça. E. e seus amigos comem até terem dor de barriga. Então, as empregadas levam todos para o Salão Imperial, onde E. abre seus presentes.

E. ganha bonecos, carrinhos, jogos, giz de cera, canetinhas e um videogame novinho em folha. O palhaço agora leva todos para fora onde haverá as brincadeiras. Uns brincam com as novas armas de água de E. Outros com os balões. Outros com a bola nova e algumas meninas brincavam com bonecas. Há até quem faça concurso de desenhos.

Na hora do esconde-esconde, E. decide se esconder embaixo da mesa dos salgadinhos. É lá, coberto pelo pano de mesa, E. conheceu A.

A. era uma menina legal que tinha uma bola verde e era boa em videogames. Explicou para E. que sua bola verde era mágica, e que a tinha roubado do mágico Houdini numa outra festa. Um de seus poderes mágicos era sempre voltar para sua mão. A. era muito esperta e fez com que E. batesse o salva-todos.

A. teve a idéia de brincar de caça ao tesouro. Naquele jardim havia um tesouro escondido. O tesouro de Suzaku, o rei dos pássaros; um dos 73 deuses do panteão do Mundo 2. Todos procuravam pistas como bobos, atrás dos arbustos, embaixo das mesas e sobre as árvores, mas A. sussurrou no ouvido de E. “Siga as penas fosforescentes”. E. seguiu a trilha de penas brilhantes que estavam esparramadas pelo chão e encontrou uma passagem secreta no muro, coberta pelas trepadeiras.

Naquele esconderijo secreto, Suzaku, um pavão gigante com uma cauda de sete cores e uma pequena coroa na cabeça dançava sobre seu baú dourado.

- Feliz aniversário, pequeno E. Meus parabéns, e aceite estas Tintas Celestes como meu presente.

E milhões de cores brilhantes voaram para fora do baú, deixando A. e E. encantados. As tintas deixaram o céu cor de rosa, a grama amarela e os cabelos de A. e E. verdes. Os dois deitaram sobre a grama e apreciaram as novas cores do mundo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O fim do mundo, cap. 16

- Tem certeza que este é o cara Emily?
- Sim, tenho.
- Bem Max, até agora a Emily não se enganou nenhuma vez não é? – falou Ray.
- É ele sim. Lembro com clareza dele no meu sonho – comentou Claire.
Ótimo, tudo o que a gente precisava: mais um esquisito pro nosso grupo. Estávamos no refeitório. Era horário de almoço, e numa mesa no canto do salão sentava sozinho o Oitavo Escolhido. Nunca vi o cara em lugar nenhum. Devia ser novo no colégio. Era alto, magrelo, com um pescoço alongado e com uma postura horrível. Usava uns óculos fundo de garrafa e estava entretido jogando um vídeo game portátil. Quem é o cara que trás um vídeo game portátil pra escola? Aquele devia ser o maior nerd de nosso colégio.
- Ta legal Max, sabe o que fazer – disse Emily.
Estávamos eu, Emily, Claire e Ray na mesa. Os três me encaravam com a mesma cara de “vai Max!”.
- Ah, que situação idiota, mas eu sei que vcs não vão me deixar em paz até que seja feito. É melhor que venha alguém comigo pra dividir a vergonha.
Emily se dispôs. Andamos até a mesa do cara que nem ao menos tirou os olhos daquele jogo para ver quem se aproximava.
- Olá. Eu sou Emily e este é Max. Nós somos do primeiro ano e temos algo muito importante pra tratar com vc.
O cara olha pra Emily de canto de olho. O que significava aquilo?
- Vai Max, explica pra ele.
- Então, negócio é o seguinte: essa história é bem maluca, mas essa garota aqui – apontei para Emily – não vai me deixar em paz até que tudo seja dito, então presta atenção...
Comecei a contar toda a história pro cara. Alienígenas, portais interdimensionais, etc. Mas o infeliz não tirava os olhos daquele joguinho idiota. De repente, na hora que eu tava falando dos Escolhidos, o cara levanta da cadeira num pulo, joga a mão pra cima e diz:
- É isso aí. Consegui!
Olhei pra garota pra ver o que ela pensava. Estava indiferente como sempre.
- Ta maluco? Conseguiu o que?
- Olhe só – disse o cara me apontando aquele vídeo game – consegui! É o Totomon #201. Sabe o quanto foi difícil achar esse Totomon? Sabe que as chances de encontro deste Totomon nesta dungeon são de 1/128? Beleza! Faz meses que to procurando esse bicho! Yes!!! Bem, sinto muito, mas estarei ocupado capturando esta belezinha durante os próximos minutos. Se não se importam, falaremos depois.
O quê? Totomon? Como um cara de, no mínimo, dezesseis anos ainda brincava de Totomon? Aquilo só podia ser brincadeira.
- Droga, não me diga que ele não prestou atenção nenhuma ao que eu falei?
- Tenha calma, Max. Com licença, mas quantas vezes você encontra um Totomon por minuto nesta dungeon? – perguntou Emily pro nerd esquisitão.
- Uma média e cinco a sete.
- Droga Emily, o que isso tem haver com a história?
- Bem, se ele só tem uma chance em cento e vinte e oito de conseguir o que ele quer, e só pode tentar de cinco a sete vezes por minuto, então ele deve ta procurando faz um bom tempo e acaba de achar. Pode não ser uma mera coincidência. Melhor esperar ele capturar o Totomon. Ainda temos tempo para explicar a situação.
Aquilo era muito idiota. Totomon? O cara conseguia ser mais perdedor que qualquer um de nós. Emily esperou em silêncio o cara pegar o tal Totomon. Eu já tava doidinho pra voltar à minha mesa aproveitar o tempo que sobrava pro almoço. Nesse meio tempo, Claire e Ray vieram atrás de nós.
- Olá! Meu nome é Ray Taylor. Sei que parece difícil de acreditar nessa história, mas eu acredito. Também estou nessa, e este cara – Ray pos a mão sobre meu ombro de forma simpática – é o nosso líder.
Indiferença total por parte do nerd. O cara só pensava no tal Totomon número duzentos e um. E desde quanto todo mundo me considerava o líder daquela balela toda?
- Oi! Eu sou Claire Campbell, mas vc deve saber quem eu sou né? Olha, eu também acredito com todo o meu coração no que o Max te disse. O que vc acha de fazer parte do nosso grupo? Garanto que vc vai se divertir a beça com a gente!
O esquisitão lentamente desvia seus olhos para o sorriso simpático da Claire. Analisa bem a garota, dá uma franzida na testa e diz:
- Sinto muito, mas acho que não nos conhecemos. Agora, se me permitem, preciso usar toda a minha concentração nesta captura. Hum... Meu Totomon está paralisado. Preciso trocá-lo, mas por qual? Hum... Vejamos... Este é bom, mas ta com pouco life. Hum... Vejamos...
A Claire ainda sorria, mas com uma cara engraçada de espanto. Não é por menos. Quem não conhecia Claire Campbell? Principalmente em nossa cidade? O cara só devia pensar em vídeo games mesmo. Tava cansado de esperar o perdedor ser feliz com seu joguinho, então apressei as coisas.
- Olha, negócio é o seguinte: Os únicos que podem parar os alienígenas somos nós, os Escolhidos. Se vc acredita nisso, me procure quando acabar com teu joguinho. Se não acredita, azar o teu – falei, já dando as costas e voltando para meu almoço.
- Espera Max, isso não ta certo. Ele não ta prestando atenção em vc. Não é melhor a gente esperar?
- Ah, qual é Emily? Não é vc quem vive dizendo que eu tenho o poder do convencimento? Se o cara for mesmo um dos escolhidos, deve ter entendido a situação. E olha, to perdendo meu horário de almoço. Até mais!
- Espere! – eu já tava tomando meu caminho de volta, quando o esquisito chamou.
- O que é?
- Vc tem como provar o que ta dizendo?
- Como é que é???
- Digo, a premissa é boa. Dava um bom enredo de vídeo game. Quase um Mother, mas vc tem como provar via método empírico o que ta me dizendo? Não acredito em nada que não possa ser comprovado. Assim age um bom cientista.
- Método o quê??
- Método empírico, Max. Ele quer uma prova real de que o que estamos falando é verdadeiro. Desculpe. A única prova que temos é o Canal X. Se vc conseguir sintonizá-lo esta noite, bastará como prova? – falou Emily.
Ótimo, o cara sabia falar difícil, mas e daí? Isso só fazia dele um cara mais perdedor ainda.
- É instigante, mas não podemos garantir que os humanos do futuro estejam realmente certos. Pelo que entendi, algo pode ter mudado na nossa época pois o simples fato de sabermos destes acontecimentos já pode mudar a trajetória normal dos fatos no tempo. De qualquer forma, tentarei sintonizar este canal ainda hoje. Relatarei como foi a experiência amanhã. Até lá, passem bem.
Emily e eu trocamos olhares. Ela sorri aquele sorriso de sempre, com uma cara de “missão cumprida”.
- Espere! A gente ainda nem sabe teu nome – disse Ray.
- Eu sou Dwight Elliot e estou no segundo ano. Agora, se não se importam, preciso MESMO capturar este Totomon.
Ótimo. Mais um perdedor para nosso grupo.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Reflexo

Eu me amo - isto não é vaidade.
Me amo como amaria outra pessoa.
É uma relação conturba
repleta de crises, dramas, exigências e acusações infundadas.
Eu me odeio
Mas, no fundo, sei que me amo
E que não posso viver sem mim.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O fim do mundo, cap. 15

Ben e eu estávamos em uma enrascada. E das grandes.
- Watchosk! Carter! Eu sei que estão por aí! Apareçam, seus maricas! – gritou Budd Tysel do meio do pátio de nossa escola.
- Vcs podem fugir, mas não podem se esconder, ehehe – falou Spike, o louro fanfarrão.
- Não é o contrário? Digo: “Vcs podem se esconder, mas não podem fugir”? Por que, tipo assim, os caras já se esconderam – corrigiu Billie Joe.
- Calem a boca, idiotas, e procurem os frangotes! – urrou Budd para seus comparsas.
Tudo começou quando, acidentalmente, Ben e eu nos deparamos com os valentões durante o intervalo. A gente não pagava a taxa de segurança desde que nos tornamos Escolhidos, e Budd não gostava nada disso. O cara deixou claro: na saída da aula, ou a gente pagava os cinco meses atrasados – e com juros – ou a gente levaria a maior surra de nossas vidas. Eu não tava inclinado a nenhuma destas alternativas, então peguei Ben e decidi me esconder atrás do ginásio. O problema é que o gordo, como o bom gordo que era, se atrasou na hora da corrida até o esconderijo, o que fez com que Spike pudesse perceber um vulto se refugiando atrás do ginásio. Nesse momento, os caras se dirigiam até onde estávamos. Era nosso fim.
- Viu, gordo?! Se vc não corresse feito uma velha, a gente podia ter escapado ileso! – reclamei, sussurrando.
Ben não respondia. Só suava como um porco ofegante devido à corrida e observava a situação. Continuei:
- E agora, o que a gente vai fazer? Droga, o que deu em mim? Por que foi que eu te trouxe comigo? Eu já podia ter pulado a cerca e, neste momento, estaria fazendo algumas manobras com meu skate, mas não! Eu tinha que tentar salvar a tua pele também! Agora vamos apanhar juntos! Ótimo, não é, Ben?
O gordo apenas olhava para baixo, pensativo. Ainda ofegando ruidosamente, claro.
- Eu sei que estão aí, atrás do ginásio. Saiam logo, ou iremos nós até aí! – gritou Budd. Aquilo era terrível. Eu continuava a dar sermão no Ben, até que ele, de repente, falou:
- Max, corre pra longe daqui. Eu atraso os caras.
- O quê???
Após falar isso, Ben saiu lentamente de nosso esconderijo. O gordo só podia ter ficado maluco. Bem, era melhor para mim. Agora bastava correr até o fim do beco e pular a cerca de sempre. Os caras iriam levar um bom tempo aplicando o cuecão no Ben (se é que os caras, desta vez, se limitariam a isso), então eu estava a salvo. Eu estava livre para fugir. Era bem o meu feitio fugir numa hora dessas, mas algo me fez permanecer lá, escondido. É claro que eu não iria pular para fora daquele cantinho atrás do ginásio por nada nesse mundo, mas eu quis, desesperadamente, saber o que aconteceria com o gordo. Talvez fosse só curiosidade. Talvez eu quisesse apenas ver uma briga. Ou talvez...
- Olha só o que temos por aqui! Watchosk, seu filho da mãe! Cadê o Carter? – perguntou Budd enquanto ele e seus capangas se aproximavam lentamente do pobre gordo, formando um circulo em volta dele pra que não pudesse fugir.
- O Max já foi embora. Deixem ele fora da jogada. Sou eu que vcs querem. Podem me bater. Eu não me importo.
Aquele gordo devia ter um parafuso a menos pra não se importar em levar uma bela surra e mais um cuecão pra finalizar. Por que é que ele sempre tentava bancar o durão? Budd fez uma cara de poucos amigos ao ouvir o que Ben falou. Pegou-o pelo colarinho e disse:
- Não desta vez, Watchosk. Acha mesmo que te bater vai anular cinco meses de atraso no pagamento da taxa? Mesmo se anulasse, acha mesmo que anulará, também, os cinco meses de atraso do Carter? A gente vai te bater, sim, mas a dívida continua a mesma. Além do mais, tem uma coisinha que o teu amiguinho precisa explicar melhor pra gente.
Aquilo não me cheirava bem. Tratei de me esconder melhor e continuei a ouvir.
- Dizem por aí que o Carter ta montando uma gangue barra pesada. Uns caras que se reúnem na casa abandonada do velho McCain pra fazer rituais de magia negra, brincadeiras de invocação com copos, canetas e essas coisas idiotas. Quem aquele perdedor pensa que é? Montando uma gangue na MINHA escola, bem debaixo do meu nariz?! O idiota precisa aprender uma lição. Quem manda nessa escola sou eu! – gritou o bully dando de dedo na cara do Ben. Por que é que sempre sobrava pra mim? E qual era a daqueles boatos idiotas? Rituais de magia negra? Agora eu tava mesmo ferrado. De repente, POW! O Budd acertou um soco bem na cara do Ben. O golpe fez um barulho absurdo que doeu até em mim. O gordo caiu todo torto no chão.
- Ei Budd, vamos dar um cuecão nele! – falou Billie Joe.
- Não. Desta vez o negócio vai ser diferente. Vamos acabar com esse gordo – Budd parecia sério. Pensei duas vezes e conclui que era melhor dar o fora daquele lugar o quanto antes. Os caras logo iam acabar com a raça do Bem e, fosse o que fosse que me manteve ali até aquele momento, não me mantinha mais. Levar um soco como aquele de graça? Sem chance!
Eis que, quando eu já estava com as mãos na grade, pronto pra fugir, escuto um barulho violento e abafado. Os valentões ficam em silêncio. Apontei até a borda do ginásio pra ver o que era: Johnny acabava de chegar, e o barulho se tratava de um soco que o mesmo acabava de acertar na parede. O cara tava com um cigarro na boca (em meio ao pátio da escola!). Budd e seus amigos mudaram de expressão de uma hora para a outra; de arrogantes a assustados. Johnny, calmamente, toma seu cigarro da boca, larga no chão, pisa e amassa devagar. Olha mais uma vez pros fanfarrões e diz com toda a calma do mundo:
- Sabem? Eu adoro uma boa briga. Boa briga é briga justa. Já me meti em tanta briga que nem lembro mais. E sabem o que eu mais odeio? Idiotas covardes como vc, Budd Tysel, que precisa de gangue pra bater em gente mais nova. Seu bando de perdedores filhos da mãe!
Nessa hora, Johnny se exalta e dá uma cuspida no chão, olhando para os vilões. Aquilo era um insulto muito sério. Budd e seus comparsas observavam boquiabertos. Johnny continua:
- E sabe do que mais? Valentões como vcs são, normalmente, o que eu como no jantar – Johnny tira a jaqueta de couro com muita calma. Joga-a para o canto, ergue os pulsos e aponta suas mãos fechadas para os fanfarrões – Quem é o primeiro? Ou melhor, por que não vêm os três juntos? Pra mim não faz diferença nenhuma. O diretor vive dizendo que eu sou um inútil. Pra provar o contrário, vou limpar o chão deste pátio com suas caras feias. Aposto que todo mundo da escola vai ficar muito feliz com isso. Vamos! Podem vir!
Os valentões trocam olhares duvidosos.
- Não temos medo de vc, Johnny Jones. Este colégio é nosso! O que estão esperando, seus babacas. Peguem ele! – gritou Budd para seus capangas. Spike foi o primeiro a responder:
- Vc ta brincando?? Vc não viu o que dizem por ai? Dizem que Johnny Jones trás sempre consigo um canivete ou até mesmo uma arma de fogo! Nem sonhando! O cara é osso duro!
- É. Dizem até que ele já matou um cara. Bate nele vc que é o líder – diz Billie Joe.
- Eu vou é dar o fora daqui! – gritou Spike, já dando as costas e batendo em retirada.
- Ei, espere por mim! – e Billie Joe seguiu o amigo covarde.
- Droga, seus idiotas! Voltem aqui! – ordenou Budd, mas sem chances daquilo acontecer.
De repente, era apenas Budd e Johnny. Aquela, sem duvida, seria uma briga espetacular! Melhor ainda que Johnny e Ray. Ainda bem que não fugi. Infelizmente, a briga não aconteceu. Budd disse:
- Desta vez passa. Mas fique sabendo, Johnny Jones: eu sei que vc saiu dos Caveiras. Não sei o que dá num cara pra sair da gangue mais temida da cidade. Só sei que o teu reinado acabou no momento em que deixou a gangue. Teu tempo já era. Agora, o dono desta escola sou eu, Budd Tysel! E da próxima vez a gente vai acertar as contas – e correu atrás de seus comparsas. Quem diria que Johnny era tão durão assim? Se eles soubessem da reação do cara na casa do velho McCain...
Johnny foi até Ben e estendeu a mão. O gordo virou a cara e disse:
- Eu não precisava da tua ajuda.
- Droga, garoto, o que deu em vc? Seu covarde! Por que não reagiu? Eles iam te bater de qualquer jeito – perguntou Johnny furioso.
Ben olhava apenas para o chão. Limpou o sangue que escorria pela boca com a manga da blusa e disse:
- Não é da tua conta.
Nesta hora, Johnny ergueu o punho violentamente como se fosse acertar um soco no coitado, que só fechou os olhos e virou a cara. Foi uma situação bem parecida com aquela vez, quando conhecemos Johnny. É claro que não rolou soco nenhum. Johnny apenas ameaçou pra ver a reação do Ben.
- Escuta garoto: eu sei que vc não quer brigar com ninguém, mas não é a gente que escolhe essas coisas. Às vezes, a gente precisa brigar pra ganhar respeito e evitar uma porção de outras brigas.
Ben abriu um dos olhos para se certificar de que saíra ileso do soco de Johnny.
- E daí? Não me importo – respondeu Ben de forma brusca, mas quase sussurrada. O cara era corajoso mesmo. Quase levou um soco do Johnny e agora bancava o durão. Se fosse eu, concordaria automaticamente com toda aquela lição de moral do Johnny só pra que acabasse mais rápido. É sempre assim que eu lido com broncas dos meus pais. O importante é encurtar o incomodo, por que acabar com ele, na maioria das vezes, incomoda ainda mais. Johnny acertou um tapa na cabeça do Ben. Nada muito sério. Só um tapa.
- Ai! Qual é a tua?
- Olha só, garoto, eu vi o que vc fez. Eu sei que o Max ta escondido ali. Vi que vc ia se sacrificar pra poupar o teu amigo. Isso é legal, mas eu não posso deixar que um cara que tem andado comigo seja zoado por um bando de perdedores como Budd Tysel e sua turma. Isso acabaria com a minha reputação, entende?
E eu que pensei estar bem escondido? Por via das dúvidas, preferi continuar ali, seguro em meu esconderijo.
- Ei Max, não ouviu? Pode sair daí. O idiota já foi embora! – gritou Johnny olhando para minha direção. Que porcaria de esconderijo era aquele! Sai com minha habitual cara de idiota.
- O negócio é o seguinte, galera: a Emily me pediu pra lembrá-los de que hoje é terça feira, ou seja, o dia da reunião semanal dos Escolhidos no galpão do McCain. Isso é um saco. Por que a Emily não sossega um pouco? Bem, de qualquer jeito, será uma boa oportunidade para nossas aulas, não acha, carinha? – Johnny olhou para Ben com um sorriso de meia boca. O gordo apenas fazia uma cara idiota de “Aulas? Do que é que vc ta falando?”.
- Isso mesmo. Aulas de autodefesa! Ah, qual é. Não me olhe com essa cara de criança gordinha que não ganhou chocolate. Vai ser importante pra vc. E se, na próxima vez, eu não estiver por perto? Quem vai proteger o Max? De qualquer jeito, é melhor que seja vc. O Max não tem cara de ser bom de briga, ahuahua.
Apenas fiquei em silêncio. Claro, vamos todos zoar o Max! Aquele dia foi uma droga. Nem ao menos pude assistir a briga entre Johnny e Budd! Eu não podia imaginar, mas ainda veria brigas muito mais emocionantes que esta. Aquela história não tava nem na metade.