quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ Aventuras no Fundo do Mar ~

E. e A. estavam numa parte muito especial daquele jardim. Havia uma grande piscina que tinha uma parte rasa e outra funda. Aquele lugar parecia até um parque aquático. Nossos heróis estavam na parte rasa quando, de repente, sai de dentro da água uma bela garota de olhos azuis. Disse que seu nome era Sirene, a Princesa Sereia. Contou que na parte mais funda daquela piscina havia um túnel que levava ao reino de Netuno, o rei dos mares, onde haveria uma festa e disse ainda que E. e A. eram convidados de honra.

A sereia deu aos nossos heróis dois comprimidos azuis. Eram comprimidos de oxigênio, e tomando um destes não precisariam respirar por uma hora. Agora de pulmões cheios, mergulharam fundo. No oitavo metro debaixo da água, encontraram um pequeno túnel por onde passava apenas um de cada vez.

O túnel acabou no mar. Era um espaço infinito e escuro, repleto de cardumes de peixinhos coloridos, golfinhos, baleias, medusas, arraias e todo o tipo de bichos do mar. Nadaram até encontrar as ruínas aquáticas do reino de Netuno. Eram varias construções ao estilo grego, sustentadas por colunas de marfim cobertas por musgo e cercadas por belos recifes de coral. Assim que chegaram ao palácio, foram anunciados ao rei, um velho gigantesco com seu tridente e um sorriso bonachão. O rei, então, mandou a princesa conduzir os convidados até o salão de festas onde haveria o banquete.

Havia todo o tipo de frutos do mar. Tudo parecia muito apetitoso. E. resolveu perguntar qual era o motivo da festa. Netuno respondeu “Mas que motivo haveria, pequeno terráqueo, que não teu casamento com minha adorável filha?”.

Sirene era uma bela sereia, mas E. explicou que aquilo seria impossível, pois já havia prometido seu primeiro beijo à A. no dia dos namorados. Nossos heróis não podiam imaginar o quanto a princesa dos mares era ciumenta. Sirene bateu seu pequeno sino dourado e um gigantesco polvo entrou pela porta principal. A sereia disse a seu servo marítimo, apontando para A.:

- Leve esta garota daqui. Prenda-a na masmorra até que morra afogada. Não tolero concorrência. Sou a princesa do mar e tudo que está no mar é meu. Só meu.

Foi fácil para o polvo, com seus oito tentáculos, imobilizar a pobre A. e levá-la para a masmorra do palácio. E. tentou fugir, mas era inútil. Pode sair do palácio, mas o mar era escuro e gigantesco e jamais lembraria o caminho de volta até o túnel. Nadou ao léu até acabar o efeito do comprimido de oxigênio. Desesperado, tentou nadar até a superfície, mas era impossível. A superfície estava a tantos metros acima que não era possível nem mesmo ver a luz do sol. E. nadou e se debateu até que perdesse as forças. Aquele era seu fim.

E. forçou seu retorno. Era a primeira vez que o Mundo 2 mostrava suas garras ao nosso herói.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ A Floresta das Ilusões ~

Deitada em sua cama, A. olhava para o teto de seu quarto e pensava nas coisas como sempre fazia antes de dormir. De repente, A. sentiu que havia algo estranho acontecendo. Estava afundando na cama, como se houvesse um buraco no colchão. A menina tentou se segurar nos lençóis, mas estes também foram lentamente dragados pelo colchão. Após ser engolida pela própria cama, A. caiu. Uma queda longa que a fez sentir calafrios na barriga. Lá no fundo deste imenso buraco (ou seja lá o que fosse), A. viu outra A. deitada sobre outra cama, dormindo. A. caiu sobre a outra A. e as duas se tornaram uma.

Assim que acordou, A. se viu vestindo uma longa camisola branca e um par de pantufas. Estava em um quarto que não era o seu. Um quartinho pequeno, das cores branco e rosa. A menina se levantou e andou pelo quartinho. Estava em uma casa de bonecas no meio de uma grande floresta. Pela janela, A. via apenas árvores e folhas secas sobre o chão. Aquela era a Floresta das Ilusões.

De repente, começaram a sair de todos os lugares belas bonecas com vestidos rendados, cabelos cacheados, olhos brilhantes cobertos por cílios longos e curvados e bochechas avermelhadas. Fizeram uma cortês reverência à menina e disseram:

- Bom dia, Princesa. Dormiu bem? Temos biscoitos esperando pela senhorita. Logo pentearemos seus cabelos e a vestiremos como a princesa que é.

A. não entendeu o que estava acontecendo. Seria mesmo uma princesa? As bonecas explicaram que sim, este é o título com que elas deviam tratar sua dona até que esta casasse, para então receber o titulo de Senhora Rainha. Aquelas eram as bonecas de Pierot, um belo mágico que morava num castelo flutuante e fazia bonecas dotadas de vida para servirem suas amantes, mas A. nunca nem ao menos viu o tal mago. Como poderia ser amante de alguém assim? A. comeu alguns biscoitos e partiu à procura do jardim onde estavam os seus amigos. Levou consigo apenas a boneca Blanche, a de cachinhos louros e olhos verdes. As demais deveriam cuidar da Casa de Bonecas.

Enquanto caminhavam pela mata, uma fadinha brilhante sobrevoou a cabeça de A. Aquela era Jingle Twingles, a fada mais levada de toda a floresta. Uma fadinha estranha com olhos de inseto. Blanche contou que aquela fada havia até mesmo sido expulsa do Bosque das Fadas pela Rainha Titânia por suas brincadeiras cruéis. Jingle Twingles disse para A.:

- Escute menina, estou entediada. Vamos brincar de esconde-esconde, está bem? Você procura, é claro. Vamos, vai ser divertido! ...Não? Pois bem, se é assim que quer, terei que pegar pesado com você. Enquanto não me encontrar, usarei minha magia para fazer com que se perca pelo bosque e fique presa aqui para sempre. Pronta? Aqui vou eu!

A. não podia encontrar a fadinha levada em lugar nenhum, nem ao menos fugir por já estava sob o feitiço de Jingle Twinkles. A. se sentou sob uma árvore e se pôs a chorar. Blanche lamentou não ter trazido um lenço para sua princesa. Eis que, então, pousa uma grande coruja com um par de óculos sobre a árvore em que A. estava e disse:

- Hoo hoo! Olá, minha cara jovem, o que uma bela menina e sua boneca fazem numa floresta como esta? Há um portal que leva ao seu jardim logo ali em frente e... O que? Jingle Twinkles fez uma coisa terrível dessas? Aquela fadinha levada! Não se preocupe, vê aquela árvore oca ali? Aposto que ela esta lá. Agora senhoritas, se não se importam, receio que preciso, o quanto antes, voltar à minha biblioteca. Adeus e boa sorte! Hoo hoo!

A. enfiou a mão pelo buraco da árvore e tirou Jingle Twinkles de seu esconderijo. A fada acusou a menina de roubar no jogo e disse que não a libertaria de sua maldição. A fadinha, agora presa em sua mão, era tão frágil que A. decidiu quebras seu braço esquerdo. Foi como quebrar um graveto. Explicou à fadinha que quebraria cada um de seus membros lentamente até que fosse libertada do feitiço. Jingle Twinkles gritou, chorou e prometeu nunca mais se meter com A.

Em frente, A. encontrou uma grande e maciça porta de madeira no centro de uma clareira. Aquele devia ser o portal do qual o Mestre Coruja falara. A. poderia, então, aproveitar o resto de seu tempo no jardim com seus amigos.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~A. em apuros ~

A. e J. caminhavam pelo jardim. J. era a melhor amiga de A. Era a garota mais bonita daquele jardim. Tinha cabelos dourados e grandes olhos da cor do mel. Usava um adorável vestidinho de verão e sua pele tinha cheiro de protetor solar. Caminhando por este jardim, as duas meninas encontraram uma criação de lindos coelhinhos presos por uma cerca de arame farpado. A. quis um para si, mas J. explicou que aqueles coelhos eram de E., o novo rei dos animais que matou o antigo rei com um taco de beisebol. A única forma de ter um daqueles coelhos seria pedindo um coelho de presente ao novo rei. O problema é que E. era um garoto violento e um pouco cruel. A. sentia um pouco de medo de E., mas, mesmo assim, resolveu tentar.

As duas garotas partiram para o Trono Selvagem. Lá, encontraram E. em seu trono, com uma capa vermelha enrolada no pescoço e a pesada coroa do rei dos animais sobre a cabeça. Vários animais assustadores estavam em volta do rei, como lobos, onças, touros, javalis e gorilas. J. disse à corte que A. queria um coelhinho de E. O garoto pensou, olhou para as duas meninas e perguntou:

- Vocês são virgens?

J. se apressou em dizer que não. A pobre A. não sabia o que era isso e apenas ficou calada. E. concluiu que sim, A. era virgem. Dois gorilas apanharam A. pelos braços e E. disse:

- Que conveniente! Há tempos devo uma virgem como sacrifício a King Kong. O velho macaco deve estar morrendo de fome. Animais, façam os preparativos! Teremos um sacrifício esta noite!

Os animais celebraram e A. foi levada até o covil do King Kong. Foi amarrada em um grande tronco entre um circulo de tochas, em frente à caverna do grande gorila. Era lua cheia – a lua perfeita para fazer oferenda aos deuses. As cordas estavam tão apertadas que machucavam os pulsos e os tornozelos de A. De repente, J. apareceu, com roupas indígenas, o rosto pintado, uma pena na cabeça e um coelhinho branco nos braços. Disse que E. a tinha pedido em namoro e que havia aceitado, e que ele havia lhe dado todos os seus coelhos.

J. falou, enquanto passava pimenta no corpo de A.:

- Não grite, pois isso apenas deixará o King Kong mais enfurecido, o que te fará sofrer mais. Lembre-se de chorar baixinho.

Barulhos estranhos vinham da toca do King Kong. Os macacos tocavam freneticamente os tambores da selva. A. nunca havia sentido tanto medo. A menina fechou os olhos e tentou acordar com toda a força.

Desconectada. O Mundo 2, às vezes, podia ser realmente assustador.

Crônicas do Mundo 2

~Enquanto isso, no Mundo 1...~
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E. desceu até o 305 no terceiro andar. Lá era o quarto de A. Assim que entrou, deparou-se com A. deitada em sua maca, com um pijama cor-de-rosa, grandes óculos de grau e um computador sobre o colo. Ela passava a maior parte do tempo naquele computador. Os pais de A. estranharam e perguntaram a E. quem era afinal. A. se apressou em dizer que era um amigo de escola que veio visitá-la. Os pais desceram até a lanchonete tomar um café, e A. e E. tiveram um momento a sós, mas A. era muito tímida no Mundo 1 e não falou quase nada. Pediu para E. que voltassem a se encontrar somente no Mundo 2.

E. voltou para seu quarto.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ Em busca de Papai Noel ~

A. podia jurar ter visto, por um momento, o gorro vermelho de Papai Noel aparecer sobre o teto da casa. Ninguém sabia onde o Papai Noel se escondia até a hora de entregar os presentes, mas A. sempre desconfiou que fosse em cima da casa, sobre o telhado. E. e A. decidiram verificar. Escondidos (pois subir no telhado era muito perigoso), decidiram subir no muro para, então, subir no telhado do vizinho que era mais baixo e, assim, subir no telhado da casa. De fato, Papai Noel estava lá, bem no centro da casa (para não ser visto pelas crianças que só podiam enxergar o que estivesse na borda do telhado), sentado e comendo os doces de seu grande saco de guloseimas.

Assim que o bom velhinho percebeu que foi descoberto, tirou de seu saco mágico uma porção de balões coloridos e, com eles, saltou do telhado e flutuou para longe no céu. A. e E. mal podiam acreditar naquilo. Desceram e contaram para todo mundo sobre Papai Noel. Alguns acreditaram e outros não.

Assim que anoiteceu e a festa começou, A. chamou E. para longe das demais crianças que brincavam e perguntou “E. você consegue ouvir?”.

Era uma musiquinha natalina igual a das árvores de natal. Procuraram por todos os cômodos, esperando descobrir de onde viria a melodia. Concluíram que vinha do forro da casa. A única passagem para o forro daquela casa era no quarto da avó.

Escondidos dos adultos, os dois pegaram a escada dos pintores e, com ela, subiram até a portinha no teto de dava pro forro. A. sabia que era um lugar horrível, cheio de ratos e baratas gigantes. Naquele lugar escuro e de teto baixo estava Papai Noel, sentado, comendo doces enrolado em um monte de luzinhas natalinas que clareavam o ambiente. O velho disse:

- Ho ho ho! Vocês venceram, crianças. Tomem seus presentes adiantado. E não contem para ninguém onde me escondo, está bem?

A. e E. foram os únicos a ganhar presente antes da meia noite. Assim que entregou os presentes, Papai Noel tirou de seu bolso um saquinho de pó mágico. Jogou o pó sobre sua cabeça e sumiu lentamente, fazendo “Oh, ho, ho!”. O melhor de tudo é que o velhinho esqueceu o saco de doces. Os dois comeram balas, pirulitos, e chicletes até terem dor de dente.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ Caçando um Leão ~

A. queria um presente, e não era qualquer presente. A. queria um coelhinho. Explicou para E. que, para ter um coelho, era preciso ser rei dos animais. Para isso, precisariam matar o Rei Leão, atual rei dos animais que morava em um lugar chamado Trono Selvagem. Por sorte K. estava por perto e poderia ajudá-los nessa caça. K. era legal. Era um menino maneiro, mais velho, mas o mais legal nele é que ele podia se transformar no Jaspion, e isso ajudaria muito na hora de abater o Rei Leão.

Havia um portão no jardim que dava para uma selva tropical. O guardião deste portão era Maitomashin, um robô gigante, do tamanho de uma casa, das cores vermelho, preto, branco e azul. Era um dos 74 deuses do panteão do Mundo 2 e também era um dos Defensores de Tóquio. K. explicou a situação e Maitomashin os deixou passar.

E. levava consigo um taco de beisebol e a tampa da lata de lixo que serviria como escudo. A. trazia um tijolo e K. apenas se transformaria quando a hora chegasse. O Trono Selvagem era lar de toda a corte do reino animal, incluindo os ursos, os tigres, os lobos e os rinocerontes. Por sorte, o Rei Leão estava gripado, o que não o deixava rugir, pois tossia, nem soprar fogo, pois espirrava. E. acertava várias tacadas no bicho, até que ele caiu no chão. A. foi rápida, arremessou o tijolo com toda a força sobre a cabeça do Rei Leão e o matou.

E. tomou a pesada coroa do bicho, a pôs na cabeça e se tornou o novo rei dos animais. A. ganhou uma criação inteira de coelhinhos brancos, pretos e malhados e ficou muito feliz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Crônicas do Mundo 2

~ O Aniversário de E. e o Rei Pavão ~
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Da janela do hospital, E. pode ver um belo jardim, onde encontra pavões, flamingos, tucanos, araras, beija-flores e até mesmo dodós. O jardim é belo, com um gramado grande, muitas árvores, flores coloridas e um parquinho com vários brinquedos. Enfim, são quatro horas e a empregada chama E. para o chá da tarde. Tinha topo o tipo de guloseimas, doces, bolachas, bolos, salgadinhos e refrigerantes. E. pergunta, ao reparar na vela sobre o bolo “É aniversário de quem?”. As empregadas riem e dizem “Surpresa!”. Então, todos os amigos de E. se revelam. Isso é ótimo! Tem um chapéu de festa roxo sobre sua cabeça. E. e seus amigos comem até terem dor de barriga. Então, as empregadas levam todos para o Salão Imperial, onde E. abre seus presentes.

E. ganha bonecos, carrinhos, jogos, giz de cera, canetinhas e um videogame novinho em folha. O palhaço agora leva todos para fora onde haverá as brincadeiras. Uns brincam com as novas armas de água de E. Outros com os balões. Outros com a bola nova e algumas meninas brincavam com bonecas. Há até quem faça concurso de desenhos.

Na hora do esconde-esconde, E. decide se esconder embaixo da mesa dos salgadinhos. É lá, coberto pelo pano de mesa, E. conheceu A.

A. era uma menina legal que tinha uma bola verde e era boa em videogames. Explicou para E. que sua bola verde era mágica, e que a tinha roubado do mágico Houdini numa outra festa. Um de seus poderes mágicos era sempre voltar para sua mão. A. era muito esperta e fez com que E. batesse o salva-todos.

A. teve a idéia de brincar de caça ao tesouro. Naquele jardim havia um tesouro escondido. O tesouro de Suzaku, o rei dos pássaros; um dos 73 deuses do panteão do Mundo 2. Todos procuravam pistas como bobos, atrás dos arbustos, embaixo das mesas e sobre as árvores, mas A. sussurrou no ouvido de E. “Siga as penas fosforescentes”. E. seguiu a trilha de penas brilhantes que estavam esparramadas pelo chão e encontrou uma passagem secreta no muro, coberta pelas trepadeiras.

Naquele esconderijo secreto, Suzaku, um pavão gigante com uma cauda de sete cores e uma pequena coroa na cabeça dançava sobre seu baú dourado.

- Feliz aniversário, pequeno E. Meus parabéns, e aceite estas Tintas Celestes como meu presente.

E milhões de cores brilhantes voaram para fora do baú, deixando A. e E. encantados. As tintas deixaram o céu cor de rosa, a grama amarela e os cabelos de A. e E. verdes. Os dois deitaram sobre a grama e apreciaram as novas cores do mundo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O fim do mundo, cap. 16

- Tem certeza que este é o cara Emily?
- Sim, tenho.
- Bem Max, até agora a Emily não se enganou nenhuma vez não é? – falou Ray.
- É ele sim. Lembro com clareza dele no meu sonho – comentou Claire.
Ótimo, tudo o que a gente precisava: mais um esquisito pro nosso grupo. Estávamos no refeitório. Era horário de almoço, e numa mesa no canto do salão sentava sozinho o Oitavo Escolhido. Nunca vi o cara em lugar nenhum. Devia ser novo no colégio. Era alto, magrelo, com um pescoço alongado e com uma postura horrível. Usava uns óculos fundo de garrafa e estava entretido jogando um vídeo game portátil. Quem é o cara que trás um vídeo game portátil pra escola? Aquele devia ser o maior nerd de nosso colégio.
- Ta legal Max, sabe o que fazer – disse Emily.
Estávamos eu, Emily, Claire e Ray na mesa. Os três me encaravam com a mesma cara de “vai Max!”.
- Ah, que situação idiota, mas eu sei que vcs não vão me deixar em paz até que seja feito. É melhor que venha alguém comigo pra dividir a vergonha.
Emily se dispôs. Andamos até a mesa do cara que nem ao menos tirou os olhos daquele jogo para ver quem se aproximava.
- Olá. Eu sou Emily e este é Max. Nós somos do primeiro ano e temos algo muito importante pra tratar com vc.
O cara olha pra Emily de canto de olho. O que significava aquilo?
- Vai Max, explica pra ele.
- Então, negócio é o seguinte: essa história é bem maluca, mas essa garota aqui – apontei para Emily – não vai me deixar em paz até que tudo seja dito, então presta atenção...
Comecei a contar toda a história pro cara. Alienígenas, portais interdimensionais, etc. Mas o infeliz não tirava os olhos daquele joguinho idiota. De repente, na hora que eu tava falando dos Escolhidos, o cara levanta da cadeira num pulo, joga a mão pra cima e diz:
- É isso aí. Consegui!
Olhei pra garota pra ver o que ela pensava. Estava indiferente como sempre.
- Ta maluco? Conseguiu o que?
- Olhe só – disse o cara me apontando aquele vídeo game – consegui! É o Totomon #201. Sabe o quanto foi difícil achar esse Totomon? Sabe que as chances de encontro deste Totomon nesta dungeon são de 1/128? Beleza! Faz meses que to procurando esse bicho! Yes!!! Bem, sinto muito, mas estarei ocupado capturando esta belezinha durante os próximos minutos. Se não se importam, falaremos depois.
O quê? Totomon? Como um cara de, no mínimo, dezesseis anos ainda brincava de Totomon? Aquilo só podia ser brincadeira.
- Droga, não me diga que ele não prestou atenção nenhuma ao que eu falei?
- Tenha calma, Max. Com licença, mas quantas vezes você encontra um Totomon por minuto nesta dungeon? – perguntou Emily pro nerd esquisitão.
- Uma média e cinco a sete.
- Droga Emily, o que isso tem haver com a história?
- Bem, se ele só tem uma chance em cento e vinte e oito de conseguir o que ele quer, e só pode tentar de cinco a sete vezes por minuto, então ele deve ta procurando faz um bom tempo e acaba de achar. Pode não ser uma mera coincidência. Melhor esperar ele capturar o Totomon. Ainda temos tempo para explicar a situação.
Aquilo era muito idiota. Totomon? O cara conseguia ser mais perdedor que qualquer um de nós. Emily esperou em silêncio o cara pegar o tal Totomon. Eu já tava doidinho pra voltar à minha mesa aproveitar o tempo que sobrava pro almoço. Nesse meio tempo, Claire e Ray vieram atrás de nós.
- Olá! Meu nome é Ray Taylor. Sei que parece difícil de acreditar nessa história, mas eu acredito. Também estou nessa, e este cara – Ray pos a mão sobre meu ombro de forma simpática – é o nosso líder.
Indiferença total por parte do nerd. O cara só pensava no tal Totomon número duzentos e um. E desde quanto todo mundo me considerava o líder daquela balela toda?
- Oi! Eu sou Claire Campbell, mas vc deve saber quem eu sou né? Olha, eu também acredito com todo o meu coração no que o Max te disse. O que vc acha de fazer parte do nosso grupo? Garanto que vc vai se divertir a beça com a gente!
O esquisitão lentamente desvia seus olhos para o sorriso simpático da Claire. Analisa bem a garota, dá uma franzida na testa e diz:
- Sinto muito, mas acho que não nos conhecemos. Agora, se me permitem, preciso usar toda a minha concentração nesta captura. Hum... Meu Totomon está paralisado. Preciso trocá-lo, mas por qual? Hum... Vejamos... Este é bom, mas ta com pouco life. Hum... Vejamos...
A Claire ainda sorria, mas com uma cara engraçada de espanto. Não é por menos. Quem não conhecia Claire Campbell? Principalmente em nossa cidade? O cara só devia pensar em vídeo games mesmo. Tava cansado de esperar o perdedor ser feliz com seu joguinho, então apressei as coisas.
- Olha, negócio é o seguinte: Os únicos que podem parar os alienígenas somos nós, os Escolhidos. Se vc acredita nisso, me procure quando acabar com teu joguinho. Se não acredita, azar o teu – falei, já dando as costas e voltando para meu almoço.
- Espera Max, isso não ta certo. Ele não ta prestando atenção em vc. Não é melhor a gente esperar?
- Ah, qual é Emily? Não é vc quem vive dizendo que eu tenho o poder do convencimento? Se o cara for mesmo um dos escolhidos, deve ter entendido a situação. E olha, to perdendo meu horário de almoço. Até mais!
- Espere! – eu já tava tomando meu caminho de volta, quando o esquisito chamou.
- O que é?
- Vc tem como provar o que ta dizendo?
- Como é que é???
- Digo, a premissa é boa. Dava um bom enredo de vídeo game. Quase um Mother, mas vc tem como provar via método empírico o que ta me dizendo? Não acredito em nada que não possa ser comprovado. Assim age um bom cientista.
- Método o quê??
- Método empírico, Max. Ele quer uma prova real de que o que estamos falando é verdadeiro. Desculpe. A única prova que temos é o Canal X. Se vc conseguir sintonizá-lo esta noite, bastará como prova? – falou Emily.
Ótimo, o cara sabia falar difícil, mas e daí? Isso só fazia dele um cara mais perdedor ainda.
- É instigante, mas não podemos garantir que os humanos do futuro estejam realmente certos. Pelo que entendi, algo pode ter mudado na nossa época pois o simples fato de sabermos destes acontecimentos já pode mudar a trajetória normal dos fatos no tempo. De qualquer forma, tentarei sintonizar este canal ainda hoje. Relatarei como foi a experiência amanhã. Até lá, passem bem.
Emily e eu trocamos olhares. Ela sorri aquele sorriso de sempre, com uma cara de “missão cumprida”.
- Espere! A gente ainda nem sabe teu nome – disse Ray.
- Eu sou Dwight Elliot e estou no segundo ano. Agora, se não se importam, preciso MESMO capturar este Totomon.
Ótimo. Mais um perdedor para nosso grupo.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Reflexo

Eu me amo - isto não é vaidade.
Me amo como amaria outra pessoa.
É uma relação conturba
repleta de crises, dramas, exigências e acusações infundadas.
Eu me odeio
Mas, no fundo, sei que me amo
E que não posso viver sem mim.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O fim do mundo, cap. 15

Ben e eu estávamos em uma enrascada. E das grandes.
- Watchosk! Carter! Eu sei que estão por aí! Apareçam, seus maricas! – gritou Budd Tysel do meio do pátio de nossa escola.
- Vcs podem fugir, mas não podem se esconder, ehehe – falou Spike, o louro fanfarrão.
- Não é o contrário? Digo: “Vcs podem se esconder, mas não podem fugir”? Por que, tipo assim, os caras já se esconderam – corrigiu Billie Joe.
- Calem a boca, idiotas, e procurem os frangotes! – urrou Budd para seus comparsas.
Tudo começou quando, acidentalmente, Ben e eu nos deparamos com os valentões durante o intervalo. A gente não pagava a taxa de segurança desde que nos tornamos Escolhidos, e Budd não gostava nada disso. O cara deixou claro: na saída da aula, ou a gente pagava os cinco meses atrasados – e com juros – ou a gente levaria a maior surra de nossas vidas. Eu não tava inclinado a nenhuma destas alternativas, então peguei Ben e decidi me esconder atrás do ginásio. O problema é que o gordo, como o bom gordo que era, se atrasou na hora da corrida até o esconderijo, o que fez com que Spike pudesse perceber um vulto se refugiando atrás do ginásio. Nesse momento, os caras se dirigiam até onde estávamos. Era nosso fim.
- Viu, gordo?! Se vc não corresse feito uma velha, a gente podia ter escapado ileso! – reclamei, sussurrando.
Ben não respondia. Só suava como um porco ofegante devido à corrida e observava a situação. Continuei:
- E agora, o que a gente vai fazer? Droga, o que deu em mim? Por que foi que eu te trouxe comigo? Eu já podia ter pulado a cerca e, neste momento, estaria fazendo algumas manobras com meu skate, mas não! Eu tinha que tentar salvar a tua pele também! Agora vamos apanhar juntos! Ótimo, não é, Ben?
O gordo apenas olhava para baixo, pensativo. Ainda ofegando ruidosamente, claro.
- Eu sei que estão aí, atrás do ginásio. Saiam logo, ou iremos nós até aí! – gritou Budd. Aquilo era terrível. Eu continuava a dar sermão no Ben, até que ele, de repente, falou:
- Max, corre pra longe daqui. Eu atraso os caras.
- O quê???
Após falar isso, Ben saiu lentamente de nosso esconderijo. O gordo só podia ter ficado maluco. Bem, era melhor para mim. Agora bastava correr até o fim do beco e pular a cerca de sempre. Os caras iriam levar um bom tempo aplicando o cuecão no Ben (se é que os caras, desta vez, se limitariam a isso), então eu estava a salvo. Eu estava livre para fugir. Era bem o meu feitio fugir numa hora dessas, mas algo me fez permanecer lá, escondido. É claro que eu não iria pular para fora daquele cantinho atrás do ginásio por nada nesse mundo, mas eu quis, desesperadamente, saber o que aconteceria com o gordo. Talvez fosse só curiosidade. Talvez eu quisesse apenas ver uma briga. Ou talvez...
- Olha só o que temos por aqui! Watchosk, seu filho da mãe! Cadê o Carter? – perguntou Budd enquanto ele e seus capangas se aproximavam lentamente do pobre gordo, formando um circulo em volta dele pra que não pudesse fugir.
- O Max já foi embora. Deixem ele fora da jogada. Sou eu que vcs querem. Podem me bater. Eu não me importo.
Aquele gordo devia ter um parafuso a menos pra não se importar em levar uma bela surra e mais um cuecão pra finalizar. Por que é que ele sempre tentava bancar o durão? Budd fez uma cara de poucos amigos ao ouvir o que Ben falou. Pegou-o pelo colarinho e disse:
- Não desta vez, Watchosk. Acha mesmo que te bater vai anular cinco meses de atraso no pagamento da taxa? Mesmo se anulasse, acha mesmo que anulará, também, os cinco meses de atraso do Carter? A gente vai te bater, sim, mas a dívida continua a mesma. Além do mais, tem uma coisinha que o teu amiguinho precisa explicar melhor pra gente.
Aquilo não me cheirava bem. Tratei de me esconder melhor e continuei a ouvir.
- Dizem por aí que o Carter ta montando uma gangue barra pesada. Uns caras que se reúnem na casa abandonada do velho McCain pra fazer rituais de magia negra, brincadeiras de invocação com copos, canetas e essas coisas idiotas. Quem aquele perdedor pensa que é? Montando uma gangue na MINHA escola, bem debaixo do meu nariz?! O idiota precisa aprender uma lição. Quem manda nessa escola sou eu! – gritou o bully dando de dedo na cara do Ben. Por que é que sempre sobrava pra mim? E qual era a daqueles boatos idiotas? Rituais de magia negra? Agora eu tava mesmo ferrado. De repente, POW! O Budd acertou um soco bem na cara do Ben. O golpe fez um barulho absurdo que doeu até em mim. O gordo caiu todo torto no chão.
- Ei Budd, vamos dar um cuecão nele! – falou Billie Joe.
- Não. Desta vez o negócio vai ser diferente. Vamos acabar com esse gordo – Budd parecia sério. Pensei duas vezes e conclui que era melhor dar o fora daquele lugar o quanto antes. Os caras logo iam acabar com a raça do Bem e, fosse o que fosse que me manteve ali até aquele momento, não me mantinha mais. Levar um soco como aquele de graça? Sem chance!
Eis que, quando eu já estava com as mãos na grade, pronto pra fugir, escuto um barulho violento e abafado. Os valentões ficam em silêncio. Apontei até a borda do ginásio pra ver o que era: Johnny acabava de chegar, e o barulho se tratava de um soco que o mesmo acabava de acertar na parede. O cara tava com um cigarro na boca (em meio ao pátio da escola!). Budd e seus amigos mudaram de expressão de uma hora para a outra; de arrogantes a assustados. Johnny, calmamente, toma seu cigarro da boca, larga no chão, pisa e amassa devagar. Olha mais uma vez pros fanfarrões e diz com toda a calma do mundo:
- Sabem? Eu adoro uma boa briga. Boa briga é briga justa. Já me meti em tanta briga que nem lembro mais. E sabem o que eu mais odeio? Idiotas covardes como vc, Budd Tysel, que precisa de gangue pra bater em gente mais nova. Seu bando de perdedores filhos da mãe!
Nessa hora, Johnny se exalta e dá uma cuspida no chão, olhando para os vilões. Aquilo era um insulto muito sério. Budd e seus comparsas observavam boquiabertos. Johnny continua:
- E sabe do que mais? Valentões como vcs são, normalmente, o que eu como no jantar – Johnny tira a jaqueta de couro com muita calma. Joga-a para o canto, ergue os pulsos e aponta suas mãos fechadas para os fanfarrões – Quem é o primeiro? Ou melhor, por que não vêm os três juntos? Pra mim não faz diferença nenhuma. O diretor vive dizendo que eu sou um inútil. Pra provar o contrário, vou limpar o chão deste pátio com suas caras feias. Aposto que todo mundo da escola vai ficar muito feliz com isso. Vamos! Podem vir!
Os valentões trocam olhares duvidosos.
- Não temos medo de vc, Johnny Jones. Este colégio é nosso! O que estão esperando, seus babacas. Peguem ele! – gritou Budd para seus capangas. Spike foi o primeiro a responder:
- Vc ta brincando?? Vc não viu o que dizem por ai? Dizem que Johnny Jones trás sempre consigo um canivete ou até mesmo uma arma de fogo! Nem sonhando! O cara é osso duro!
- É. Dizem até que ele já matou um cara. Bate nele vc que é o líder – diz Billie Joe.
- Eu vou é dar o fora daqui! – gritou Spike, já dando as costas e batendo em retirada.
- Ei, espere por mim! – e Billie Joe seguiu o amigo covarde.
- Droga, seus idiotas! Voltem aqui! – ordenou Budd, mas sem chances daquilo acontecer.
De repente, era apenas Budd e Johnny. Aquela, sem duvida, seria uma briga espetacular! Melhor ainda que Johnny e Ray. Ainda bem que não fugi. Infelizmente, a briga não aconteceu. Budd disse:
- Desta vez passa. Mas fique sabendo, Johnny Jones: eu sei que vc saiu dos Caveiras. Não sei o que dá num cara pra sair da gangue mais temida da cidade. Só sei que o teu reinado acabou no momento em que deixou a gangue. Teu tempo já era. Agora, o dono desta escola sou eu, Budd Tysel! E da próxima vez a gente vai acertar as contas – e correu atrás de seus comparsas. Quem diria que Johnny era tão durão assim? Se eles soubessem da reação do cara na casa do velho McCain...
Johnny foi até Ben e estendeu a mão. O gordo virou a cara e disse:
- Eu não precisava da tua ajuda.
- Droga, garoto, o que deu em vc? Seu covarde! Por que não reagiu? Eles iam te bater de qualquer jeito – perguntou Johnny furioso.
Ben olhava apenas para o chão. Limpou o sangue que escorria pela boca com a manga da blusa e disse:
- Não é da tua conta.
Nesta hora, Johnny ergueu o punho violentamente como se fosse acertar um soco no coitado, que só fechou os olhos e virou a cara. Foi uma situação bem parecida com aquela vez, quando conhecemos Johnny. É claro que não rolou soco nenhum. Johnny apenas ameaçou pra ver a reação do Ben.
- Escuta garoto: eu sei que vc não quer brigar com ninguém, mas não é a gente que escolhe essas coisas. Às vezes, a gente precisa brigar pra ganhar respeito e evitar uma porção de outras brigas.
Ben abriu um dos olhos para se certificar de que saíra ileso do soco de Johnny.
- E daí? Não me importo – respondeu Ben de forma brusca, mas quase sussurrada. O cara era corajoso mesmo. Quase levou um soco do Johnny e agora bancava o durão. Se fosse eu, concordaria automaticamente com toda aquela lição de moral do Johnny só pra que acabasse mais rápido. É sempre assim que eu lido com broncas dos meus pais. O importante é encurtar o incomodo, por que acabar com ele, na maioria das vezes, incomoda ainda mais. Johnny acertou um tapa na cabeça do Ben. Nada muito sério. Só um tapa.
- Ai! Qual é a tua?
- Olha só, garoto, eu vi o que vc fez. Eu sei que o Max ta escondido ali. Vi que vc ia se sacrificar pra poupar o teu amigo. Isso é legal, mas eu não posso deixar que um cara que tem andado comigo seja zoado por um bando de perdedores como Budd Tysel e sua turma. Isso acabaria com a minha reputação, entende?
E eu que pensei estar bem escondido? Por via das dúvidas, preferi continuar ali, seguro em meu esconderijo.
- Ei Max, não ouviu? Pode sair daí. O idiota já foi embora! – gritou Johnny olhando para minha direção. Que porcaria de esconderijo era aquele! Sai com minha habitual cara de idiota.
- O negócio é o seguinte, galera: a Emily me pediu pra lembrá-los de que hoje é terça feira, ou seja, o dia da reunião semanal dos Escolhidos no galpão do McCain. Isso é um saco. Por que a Emily não sossega um pouco? Bem, de qualquer jeito, será uma boa oportunidade para nossas aulas, não acha, carinha? – Johnny olhou para Ben com um sorriso de meia boca. O gordo apenas fazia uma cara idiota de “Aulas? Do que é que vc ta falando?”.
- Isso mesmo. Aulas de autodefesa! Ah, qual é. Não me olhe com essa cara de criança gordinha que não ganhou chocolate. Vai ser importante pra vc. E se, na próxima vez, eu não estiver por perto? Quem vai proteger o Max? De qualquer jeito, é melhor que seja vc. O Max não tem cara de ser bom de briga, ahuahua.
Apenas fiquei em silêncio. Claro, vamos todos zoar o Max! Aquele dia foi uma droga. Nem ao menos pude assistir a briga entre Johnny e Budd! Eu não podia imaginar, mas ainda veria brigas muito mais emocionantes que esta. Aquela história não tava nem na metade.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Schwarzenegger

Uma terra vazia de significado.
Mil significações diferentes = 0
Este sou eu e você também.
Você, daqui,
Sabe o que é estar preso num cubo mágico
Eis a nova linguagem, que como queriam os lingüistas da nova leva
Não diz nada.
Absolutamente nada. E não há nada melhor que isso.
{nós [você (eu) eu] ...}
“Sabe? Não há teoria que supere a solidão” – vã filosofia.
“...”
And you know there’s no meaning at all
E isso conforta teus impulsos estéticos
Mas no fundo, não há pé nem cabeça.
Não há começo nem fim.
Infinito. Isso dói.
Como em teus sonhos, mas na realidade.
: falando nisso, e pensar que eu tive uma porra de sonho com o Schwarzenegger, gordo, fazendo drama.
Isso sim é que não faz sentido nenhum.
Who cares?


G

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O fim do mundo, cap. 14

- Droga Emily, é isso que vc chama de base secreta? – perguntou Johnny irritado.
- Desculpa gente, mas acho que não vou com vcs. Esse lugar parece assustador... – comentou Claire.
- Vamos lá gente, vai ser divertido! Pensem que será uma grande aventura. Aposto que é nisso que vc ta pensando, não é, Emily? – perguntou Ray.
- Acho apenas que este pode ser um bom quartel general – respondeu a garota.
- Vcs não tem nada melhor pra fazer do que invadir propriedade alheia? A temporada de provas está quase chegando e vcs, ao invés de estudarem, preferem caçar fantasmas em uma mansão idiota? – protestou Ashley.
Ben apenas observava a discussão.
Era uma tarde ensolarada de sábado. Estávamos em frente ao casarão do velho McCain. Eu fui o primeiro a chegar, seguido de Ben, que morava ali perto, Emily, Ray e Ashley que estavam sempre juntos, Johnny e por última Claire, que veio com o motorista particular que voltaria para buscá-la às seis horas. Tínhamos bastante tempo até anoitecer, mas já havíamos perdido boa parte deste tempo discutindo a situação. Aquilo era um saco, sem falar que tava um calor dos diabos.
- Caso não saibam, o casarão do velho McCain é assombrado. Nem mesmo quando era líder dos Caveiras eu ousava entrar num lugar destes, aliás, ninguém ousava – disse Johnny.
- Ora, deixe de ser ingênuo! Fantasmas não existem – explicou Ashley.
- Talvez, mas prefiro não pagar pra ver. Sabem da história? Tudo começou há dez anos atrás. O velho McCain morava neste casarão com sua esposa. Até que, um dia, o velho descobriu que sua mulher o traía com o leiteiro. Sabendo disso, ele a matou com um cutelo, cortou seu corpo em treze pedaços e os escondeu entre o concreto das novas paredes da casa que estava em reformas. Até hoje ainda se vê manchas em forma dos membros da mulher nas paredes... – contou Johnny com uma voz sufocada e uma cara suspeita.
- Pare Johnny, por favor. Se vc continuar, aí sim que não entro nessa casa de jeito nenhum! – disse a pobre Claire. De fato, assim como naquele sonho, ela era a mais medrosa entre nós.
- Mas não é só isso! – continuou Johnny – Dizem que até hoje o fantasma da mulher do velho McCain vaga pelos cômodos do casarão, vestindo uma longa camisola branca manchada de sangue, lamentado, chorando e procurando seus membros perdidos. – disse Johnny pausadamente, fazendo caretas e se aproximando de Claire lentamente.
- Pára Johnny. Não tem graça! – reclamou a garota fazendo bico e se encolhendo. O fanfarrão apenas riu.
- E o que houve com o velho McCain? Foi preso? – perguntou Emily.
- Esta é a grande questão! O que poderia ter acontecido ao velho McCain? Após a morte da esposa, o velho sumiu misteriosamente. Ninguém sabe se ele foi embora para algum lugar fora do país, a fim de fugir da polícia, ou se sua esposa não teria se vingado, matando-o e espalhando seus membros pelo porão... – disse Johnny fazendo a mesma performance, com pausas e tudo, mas, desta vez, para Emily. Não deu certo. A garota continuou a encará-lo da forma mais indiferente possível.
- Será possível que todos vcs sejam idiotas ao ponto de acreditar numa baboseira destas? Só falta acreditarem também em papai-noel e coelhinho da páscoa – reclamou Ashley ajeitando seus óculos.
- Isso parece ser uma aventura e tanto! Já pensou se a gente encontra fantasmas de verdade, heim Max? – me perguntou Ray todo bobalhão. Aquilo era um tédio.
- Pois é.
- Vc também acredita em fantasmas, Max? – perguntou Claire.
- Sei lá. Nunca pensei a respeito.
- Ora, vamos. Não me diga que até vc acredita em uma coisa dessas? – perguntou Ashley. Apenas dei de ombro. Não entendi o que ela quis dizer com “até vc”. Será que eu, só por ser o terrível líder e planejador de toda aquela palhaçada, não podia acreditar em fantasmas? Também não entendia por que Ashley desconfiava tanto de mim, afinal, quem inventava a maioria das idiotices que fazíamos era a Emily.
Ray, antes que qualquer um pudesse protestar, foi até a porta e puxou a manivela.
- O que foi? – perguntou Johnny.
- Não consigo abrir. Parece que tem algo prensando a porta. Se pelo menos pudéssemos passar um de nós para o lado de dentro, aposto que conseguiríamos entrar por aqui.
- Bem, deixa isso comigo. Invasão de propriedade privada é comigo mesmo! – comentou Johnny com um sorrisinho malandro. Ashley apenas virou a cara.
Após dizer isso, Johnny, com uma destreza impressionante, escalou rápido e cuidadosamente uma grande árvore que havia ao lado da casa. Rastejou por um galho até se aproximar o suficiente de uma calha velha e enferrujada que descia do teto. Se jogou e apanhou a calha, que fez um barulho esquisito e pendeu pra um dos lados.
- Cuidado! – gritou Claire. Todos nós quase arremessamos o coração pela boca quando aquele ferro ameaçou cair, mas apenas entortou um pouco e Johnny, sem mais empecilhos, escalou a calha até a janela do andar de cima que estava entreaberta e se esgueirou para dentro do casarão.
- Este garoto é idiota, por acaso? Se ele caísse dessa altura, poderia até quebrar a coluna – reclamou Ashley.
- Não fale assim do cara. Ele é muito corajoso. Ta fazendo isso pela gente – respondeu Ray com aquele sorriso idiota de sempre.
- Precisamos nos apressar. Os vizinhos logo vão perceber que tem algo estranho acontecendo aqui – disse Emily. Ela tava certa e eu também tava morrendo de preocupação com isso. Imagine só se chamassem a polícia? Era só o que faltava.
Esperamos até que Johnny desse algum sinal se vida. Depois de esperar alguns minutos, escutamos alguns barulhos estranhos que pareciam vir do lado de dentro da porta. Claire estava branca de medo. Não é à toa. Imagina só, a pop star do momento, presa por invasão de propriedade privada?
- Johnny, é vc? – perguntou Ray.
Nenhuma resposta. A porta só se abriu lenta e misteriosamente, fazendo um ruído típico de porta de mansão mal assombrada. Estávamos do lado de dentro, mas havia um problema.
- Gente, cadê o Johnny? – perguntou Claire.
- Não está em nenhum lugar que eu possa ver. Olhem só, devia ser isto que trancava a porta – disse Ray, abaixando-se para pegar do chão, ao pé da porta, um pé-de-cabra todo enferrujado. O trinco era antigo e tinha aquelas aberturas pra encaixar algo que prenda a porta à parede.
- Se Johnny não está aqui, acho que podemos concluir que não foi ele quem abriu esta porta para nós – disse Emily de forma bastante calma.
- Mas se não foi o Johnny, então quem foi que nos deixou entrar? – perguntou Ray de forma entrecortada. A pobre Claire empalideceu mais ainda.
- Ai gente, vamos embora daqui! Este lugar me dá arrepios.
- Não podemos sair agora. Não sem antes encontrar o Johnny – respondeu Emily.
- Ora, façam-me o favor, não sejam ridículos! É obvio que ele, como o bobalhão que é, está querendo nos pregar uma bela duma peça – disse Ashley de braços cruzados e aquela habitual carinha de nojo.
- A Emily tem razão, vamos nessa – confirmou Ray.
A porta de entrada dava direto a um salão grande, com poucos móveis como um sofá velho e alguns quadros idiotas de gente velha. Havia uma entrada à nossa esquerda que dava pra uma cozinha suja e abandonada que devia estar cheia de ratos e à nossa direita havia uma porta grande que estava fechada, sem contar que à nossa frente havia um lance de escadarias que parecia que se desintegraria a qualquer momento.
- Johnny provavelmente ainda está no andar de cima – comentou Emily.
- Quem sabe? É melhor não arriscar. Essas escadas não me parecem a coisa mais confiável do mundo... – falei.
- Mas e quanto ao Johnny? E se ele estiver lá em cima? Estou preocupada com ele – disse Claire.
- Eu não subo essas escadas idiotas de jeito nenhum! O Johnny que se vire. Não é ele o senhor “experiente em invasão de propriedade privada”? – falei fazendo as aspas com os dedos.
- O que há com vc, seu babaca? Não se preocupa com o seu amigo? Vc é mais egoísta que eu pensava. Não é a “amizade” tua virtude? – me respondeu a Ashley de forma grosseira, também fazendo as suas aspas com os dedos. Mas droga, não era ela mesma quem desprezava o Johnny? Não era ela mesma quem acabava de dizer que ele, provavelmente, estava planejando uma emboscada pra gente? Resolvi me calar. Até que o bobalhão do Ray teve uma idéia genial:
- Já sei galera: vamos nos separar!
Aquilo só podia ser brincadeira.
- Separar o caramba! Vc ta pensando que isso é um capítulo do Scooby-Doo? – perguntei revoltado.
- Huahuaa... Calma Max. Era só uma brincadeira!
- Gente, vamos logo. To com um mau presse... – dizia Claire, até ser interrompida por um:
- BAAAHHHHHH!
Era uma coisa branca e flutuante que se aproximou aos poucos enquanto estivemos ocupados discutindo. A coitada da garota quase teve um tréco. Ray se apressou em tomar o pé-de-cabra que pegou do chão e brandi-lo contra o suposto fantasma, mas antes que pudesse acertá-lo, o ser desconhecido riu de uma forma familiar para, então, se revelar. Era apenas Johnny coberto por um lençol branco. O idiota ria de uma forma toda fanfarrona.
- Hauhauha... Cara, isso foi demais! Vcs precisavam ter visto suas próprias caras. Foi hilário, huahuaa...
- Droga, seu inútil. Veja só o que vc fez com a garota aqui? – disse Ashley apontando pra Claire, que estava pálida como um fantasma.
- É, Johnny, isso não teve graça! – reclamou a garota.
- Ah, qual é galera? Vão me dizer que tão com medo dessa casa? Porque se for isso... – dizia Johnny, até ser interrompido mais uma vez.
- Quem está ai? – gritou uma voz desconhecida.
Da escada descia nada menos que um velho decrépito, vestindo ceroulas vermelhas, um capacete do exército, pantufas, uns óculos fundo de garrafa e apontando para nós uma espingarda. Aquilo só podia ser sacanagem. Claire deu um grito e se abraçou com toda a força ao Ray. Droga, por que ele? Eu estava até mais perto dela do que o cara. Isso gerou um olhar assassino de Ashley direcionado à menina medrosa. Não sei do que ela deveria ter mais medo: se do fantasma ou da nossa terrível presidente do grêmio estudantil. Ray apenas abraçou Claire com um dos braços e com o outro brandiu seu fiel pé-de-cabra contra o velho esquisito. Emily e Ben apenas observavam a situação enquanto eu estava paralisado de medo. É claro que nunca contei isso a ninguém, mas aquela foi outra situação em que quase molhei minhas calças. No entanto, a reação mais inesperada foi, de longe, a do Johnny, que se encolhia e gritava:
- É o fantasma do velho McCain! O cara tem uma espingarda! Salve-se quem puder! Ele vai nos matar. Ele vai nos matar! – e se arremessou para trás do sofá com a mesma destreza e rapidez com que escalou aquela maldita casa. Droga, aquele era o valentão que fazia os alunos de nossa escola ter pesadelos? O cara não passava de um frangote quando o assunto era o sobrenatural. O velho começou a gritar histericamente:
- Malditos vietcongs! Procurando emboscar o velho McCain, não é? É melhor que pensem duas vezes, seus filhos da mãe, pois este ianque aqui dorme com um olho fechado e o outro aberto. Saibam que estão lidando com um veterano, seus malditos comunistas!
O fantasma maluco gritava apontando aquela espingarda pra tudo o que é lado. A pobre Claire só chorava e dizia:
- Desculpe! Desculpe! Por favor, não nos mate. Nós vamos embora, por favor! A gente promete que nunca mais volta aqui. Deixa a gente ir embora, por favor!
Johnny continuava atrás do sofá gritando:
- O velho tem uma arma. Ele vai nos matar! Ele vai nos matar!
Aquela era, sem duvida, uma situação horrível. Eu tentava dizer alguma coisa, mas estava completamente paralisado. Pensei em correr e deixar todo mundo pra trás, mas minhas pernas endureceram. Foi quando Emily, que, até o presente momento, não havia esboçado expressão alguma, dá um passo a frente e começa a falar daquela forma calma de sempre:
- Sentimos muito por incomodar seu sono eterno, fantasma do velho McCain, mas o assunto que viemos tratar é de grande importância para todos os seres da Terra, incluindo os seres espirituais. Fontes seguras nos revelaram que, no ano de 2020, seres alienígenas com poderes psíquicos invadirão nosso planeta através de um portal interdimensional que se abrirá graças ao alinhamento dos planetas de nossa galáxia. Os únicos que podem evitar isto somos nós, os Escolhidos. O fato é que precisamos de um quartel general, e estamos convocando o senhor para nossa empreitada. Precisamos da sua casa para isso. Espero que compreenda esta situação. É uma guerra e o destino da Terra está em jogo.
A Emily falou toda aquela bobagem pro velho. Todos nós, os demais Escolhidos, trocávamos olhares assustados. Aquilo não podia dar certo. Com certeza seria o nosso fim. O velho encarava Emily e apontava para ela sua espingarda trêmula devido aos braços velhos. A garota não titubeia e mantém a mesma expressão indiferente. Até que o velho abaixa a espingarda (que mais tarde descobriríamos que nem ao menos funcionava), estala os dedos e diz:
- Esses malditos vietcongs! Não é à toa que ganharam a guerra. Eu sempre soube que estavam de conluio com os marcianos. Aqueles alienígenas filhos da mãe! Malditos bolcheviques!
Ficamos absolutamente boquiabertos. Aquilo não podia ser verdade.
- Mas será possível que vcs não percebem? Isso não é fantasma porcaria nenhuma. É só um velho gagá – disse Ashley revoltada.
Os caras só podiam tá de sacanagem pra cima de mim.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Infância

http://www.youtube.com/watch?v=nvmoPhvmDp4

recomendo ouvir lendo uma de minhas poesias =)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Espiral

Aprenda a fazer amizades rápido
As pessoas passam
Conheço uma garota cujo pai se apaixonou
E a madrasta se tornou a nova mãe
O coração de uma família mutante
Ela disse: “tenha bons filhos, pois não sou mais sua”.
Foi morar com a mãe
O problema: ela sempre odiou a mãe
Mas não mais que a madrasta
Se tornou uma solitária
Conheço um cara que tinha muitos amigos
Eram cem ou duzentos
Pouco tempo... Nenhum deles perdurou
Conheço também alguém
Um cara que não era feio nem bonito
Mas era inteligente e queria demais
Corações dados por mentes demasiado esclarecidas
Ele queria a beleza. Era seu direito.
Acabou sozinho.
Há também um homem que ficou velho cedo demais
Sentenciado a mais vinte anos arrastados com a barriga
Todos os seus amados já morreram.
É uma idade difícil. Até mesmo para o suicídio.
Eu conheço muita gente
Tenho medo da solidão. Eis o porquê deste discurso.
Conheço muita gente porque não quero ficar só
Todos passam. Sorte que aprendi a amar rápido.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O fim do mundo, cap. 13

Eu e Emily estávamos a caminho da casa do Ben. Aquilo era mesmo um saco. O gordo tava gripado e faltou quase uma semana inteira de aula. Aí eu, que era o mais próximo que ele tinha de um amigo, fui escolhido pela Srta. Smith para levar as tarefas semanais até sua casa. Por que Emily estava comigo? Não tenho a mínima idéia. Ela me abordou na saída da aula e perguntou se não poderia me acompanhar, pois queria fazer uma visita ao nosso amigo doente. Vai entender a estranha. Por que alguém poderia querer ir à casa do Ben sem ser obrigado a isso? Eu e o Gordo somos amigos (se é que se pode chamar assim) de infância e lembro bem das suas festinhas de aniversário horríveis e das tardes de verão naquela casa abafada. Era uma droga, sem falar que a família dele sempre me deprimiu; lá vivia o pai, a mãe e os quatro irmãos do Ben, que era o do meio, e eram todos gordos. Sem brincadeira, eram TODOS GORDOS. Por que é que pais gordos têm sempre que ter filhos gordos? Pensando bem, a mãe do cara vivia oferecendo comida pras visitas, e era sempre sanduíche, pizza, cachorro quente... Nunca nada muito nutritivo. Bem, até ai sem problema, não gosto de comida nutritiva mesmo, mas os cinco irmãos obesos comiam tudo com uma voracidade que sempre me espantou. Um sanduíche atrás do outro. É assim desde quando éramos crianças e aquilo sempre me deu nojo.
Chegamos até o portão da casa. Tinha uma cerca de arame que dava pra um grande terreno que poderia ser um jardim, mas era só um matagal, e lá no fundo tava a casa modesta dos gordos. Batemos na campainha, mas ela não funcionava. Aquela campainha, diga-se de passagem, nunca funcionou. Por que aquela droga de família não tirava aquela droga de interruptor do portão se a campainha jamais funcionou? É só pra enfeite? A gente resolveu bater palmas e chamar pelo nome do Ben. Depois de um tempo, sai a mãe do cara de dentro da casa e atravessa o matagal até o portão. Ela continuava a mesma, gorda e sorridente, com aquela cara oleosa, amarelada pela fritura das batatas-fritas que vivia fazendo. Aquela mulher sempre me deu vontade de vomitar.
- Max, é vc? Há quanto tempo! Que bom que apareceu, o Benjamim está de cama por causa de uma gripe muito forte. E quem é a sua amiguinha? – disse a velha sorridente. Argh!
- Bom dia Sra. Watchosk. Essa é Emily e estuda com a gente. Nós viemos trazer as tarefas de casa do Ben.
- Ah sim. Entrem! Só, por favor, não reparem a bagunça!
Passamos pelo portão e, acompanhados da tiazinha gorda, atravessamos aquele matagal idiota. Por que ninguém nunca cortava aquela grama? Seriam todos tão gordos que mal conseguiam fazer um trabalho braçal tão simples quanto esse? A Emily apenas observava tudo em silêncio e andava logo atrás de mim. Chegamos à porta da casa e a Sra. Watchosk disse:
- Vamos entrando. Por favor, será que vcs podiam tirar os calçados? Eu acabei de limpar o piso e nosso jardim suja muito os sapatos.
Emily e eu tiramos os tênis e ficamos só de meia. Droga, eu odeio tirar o tênis pra entrar na casa dos outros, sem falar que aquela casa era sempre imunda, então por que se dar ao trabalho de tirar o calçado? A tiazinha nos levou à sala de estar. A decoração daquela casa era horrível. A família era de uma religião bem ortodoxa e enchiam as paredes e os móveis com quadros e imagens de santos. Todas aquelas estatuazinhas sujas e aqueles quadros porcos me deprimiam desde as primeiras visitas àquele lugar, durante a minha infância. Mal entramos e quase fomos atropelados pelas irmãzinhas do Ben, que corriam pela casa. Eram duas meninas gordinhas e alegres que brincavam de pega-pega. Tinha mais um irmão de colo, que ficava num berço perto da cozinha. Aquelas crianças cheiravam a vômito. Por que criança pequena sempre cheira mal?
- Benjamim está repousando no quarto. Podem ir até lá entregar as tarefas enquanto eu preparo uns sanduíches pra vcs. – falou a tiazinha toda faceira.
- Ta, obrigado Sra. Watchosk.
Chegamos ao quarto. Como eu tava com uma garota, resolvi bater na porta antes de entrar. Vai que o gordo estivesse só de cueca? Bati e escutei um “entre” bastante abafado. O quarto continuava o mesmo de sempre, com aqueles móveis antigos e as paredes forradas de quadros de Jesus e pôsteres do Capitão América, do Homem Aranha, de carros esportivos ou algo que o valha. O gordo estava só de regata e cueca samba-canção. Droga, ele achava que aquela cueca em forma de short era uma roupa apresentável pra recebeu uma garota no quarto? Bem, não fazia muita diferença. A Emily não era do tipo que se importava muito com isso.
- O que vcs tão fazendo aqui? – perguntou Ben todo desconfiado.
- A gente veio te entregar a faixa de Miss Simpatia. Parabéns!
O gordo continuou a me olhar com uma cara de “O quê? Miss simpatia? Eu?”.
- To sendo irônico, droga. Isso é jeito de falar com as visitas? Pra tua informação, eu vim aqui só pra te entregar essas tarefas da Srta. Smith e a Emily veio por que tava preocupada com vc e queria saber como vc tava. Isso é jeito de tratar a garota preocupada com a tua saúde?
O cara mandou aquele olhar habitual pra Emily, que devia conter uma mensagem do tipo “desculpe”. Entreguei as tarefas e expliquei o que ele tinha que fazer. O cara era lento e não conseguia compreender nada.
- Então aqui eu aplico a fórmula né?
- Não, besta! Já te disse que é depois da equação. Vc é burro por acaso?
- Droga Max, se for pra me xingar, por que não vai embora?
- E eu vou mesmo. – falei, já tomando meu caminho para a porta do quarto, quando Emily disse:
- Espera Max. Por que vc não espera a Sra. Watchosk trazer os sanduíches pra explicar essas coisas difíceis pro Ben?
- Sanduíches?? – perguntou o gordo todo animado.
- Sim, a tua mãe disse que logo nos traria um lanche. Aposto que vc pode resolver essas equações sem problemas se estiver mastigando alguma coisa.
Foi só ela falar que a porta bateu e a mãe do Ben falou “Crianças, trouxe sanduíches!”.
Eu odeio quando me chamam de criança. Todos nós já tínhamos quinze anos, mas aquela tiazinha gorda nunca entenderia a diferença entre um adolescente e uma criança. Ela entrou com uma bandeja cheia de hambúrgueres gordurosos e o gordo saltou da cama pra abocanhar o primeiro. Aquilo era nojento.
- Ei Ben, por que não tenta fazer as tarefas enquanto come?
O Ben mandou um olhar de repúdio pra pobre Emily e disse:
- Ta na hora de comer. Depois eu faço as tarefas.
A garota continuava com aquela cara indiferente de sempre. Até que se levantou da cadeira em que sentava e caminhou lentamente até o gordo dizendo:
- Aposto que vc conseguirá entender tudo rapidinho. Não quer nem ao menos tentar? Eu posso te ajudar com as tarefas – disse a garota, sentando ao seu lado na cama. Aquela situação me parecia bastante familiar. Reparei que ela encostava levemente sua perna na perna dele e ficava com o rosto bem próximo ao dele. Aposto que o gordo podia até sentir a respiração da garota. Droga, o que significava aquilo?
- T-Ta bem, vou tentar – balbuciou o Ben.
Emily pos o caderno sobre suas pernas – a dela e a dele – e, com um lápis em mãos, começou a explicar a aplicação da fórmula enquanto o cara comia o sanduíche desesperadamente, mastigando e fazendo barulhos esquisitos.
- Espera, não é aí que vc usa a fórmula. Droga, Ben. Já não te falei isso? – reclamei.
- Vc ta errado. A formula é aqui sim – protestou o gordo de boca cheia. Quase voou pedaço de carne em mim.
- O quê???
- Ele ta certo, Max. Olha só: o resultado que ele encontrou é o mesmo que a professora passou. Acho que é vc quem ta respondendo a equação errado – disse a Emily. Ah ta, era só o que faltava!
A garota se virou pra Ben. Os dois se olharam de forma meio suspeita, ela com seus olhões azuis e ele mastigando um resto de sanduíche.
- Viu? Eu sabia que vc conseguiria! – disse a Emily com aquele seu raro sorriso, sem mostrar os dentes. A garota parecia tão gentil. Droga. Aquele gordo não merecia um tratamento desses!
- Legal. Vamos fazer este outro exercício aqui! – disse Ben todo animadinho com a nova descoberta.
- Não. Agora que vc aprendeu, pode fazê-lo sozinho mais tarde. Agora, eu gostaria que vc mostrasse aquilo que me falou – disse Emily. Fiquei boiando.
- Aquilo o quê? - perguntei.
- Vc logo verá – respondeu a garota. Droga, eu sempre odiei quando ela bancava a misteriosa. Aposto que devia ser uma coisa absolutamente idiota.
O gordo levantou da cama, abriu o guarda-roupa e pediu licença pra poder se trocar.
- A gente vai sair? – perguntei.
- Sim. O Ben vai nos mostrar um lugar perto daqui.
Eu devia saber que a Emily não tava visitando o doente à toa. Ela sempre tem seus motivos, como explorar um lugar secreto ou buscar informações sobre alienígenas. Esperamos do lado de fora do quarto até que o Ben saiu, desta vez com roupas descentes. Fomos até a sala de estar que era caminho para a saída e nos deparamos com o pai e o irmão mais velho de Ben que acabavam de voltar da oficina. O pai do cara era igualzinho a ele, gordo e taciturno, mas usava um macacão azul, sujo de graxa e com seu nome costurado no peito. Os dois trabalhavam na oficina da família e voltavam sempre com as caras sujas de graxa. Aquilo era mais uma coisa nojenta na família. Os dois mal nos cumprimentaram e foram direto pra sala de televisão, se jogaram no sofá já manchado da mesma graxa de sempre e ficaram lá, até que o Sr. Watchosk gritou pro Ben:
- Ei garoto, me alcança o controle da televisão ali na estante!
O Ben se locomoveu da sala de estar até a de televisão só pra alcançar o controle pro pai, que devia ta a poucos metros do próprio. Eram todos uns porcos preguiçosos. Depois disso resolvemos sair daquela casa antes que o coitado tivesse que buscar algo na geladeira ou coisa assim. Fomos abordados pela Sra. Watchosk:
- Benjamim, o que está fazendo? Vcs vão sair? Mas vc está muito doente!
- Tudo bem, mãe. Só vou até a esquina com eles e volto logo.
- Ta bem, querido, mas não venha tarde.
A tiazinha fez uma benção pro gordo. Benção pra que? Não é como se alguma coisa muito trágica pudesse ocorrer no caminho até a esquina. Antes que pudéssemos sair, o paizão gordo grita mais uma vez:
- Benjamim! Se for sair, passe na loja de conveniências e me traga uma cerveja.
- Ta bom pai! – respondeu o gordo.
Viver naquela casa devia ser uma droga, principalmente quando você era o filho do meio como o Ben. Saímos e andamos. Um pouco mais que uma esquina, até que chegamos ao nosso terrível destino.
- É aqui – disse Ben – o lugar ta abandonado há muito tempo.
- Bem... Parece legal. Este pode ser o primeiro quartel general dos Escolhidos – disse Emily.
- O quê??? – perguntei boquiaberto.
Fazia dias que a Emily falava que nós, os Escolhidos, precisávamos de um lugar secreto para fazer aquelas reuniões idiotas sobre alienígenas e toda essa palhaçada. Toda vez que ela falava deste lugar, usava uma definição diferente. As mais populares eram “quartel general”, “base” e “esconderijo”. Até aí tudo bem, mas aquilo era demais! Estávamos em frente a nada menos que o casarão do velho McCain. Um lugar folclórico na nossa cidade, abandonado há muito tempo, que se dizia ser mal-assombrado. Ninguém tinha coragem de entrar em um lugar como aquele, muito menos eu.
- Vcs só podem ta de brincadeira né? Ninguém vai aceitar entrar num lugar desses! O que deu em vcs? – perguntei desesperado.
- Bem, eu acho que é um bom lugar. Amanhã é sábado e podemos combinar de nos encontrarmos aqui em frente durante o dia pra que possamos explorar o casarão por dentro e avaliar se é mesmo uma boa base para nós – falou Emily.
Aquilo não me cheirava bem. Tava na cara que alguma coisa não sairia certo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O fim do mundo, cap. 2 - B

Finalmente chegou o horário do almoço. Eu a esperava ansiosamente na mesa. Aquela mesma em que ela sempre sentava sozinha, mas desta vez eu estaria ali, ao seu lado. Quantas vezes, na minha imaginação, eu já não tinha me projetado ali, almoçando ao lado dela? Emily... O nome era simplesmente perfeito. A coisa mais bela que eu poderia ter imaginado. Quando menos espero, eis que surge a garota, com seus belíssimos cabelos lisos, um casaco de lã e a habitual saia até o joelho. Nossos olhos se cruzaram e meu coração dispara. Passei a sentir como se houvesse uma ventania em meu estômago. Meus dedos parecem formigar. Ela se aproxima devagar, com sua bandeja em mãos e senta em minha frente. Nossos olhos se cruzam e toda aquela pureza parece me invadir violentamente. Sinto minhas pernas tremerem.
- E então, o que mais temos para discutir? – ela pergunta da forma mais gentil que eu poderia esperar. Não havia mais sentido em insistir em todas aquelas bobagens.
- Bem... Na verdade eu preciso te contar uma coisa...
- Sim?
- Bem... Tudo o que eu te falei sobre alienígenas, portais interdimensionais e Escolhidos... Nada disso é verdade, sabe?
Ela apenas continua a me olhar séria. Aquela beleza me embriagava de uma forma que me fazia gaguejar enquanto planejava minhas explicações. Continuei:
- É que... Veja bem, eu sempre quis te conhecer melhor. Parece bobagem mas eu sinto que temos algo em comum. Sinto que sou diferente de todo mundo aqui, e sinto em você a mesma coisa. Você é especial. Ainda mais especial que eu. Eu... Ah, há dias que tenho todo um discurso decorado, na ponta da língua, dedicado a esse momento, mas é apenas você apontar esses olhos para mim que me sinto desarmado e me obrigo a dizer coisas idiotas, como essas bobagens sobre alienígenas do futuro e toda essa idiotice. Não sou bom com palavras... Eu não sei dizer as coisas que sinto na hora em que preciso dizer, e... Assim, você é a coisa mais pura que já conheci. Sei que mal nos conhecemos, mas tenho certeza de que ficar próximo a você é o que pode me fazer mais feliz nesse mundo. Nem que tenha que te observar à distância para sempre. Nem que você nunca mais fale comigo... Não quero te perder de vista.
Ela continuava me encarando com aqueles olhos invencíveis. Ouvia atenciosamente, até que surge o silêncio em meu discurso. Ela sorri. Um sorriso leve e gentil, sem mostrar os dentes.
- Mas eu nunca exigi de ninguém a verdade. Vamos continuar conversando sobre alienígenas, homens do futuro e canais secretos de televisão. Essa história toda... Você a inventou para mim. Me sinto tão honrada... Quero fazer parte deste mundo que criou pra mim, nem que seja só por um momento. Nem que seja só em imaginação. Vai ser divertido de uma forma que a minha vida jamais foi.
Nesse momento, ela desvia seus poderosos e delicados olhos dos meus. Por que não me olhava mais nos olhos? Será que o assunto a deixava perturbada?
- Sabe Max? Eu moro sozinha. Meus pais são divorciados e me consideram o motivo da separação. Nenhum deles me quer por perto, e eu entendo. Não quero causar mais sofrimento do que já causei. Não quero que as pessoas esperem de mim algo se possa haver uma chance, mesmo que seja mínima, de decepcioná-las. Eu nunca conheci o amor verdadeiro. O máximo que já senti por alguém foi por um velho que me chamava de Christine e, às vezes, esquecia que morávamos na mesma casa. Este velho não esperava nada de mim. Eu era invisível aos olhos dele, e eu o amava por isso.
Eu escutava atentamente. Aquela história... Nunca imaginei nada como aquilo. Ela continuou:
- Mas eu quero aprender um amor diferente. Quero amar e existir ao mesmo tempo. Quero ser amada por alguém. E este...
Neste momento ela se levanta, dá a volta na mesa, puxa uma cadeira para bem próximo de mim e senta ao meu lado. Sinto sua mão deslizar por meu braço, e seus dedos procurando se encaixar entre os meus. De repente, estamos de mãos dadas. O contato me deixou paralisado.
- Este mundo que você criou pra mim. Vamos construí-lo juntos?
- Sim...
- Eu não quero assistir mais as aulas. Vamos embora?
- Mas... E quanto aos exames? Como fugiremos sem que ninguém nos perceba?
- Quem se importa com os exames? E eu conheço um beco, entre o depósito e o ginásio, onde podemos pular a cerca com facilidade. Você aceita fazer esta loucura comigo Max?
De fato, quem se importa com os exames?
- É claro...
- Então vamos. Eu conheço uma lanchonete no caminho para o centro da cidade. Eu gostaria de conferir uma coisa lá. No caminho, você pode me contar mais sobre os Escolhidos, o Canal X e todas essas coisas fantásticas?
- Claro...
Foi o dia mais colorido de minha vida.

O fim do mundo, cap. 12

Passou-se mais uma semana desde que Claire passou a andar com a gente. Eu estava voltando pra minha sala quando encontro a garota presa em uma roda de gente louca por um pouco de sua atenção e, quem sabe, até um autógrafo ou um pequeno pertence pessoal. Passo por todos de cabeça baixa, tentando chamar a menos atenção possível. Não adiantou nada.
- Ei Max! – chamou Claire, acenando e sorrindo para mim.
Era sempre a mesma ladainha. Ela dava tratamento especial para mim e o resto dos Escolhidos, logo eu, Emily e Ben, que estudávamos na mesma classe que ela, nos tornamos conhecidos e invejados por todos. A garota conseguiu fugir do grupo de fãs e correu até onde eu estava. Me cumprimentou com um beijinho no rosto. Todo dia era a mesma coisa, inclusive o lance com o beijo, o que fazia os garotos que estivessem por perto me encararem com um olhar de pura inveja. E eu, que sempre quis passar despercebido por todos, agora era o centro das atenções. Bem, também eu não tinha de quê reclamar. Os beijos eram suaves e molhadinhos. Dava vontade de nunca mais lavar a bochecha. Sem falar que a garota usava um perfume delicioso.
- Tudo bem? – me perguntou Claire, com o sorriso simpático de sempre.
- Ah... Tudo bem.
Ouvi alguém falar à nossa volta “Quem é esse cara?” e “Por que a Claire dá tanta bola pra ele?”. Bem, acho que isso devia consertar a minha reputação, mas, mesmo assim, nunca gostei de ser o centro das atenções. O sinal bateu e corremos assistir a uma emocionante aula de química da Srta. Smith. Aquilo era um saco. Claire passou a sentar do lado de Emily, uma carteira atrás e na diagonal da minha. Por algum motivo estúpido a pop star passou a bajular a esquisita. Claire conversava a todo o momento com Emily. Não que a esquisita respondesse muito, mas a outra não parecia se importar. Isso rendia algumas repreensões da Srta. Smith. Algo como “Senhorita Campbell, o fato de ser uma estrela adolescente não significa que possa acabar com a ordem em minha aula” e a garota respondia de cabeça baixa e olhar de cachorrinha sem dono: “Perdão, Srta. Smith. Prometo que não irá se repetir”, mas a situação sempre se repetia. Bem, ela não devia se importar muito com a escola. Se eu tivesse a grana que ela ganhava por ano, mandava a escola se danar.
Intervalo. Estávamos nos preparando para o almoço. Claire e Emily conversavam sobre alguma coisa qualquer. A curiosidade me bateu com força.
- Desculpa Claire.
- Sim, Max?
- Por que foi que vc voltou a estudar? Digo, vc deve ganhar bastante dinheiro com a TV, a venda dos teus álbuns, as fotos em revistas e tudo mais. Se eu tivesse o dinheiro que vc tem, jamais voltaria a estudar.
A garota riu do que falei. Qual era a graça?
- Bem... Não foi exatamente esta a minha idéia. É que meu empresário explicou que alguém do juizado de menores podia nos processar caso eu perdesse mais um ano de estudo. Sem falar que eu realmente tava precisando de umas férias e... Sabe? Depois de um ano apenas fazendo shows e gravações, a gente acaba sentindo falta da escola.
- Puxa... Nunca pensei nisso. Dá pra entender – menti. Eu jamais entenderia. Como alguém poderia enjoar de nunca mais ter que ir à escola? Imagina alguém como eu, com o dinheiro dela? Eu trataria de comprar uma rua inteira só pra mim - uma que fosse perfeita para algumas manobras - e passaria o dia inteiro nela, na maior paz e tranqüilidade.
- Com licença Claire – chamou Emily.
- Sim!
- Vc disse que, assim que fizesse parte dos Escolhidos, nos contaria o que quis dizer com aquela história de já conhecer cada um de nós. Já se passou uma semana e vc está sempre por perto da gente, então presumo que já se considere uma Escolhida. Poderia nos explicar, então, o significado daquilo que disse?
Não sei por que Emily tinha que tratar tudo sempre daquele jeitão tão formal. Deu que a Claire sorriu. Um sorriso gentil que só ela sabia dar.
- Ta bem! Eu devo isso à vcs, mas gostaria que a conversa não fosse aqui, dentro do colégio. Tem um parquinho perto daqui. Ta sempre cheio de crianças e os brinquedos são bem coloridos. Eu gosto muito de balanços. O que acham de a gente conversar lá?
Parquinho? E por acaso a gente tinha sete anos? Ela gostava de balanços? Seria possível que eu fosse a única pessoa normal naquele grupo?
- Ta bem. Então, depois da aula vamos ao parquinho. Certo Max? – perguntou Emily.
- Ah, por mim tudo bem.
Saímos em direção ao refeitório. A cada passo, Claire era abordada por um fã diferente. Aquilo era tão idiota. Pra que toda aquela comoção? Digo, é claro que a menina era bonita e gostosa, mas também não era pra tanto. O bicho pega quando a gente cruza no corredor com Whitney e suas seguidoras, com suas bolsinhas de grife e seus saltos de sei lá quantos centímetros, fazendo um barulho absolutamente irritante com suas pulseiras brilhantes.
- Olá Claire, querida. – disse Whitney.
A garota a cumprimenta com a simpatia habitual.
- Olá! Tudo bem?
- Sim, querida. Vc já deve saber quem sou, não é?
- Ah... Lamento. Sou nova no colégio.
As seguidoras trocam olhares surpresos. Como alguém poderia deixar de conhecer Whitney? A líder dá um sorriso amargo de meia boca e diz:
- Eu sou Whitney e o nosso grupo é o mais popular entre os grupos femininos do colégio. Somos desejadas pelos homens e invejadas pelas mulheres. Sabemos andar com estilo, e todos sabem disso. Deixa eu te dar um conselho, querida: tenho um bom faro pra gente refinada como eu, e posso dizer que, nesse colégio, alguém refinada como vc só tem a perder andando com gente como esses dois aí – disse a nojenta, apontando para mim e para Emily.
- Bem, eu...
- É uma ocasião especial. Estamos te convidando a sentar em nossa mesa durante o almoço. É uma oportunidade única. São pouquíssimas as garotas convidadas a fazer parte da nossa recreação. Então vamos?
- Bem, é que...
- O que é? Pode falar, já somos amigas. Precisa ir ao banheiro antes de almoçar? Sinceramente, vc precisa de uma maquiagem mais expressiva. Todos reparam nisso no refeitório, e...
- Não! É que eu já combinei de almoçar com meus amigos aqui. Sinto muito. – disse Claire, com uma mão segurando o braço de Emily e com a outra segurando o meu.
Aquilo foi ótimo. Você tinha que ver a cara da Whitney ao ouvir aquilo. As demais garotas mimadas do grupo ficaram boquiabertas, fofocando entre si. Whitney bufou, empinou o nariz e disse:
- Hum! Não sabe o tipo de oportunidade que está perdendo.
As meninas saíram, todas de nariz empinado, fazendo um barulho absurdo com seus saltos que lembrava uma marcha. Emily apenas observava toda a situação como alguém de fora. Era incrível como ela não era afetada pela opinião alheia.
- Isso mesmo, Claire! Não dá bola pra essas garotas – falei todo empolgado. Ela apenas sorriu.
Continuamos nosso caminho tortuoso até o refeitório, quando somos abordados mais uma vez, só que, desta vez, pelas garotas da torcida, que se aproximam fazendo barulho e falando alto.
- Claire, Claire! Temos uma proposta pra vc!
- Ah! O que é?
- Estamos em busca de uma líder de torcida. Uma de nossas estrelas, a Ashley, acaba de desistir de praticar cheerleading. Precisamos de alguém como vc. É perfeita para o cargo! É bela, popular e tem um sorriso mais simpático ainda que o da antiga cheerleader. O que acha?? Responde!
Várias vozes falavam a mesma coisa ao mesmo tempo pra nossa pobre pop star. Ela nos segura pelo braço e diz, antes de disparar até o refeitório:
- Desculpe. Tenho que pensar no assunto. Prometo que, assim que tiver uma opinião a respeito, vcs ficarão sabendo. Tchau-tchau!
Corremos em direção ao refeitório. Aquilo era realmente muito chato. Devia ser um saco ser uma pop star e ter que dar explicações educadas pra todo mundo. Enfim chegamos ao refeitório. Agora poderíamos almoçar em paz. Aproveitei para perguntar:
- A Ashley desistiu de ser cheerleader? Eu não sabia disso.
- O Ray me falou alguma coisa a respeito. Algo sobre ela não mais querer ser reconhecida apenas pelos seus dotes físicos, mas sim pelos intelectuais. Ouvi dizer, também, que ela venceu a eleição e se tornou a nova presidente do grêmio estudantil. – respondeu Emily.
- Puxa, quem diria...
A Ashley era a nova representante dos alunos perante o núcleo educacional? Aquilo não podia ser coisa boa. Bem, o resto de nosso dia foi razoavelmente normal. Assim que o sino bateu, encontrei as garotas me esperando no portão da escola. Partimos em direção ao tal parquinho. Esperava apenas que ninguém me visse brincando numa balança. Isso seria o fim da minha reputação. Era tarde e o sol já se punha no horizonte, dando aquela coloração típica de cair da tarde que parece deixar o mundo inteiro mais alaranjado. Havia algumas poucas mães cuidando de seus filhos na gangorra e no escorregador. Por sorte, os balanços estavam desocupados, então as garotas sentaram, a Claire em um balanço amarelo e a Emily em um azul.
- Não vai sentar Max? – perguntou Claire.
- Ah, não. Deixa pra lá. To bem em pé.
- E então, Claire, pode nos contar o que quis dizer aquele dia? – perguntou Emily.
- Bem... Eu disse a vcs que sentia que já os conhecia de algum lugar né? Foi assim: já tava tudo certo sobre a minha ausência da mídia por algum tempo. Eu não sabia, exatamente, o que fazer durante essa ausência. Foi quando tive um sonho.
- Sonho? – perguntei. Já repararam que eu sou campeão em fazer perguntas retóricas sem sentido algum? O fato é que eu previa algo que não gostava. Essas coisas subjetivas como os sonhos da Claire e as intuições da Emily sempre me deixaram bastante desconfortável.
- Sim. Era como se eu voltasse a ser criança. Costumo sonhar bastante com a minha infância, mas são sempre sonhos ruins... Fazia muito tempo que não sonhava algo feliz como foi desta vez.
- E como era o sonho? – perguntou Emily.
- Era um parquinho como esse, cheio de brinquedos coloridos e cercado por um bosque muito bonito. Contando comigo, havia, nesse parquinho, nove crianças que brincavam e se divertiam de uma forma muito especial. Essas crianças éramos nós, os Escolhidos.
- Puxa! – comentei – Então eu estava nos seus sonhos mesmo antes de te conhecer?
- Sim! Não só estava como vc, Max, era o líder da brincadeira. Era o mais divertido de todos e o que inventava quais jogos e brincadeiras a gente faria. Lembro claramente de todos os Escolhidos no parquinho. Ray, Jhonny, Ben, Ashley... Estávamos todos lá, mas éramos todos crianças nesse sonho. Não parecia que nos conhecíamos muito bem, mas não nos importávamos com isso.
- E o que mais?
- Ah, bem... A gente brincava de todo o tipo de coisa, desde pega - pega a pique - esconde. Desde jogar bola a pular corda. A gente explorava todos os brinquedos, desde o balanço a gangorra e o escorregador, e rodávamos no carrossel a uma velocidade incrível! Eu sentia um pouco de medo. Era a mais medrosa do grupo e não tinha coragem nem de subir até o final no trepa-trepa, mas vcs todos pareciam querer cuidar de mim... Pareciam querer me divertir. Me senti tão querida... Lembro das brincadeiras, como o pega - pega, em que eu corria como se minha vida dependesse daquilo, e me sufocava em meio a tantos risos. Corria tanto que acordei com o coração disparado e o peito dolorido, mas valeu a pena, pois esse sonho foi uma das coisas mais alegres que já me aconteceu!
Quem diria que a pop star do momento tinha sonhos tão infantis quanto aquele? A garota sorria com o olhar perdido no vazio enquanto contava o sonho de uma forma cheia de ternura. Parecia lembrar de nós com muito carinho. Seria possível que fossemos tão especiais para ela quanto parecia?
- E vc lembra como eram os dois outros? – perguntou Emily.
- Ah... Que outros?
- Os Escolhidos que ainda não encontramos.
- Ah sim! Desculpe. Então... Se não me engano, era um menino e uma menina. Ele era alto, magro, inteligente e conhecia todos os brinquedos como ninguém. Ela... Bem... Não consigo lembrar ao certo como ela era. Lembro apenas que ficava sentada num banquinho afastado, rindo e comentando as brincadeiras.
Emily se levantou do balanço.
- Bem, isso quer dizer que Claire já revelou seu poder secreto.
- O quê?? – perguntei.
- O poder de prever o futuro em sonhos. Será uma habilidade bastante útil, e...
- Bem eu... – interrompeu Claire.
- O que é? – disse Emily.
- Sabe? Eu tenho trabalhado duro nos últimos anos com a TV e a música. Conheci muitas pessoas desde que entrei pra esse ramo e fiz amizades com todo o tipo de gente do mundo do entretenimento, mas foram todas muito superficiais e passageiras. Agora quero fazer amizades verdadeiras, com gente normal como vcs. Amizades sinceras que durem uma vida inteira!
Normais? Nós? Aquilo só podia ser brincadeira.
- E, bem, todo esse lance sobre Escolhidos. Não somos meros amigos. Somos uma espécie de “Aliança Galáctica” que tem como objetivo salvar todos os seres humanos do Mal. Nossa relação é mais que humana: é mágica! Aposto que ainda me divertirei muito e quero que saibam que estou realmente muito feliz por ter conhecido todos vcs!
Quê? "Aliança Galáctica"??? A garota dizia toda aquela baboseira com o maior sorriso angelical no rosto. A Emily apenas sorriu e concordou. Parecia que mais uma estranha entrava para nosso grupo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O fim do mundo, cap. 10.5

Já era hora de todo mundo ir embora. Eu já tava cansado de fazer sala pra tanta gente. Subi as escadas pra procurar algo em meu quarto, quando a porta do quarto de minha irmã se abre repentinamente, um braço me puxa para a porta e a garota me olha com olhos de fogo.
- E então, o que deu?
- Ah, me larga! Eu falei tudo do jeito que vc mandou e ele nem deu bola. É bom pra aprender a não sair dando em cima de todo o tipo de homem!
Os olhos de minha irmã arderam com mais ódio.
- Vc não falou mal de mim pra ele né?
- É claro que não, droga! Me deixa em paz!
Minha maldita irmã me solta e eu retorno para a sala. Ainda estavam todos lá, mas a reunião, a pipoca e as cervejas já haviam acabado.
- Bem, acho que ta na hora de ir embora. – diz Ray. Yes!
- Bom, também vou. Vamos Ben? – pergunta Emily. Por que ela não podia ficar mais um pouquinho? Sem o gordo, é claro.
- Bem, a gente se vê outro dia então! Vou abrir a porta pra vcs. – falei aliviado, até que o terrível aconteceu...
- Esperem! – grita minha irmã idiota.
- O que vc quer, droga? – perguntei. Até que avistei algo que ela trazia embaixo do braço. Não. Não podia ser. Tudo menos isso!
- Gente, venham ver! Eu to com um álbum de fotos do Max de quando ele era criança. Tem fotos dele pelado, outras vestido de marinheiro. É tão fofo!
- Oba! Eu adoro fotos! – disse Ray de uma forma bastante idiota.
Não... Tudo menos isso...

O fim do mundo, cap. 11

- Quem diria heim Max?
- Pois é.
- A Emily esteve certa desde o começo.
- Ah... Foi só uma mera coincidência.
- Ah, qual é Max! Vai, admite que as intuições da Emily são demais. Vai, admite! – falou o idiota me chacoalhando pelo braço.
- Droga Ray, me deixa em paz!
Eu e Ray estávamos no pátio de nossa escola, observando uma sessão de autógrafos de Claire Campbell, a mais nova aluna do primeiro ano. O que aconteceu foi o seguinte: um dia depois da nossa reunião em minha casa (péssimas lembranças que comentarei mais tarde), Claire apareceu em um jornal anunciando que deixaria a televisão e a música por algum tempo, pois já tinha reprovado um ano letivo devido às filmagens e à turnê nacional. Disse que voltaria para a sua cidade natal para tirar umas férias de um ano e retomar os estudos. A garota era um ano mais velha, mas, por ter reprovado, estudaria na mesma turma que eu, e o Ray não estava a fim de me poupar daquelas brincadeiras idiotas sobre o que eu disse em minha casa, durante aquela reunião imbecil. No momento ela era abordada por uma porrada de fãs durante o intervalo, o que gerou uma sessão de autógrafos. Era só o que faltava.
- Bem, Max, acredito que o melhor a se fazer em uma ocasião como essa seja organizar uma reunião de emergência, não acha?
- É... Pode ser.
- Ok! Vamos nos encontrar no beco antes que termine o intervalo. Eu chamarei Ashley e Jhonny. Vc poderia chamar Ben e Emily pra mim?
- Ah, pode ser.
O “beco” foi um nome dado por Jhonny para aquele lugar, entre o ginásio e o depósito, onde costumava fumar e matar aula. Era um canto bastante escondido e afastado do resto da escola e Emily achou que este seria o lugar ideal para “reuniões de emergência” dentro do ambiente escolar. Caso encontrássemos um novo escolhido, deveríamos convocar a tal “reunião” e discutir o assunto.
Ray correu para o saguão principal onde ficavam os alunos do segundo e terceiro ano. Eu caminhei calmamente, com as mãos no bolso, até o prédio onde ficavam as turmas de primeiro ano. Como eu, Ben e Emily, que tinhamos a mesma idade, estudávamos juntos durante a maior parte do tempo, fui direto à sala em que imaginei que poderia encontrar os dois juntos e, assim, matar dois coelhos com uma cajadada só. Não tinha quase ninguém na sala, todo mundo estava aproveitando o intervalo. Emily não estava na sala, o que era estranho, pois ela não era do tipo de “aproveitar o intervalo”. Encontrei Ben em sua carteira de sempre, concentrado em desenhar. Ele sempre gastava todo o tempo livre desenhando heróis idiotas de quadrinhos. Decidi me aproximar devagar, pois ele sempre levava um baita susto quando alguém interrompia seus desenhos e isso o deixava de péssimo humor. Ao me aproximar sorrateiramente por trás, observei o desenho no qual ele lidava com tanto afinco em pleno horário de recheio: era uma garota muito bonita, com uma franja longa caindo levemente pela testa, olhos claros cheios de ternura e um leve e gentil sorriso, sem mostrar os dentes... Espera. Aquela era a Emily?
- Ei Ben!
O gordo deu um salto da cadeira. Me olhou com fúria e se apressou em fechar o caderno.
- O que vc quer?
- Ei... Essa garota que vc tava desenhando... Era a Emily?
- N-não. Não era não.
- Mas parecia muito. Tirando todo o lance da expressão delicada e tal. A nossa Emily é bem mais seca e fria que isso.
- Já disse que não é quem vc ta pensando! Era só... só uma heroína dos quadrinhos.
- Ta, sei... Vem cá: o Ray convocou a gente pra uma reunião de emergência lá no beco. Por acaso vc viu a Emily por ai?
- Ela já desceu. Ela já tava sabendo da garota da televisão. Disse que convocaria uma reunião de emergência.
- Bem... Menos mal. Então te vejo lá no beco.
- Ta.
Tomei meu caminho de volta para o lugar marcado. Por que será que aquele gordo idiota perdia tanto tempo desenhando uma personagem de quadrinhos parecida com a Emily?
Assim que cheguei no beco, já me deparei com Ray, Emily e Jhonny.
- E então, cadê a Ashley? – perguntou Emily.
- Ela não quis vir. Acho que ela não foi muito com a cara da nova Escolhida. Sabe como é né? Ciúmes. Agora tem uma garota mais popular que ela em nosso colégio – disse Ray com aquele sorriso modesto de sempre.
- Que idiota – comentou Jhonny.
- Tudo bem, o que importa é que Max já está aqui. - disse Emily.
- E então, como se dará a abordagem? – perguntou Ray.
- Da mesma forma de sempre. Vai Max, confiamos em vc! – falou Emily, sorrindo para mim.
- Eu? De jeito nenhum!
- Qual é Max! Vc já fez isso tantas vezes. Já deve ta acostumado a pagar esse mico – falou Ray, me dando uns tapinhas amigáveis nas costas.
- Acostumado o caramba! E nesse caso é diferente. Já pensou a manchete? Ela em um programa idiota de entrevista, tipo George Truman. Ai o cara pergunta: “Então, Claire, qual foi a cantada mais idiota que já recebeu de um fã?”, ai ela responde: “ Puxa George, vc não vai acreditar. Uma vez um fã da minha cidade natal veio me falando sobre alienígenas que dominariam nosso mundo, portais interdimensionais e umas loucuras sobre eu ser uma espécie de Escolhida. Imagina só!? Os fãs inventam cada coisa só pra tirar uma lasquinha da minha atenção”. Eu vou me tornar a piada do ano. Vai ser horrível!
- Ah, que é isso Max. Não viaja! – protestou Ray.
- Ela vai acreditar em vc, Max. Não se preocupa com isso. Se todos nós acreditamos, por que ela não acreditaria? – disse Emily.
Continuamos mais um bom tempo no qual eles tentavam me convencer a entrar na fila idiota de autógrafos para falar o que tinha que ser falado. Sem chance! Eu jamais me aproximaria dela. Não gosto de pop stars. Nunca gostei dela, apesar do fato de que ela era bastante atraente. A garota era um meio termo entre o corpo voluptuoso da Ashley e o rostinho de criança da Emily. Era uma gostosa, mas, falar aquelas bobagens todas pra ela? Sem chance! Decidi cuidar do que poderia ter sobrado da minha reputação.
No outro dia, estávamos no refeitório. Aquele era um dos dias nos quais os Escolhidos se reuniam para almoçar na mesma mesa. Isso acontecia eventualmente, em intervalos que se tornavam cada vez menores. Até a Ashley estava presente (não que ela gostasse da gente, mas tinha que cuidar do Ray e me vigiar atentamente, afinal, segundo ela, era eu o terrível maquinador daquela coisa toda). De repente, entra Claire no recinto. O refeitório vira uma festa e todo mundo, de todas as mesas, chama o nome da infeliz, pedindo para que sente em sua mesa. Toda aquela puxação de saco pra tal de Claire me dava raiva. E daí se a garota é uma pop star idiota? Tava tudo razoavelmente normal, até que a menina pega sua bandeja, anda direto para nossa mesa e diz:
- Oi! Será que eu poderia me sentar com vcs?
Emily apenas a olha com sua indiferença habitual; Ben, lidando com seu segundo sanduíche, lança seu olhar penetrante que devia conter uma mensagem qualquer; Jhonny engasga e quase cospe toda a sua comida na gente, como fez em minha casa com a cerveja (mais tarde descobriríamos que este era um hábito bastante comum do cara quando se deparava com uma grande surpresa); Ashley apenas pergunta “O quêê?”, franzindo as sobrancelhas; Eu devo ter feito a minha cara de retardado de sempre e Ray, o único sensato, abre seu sorriso modesto e diz:
- Mas é claro!
A garota senta. Todo mundo em silêncio.
- Meu nome é Claire. Muito prazer! – diz a pop star, toda simpática.
- Sabemos quem vc é, Claire. Pode apostar que o prazer é todo nosso. – responde polidamente o nosso porta-voz Ray, mandando seu olhar simpático e idiota pra menina.
- Ah, ahahha... É, vcs devem me conhecer da televisão.
- Não exatamente. Para nós, vc é muito mais especial que uma atriz da televisão ou uma cantora pop.
- Como assim?
- É uma longa história. Se vc tiver um tempo?
Aquilo não podia acabar bem. Eu já estava com um mau pressentimento.
- Ah sim, pode falar!
- Ótimo! É uma historia e tanto, e eu sou um péssimo contador de histórias. Espero que me perdoe. Quem contará tudo direitinho para vc é nosso amigo aqui. Ele é ótimo nisso! – diz Ray, me dando tapinhas nas costas.
- Eu?? Por que eu?
- Vamos, Max. Vc sabe que é o único que pode fazer isso. – disse Emily.
Silêncio constrangedor. Todos me olham como se dissessem “vai logo, perdedor”. Não teve jeito. Contei toda a baboseira de sempre. A garota apenas me olhava atenciosamente.
- Bem... É isso. Sei que é difícil de acreditar. Eu também não acredito em nada disso! São eles que me forçam a falar esse tipo de coisa! – falei, apontando para todos na mesa.
- Ah... Bem... Eu...
- E tem mais, a culpa é toda de... – dou continuidade a minha explicação, até que:
- Cala a boca, garoto. Deixa a menina responder. – me ordena Jhonny. Ta legal, fiquei quieto!
- E então Claire, o que nos diz? – pergunta Ray.
- Bem... Lamento. É muito difícil acreditar no que vcs dizem.
Silêncio constrangedor. Eu tava frito. Adeus, reputação!
- Mas... – continua Claire – Prometo que, essa noite, eu vou tentar sintonizar esse “Canal X” de que vcs falam. Se aparecer algo diferente, eu aceitarei fazer parte dos Escolhidos.
Emily e Ray trocam risinhos vitoriosos. Seria possível que até a pop star do momento cairia naquela minha história?
- E tem mais... Vcs parecem legais.
- Quem, nós? – perguntei, apontando o dedo indicador pro meu peito de forma bem imbecil.
- Sim! Ontem, enquanto eu dava sessão de autógrafos, vi vcs parados em um beco, conversando sobre algo que parecia muito divertido. Esperei que viessem até mim pra pedir autógrafo, mas foram os únicos no pátio que simplesmente me ignoraram. Pensei que o grupo de vcs pudesse ser o mais maneiro do colégio, e eu to afim de fazer novos amigos. Amigos de verdade, sabe?
Ela só podia ta de brincadeira. Nós, o grupo mais maneiro do colégio? Amigos de verdade?
- E tem mais... – continuou a garota – Eu sinto que seremos bons amigos. Não é a primeira vez que vejo o rosto de vcs. Teve uma vez, há uma semana atrás...
Todo mundo em silêncio. Expectativa total. A garota pensa melhor, sorri e diz:
- A, deixa pra lá. Eu quero ver o tal “Canal X” antes de sair falando minhas bobagens pra vcs. Ai eu prometo que conto, ta legal?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O fim do mundo, cap. 10

Era sábado. Eu estava, mais uma vez, arrumando o meu quarto pra que não parecesse idiota. Tirei da parede vários pôsteres idiotas que estavam lá desde a minha infância. Havia umas fotos de família na sala de estar e, entre elas, estava uma foto besta de quando eu era criança, com uma roupinha de marinheiro, prestando continência. Havia outra na qual eu tava fantasiado de ursinho e tinha um focinho e uns pêlos idiotas desenhados na minha cara. Nem preciso dizer que escondi todas essas fotos constrangedoras atrás do sofá. Aquele era um dia especial e eu não queria parecer um imbecil.
Tudo começou quando a Emily me mandou uma mensagem no celular perguntando se eu não poderia ir até seu apartamento pra gente tratar de “interesses que temos em comum”. Aquilo era muito estranho. Ela sempre fazia uma pequena prévia do assunto que trataríamos em qualquer reunião, e a palavra “alienígenas” estava sempre envolvida. Aquilo me fez pensar no quanto a nossa relação havia progredido nos últimos dias, especialmente naquele passeio pelo centro, uma semana atrás, e naquela situação no apartamento dela, em que a gente ficou muito próximos, sentados na mesma cama e tudo mais. Bem... Será que ela tava afim de mim? Ela era esquisita, mas até que era bonitinha. O problema era que meus pais tinham viajado pra casa de uns parentes idiotas e deixaram eu e a Jennifer cuidando da casa. Minha irmã idiota já havia avisado que aproveitaria que nossos pais não estariam em casa e iria a uma festa na casa de um cara da faculdade, e que eu deveria cuidar da casa sozinho. Eu sempre gostei de ficar sozinho em casa. A maior liberdade que um cara como eu pode ter, mas aquela era uma ocasião especial. Expliquei pra Emily que não poderia sair de casa e perguntei se ela não poderia vir à minha, ao invés do contrário. Ela aceitou. Passei algumas coordenadas sobre minha casa e ela disse que chegaria às 6 da tarde. Bem, ta explicado por que eu lidava tanto com a decoração da casa. Aquele dia tinha tudo para ser um dia especial: o dia em que eu perderia minha virgindade.
Já eram quase seis. A Jennifer já tinha saído de carona com um cara todo campeão num carro maneiro e, provavelmente, só voltaria para casa de manhã. Eu estava, finalmente, sozinho e a casa estava pronta. Enfim, a campainha bate. Me apresso em passar um pouco mais de perfume e desço correndo o lance de escadas, gritando “Já vou!”. Quase cai. Seria uma queda muito feia. Chego à porta e a abro todo animado. Além da porta estavam Emily e ninguém menos que Ben. Aquilo só podia ser brincadeira.
- Olá Max. Eu sou péssima em encontrar endereços, então pedi para que Ben viesse comigo. Ele disse que sabia onde era tua casa.
O gordo me olhava com aquela cara idiota de sempre. Nem ao menos me cumprimentou direito e já foi entrando na casa, sem limpar os pés.
- O que houve com vc? Por que ta tão perfumado? – perguntou-me Ben.
- Ah, não é da tua conta. Vc não quer que eu saia por ai fedendo, quer?
O cara continuou me olhando meio desconfiado. O que, afinal de contas, aquele maldito gordo estava fazendo ali, junto da gente? Parecia que meu dia especial não seria aquele.
- Eu avisei o resto do pessoal. Eles chegarão em breve. – disse Emily.
- Pessoal?? De quem é que vc ta falando?
- Ora Max, os Escolhidos. Quem mais poderia ser?
Aquilo era terrível. Minhas esperanças naufragavam. Eu seria virgem para sempre.
- Puxa Emily, vc não falou nada sobre trazer os escolhidos para cá. É sujeira trazer muita gente pra dentro de casa. Vão fazer muita bagunça.
- Não se preocupe. Avisei a todos que seria uma reunião muito breve. Se sujarmos algo, limpamos antes de ir embora.
- E quanto aos interesses que temos em comum, quais são? – perguntei, todo esperançoso.
- Bem, como vc pode imaginar: a salvação de nossa espécie e de nosso planeta natal. Sinto não avisá-lo antes, mas eu ando desconfiada de que nossos celulares possam ter sido grampeados pelos alienígenas. Devemos estar sempre atentos.
De fato, eu esperava algo que pudesse envolver a conservação da nossa espécie, mas não daquele jeito! O Ben ligou a televisão e ficou lá, sentado no sofá da sala na maior mordomia. Emily foi comigo até a cozinha, pois ela tava com sede e eu serviria um refrigerante gelado pra ela. Droga, se não fosse aquele gordo inútil!
De repente, a campainha bate mais uma vez. Do outro lado estavam ninguém menos que Ray e Ashley. Até a Ashley? Ela nunca mais havia falado nada sobre ser uma Escolhida, aliás, ela apenas ignorava quando encontrava qualquer um de nós pelos corredores da escola. O que ela estaria fazendo ali?
- Ei Max! Olha só, eu trouxe refrigerante e pipoca. E aí, a Emily e os outros já tão ai? – disse Ray esticando a cabeça para dentro da porta – Aha! Já estão sim. – e foi falar com o Ben na sala da televisão. Eu permaneci na porta, esperando que a menina entrasse. Ela me olhava com um olhar de puro desprezo.
- Oi Ashley! Pode entrar. Se sinta em casa.
Ela continuou me olhando com o mesmo semblante. Aquilo só podia dar em confusão.
- Escuta aqui: eu sei que é vc quem está por trás de tudo isso. Não sei por que está tentando reunir todos nós, mas vou descobrir. Enquanto isso, é bom que saiba que eu não sou como os outros. Eu não cairei facilmente na sua lábia. E saiba que eu não confio em vc, ta entendendo? – falou Ashley, me dando de dedo. Fiquei absolutamente paralisado e apenas concordei timidamente com a cabeça enquanto ela entrava furiosa para dentro da casa.
Ray foi até a cozinha fazer pipoca enquanto os outros permaneciam na sala. Ben estava esparramado no sofá com o controle na mão, trocando de canal a todo o momento, enquanto Emily puxou um livro velho e fedorento da sua bolsa e começou a ler em silêncio. Os dois me ignoravam, enquanto Ashley permanecia em pé ao lado da porta da sala, me encarando com uma cara de poucos amigos.
- Não quer sentar? – perguntei a Ashley, todo tímido.
Ela olha pro sofá com a mesma cara de desprezo que olha pra mim.
- Não, e mesmo se quisesse sentar, não poderia porque o garoto ali ta ocupando todo o sofá.
Ben apenas encarou a garota com sua cara de mau, mas aquilo não fazia efeito na Ashley, que desprezava todos nós. A situação estava horrível até que a campainha bateu mais uma vez. Era Jhonny, com um cigarro aceso em uma mão e uma caixa de bebida na outra.
- E ai garoto! Olha só, eu trouxe cerveja! Uma festa nunca está completa sem bebida – e foi entrando sem maiores explicações. Aquilo era terrível: cerveja e cigarros. Se meu pai descobrisse que alguém havia tomado bebida alcoólica e fumado embaixo daquele teto, eu estaria frito! E por acaso ele falou “festa”?
- Oi Jhonny! Ahhah... Sabe o que é? É que não dá pra fumar aqui dentro da casa. Foi mal. – falei mais tímido ainda e um pouco assustado.
O terrível agressor de professores me olhou torto, depois deu uma risada e disse:
- Ahahha... Não esquenta com isso. Eles viajaram, não é? Até voltarem, o cheiro do cigarro já passou. Ta aqui, toma uma cerveja e relaxe. – falou Jhonny me passando uma cerveja.
- É... Sabe Jhonny, isso é outro assunto que eu queria te falar. É melhor não beber, eu sou menor de idade, e se meu pai descobre que meus amigos beberam dentro desta casa eu to frito!
Jhonny continuava me encarando com cara de quem não tava me entendendo.
- Qual é, carinha! Vc não disse que teus pais viajaram? Se viajaram, não vão saber de nada! O truque é esconder as evidências. Confie em mim, sou bom nisso! Olha, abre essa cerveja ai que vc tem na mão, toma um gole e relaxa. Na tua idade eu já fazia isso todo dia.
Aquilo não podia dar certo. Assim que me deu as costas, Jhonny se depara com ninguém menos que Ashley. Os dois se encaram e eu quase escuto aquela música de faroeste.
- Escuta aqui, Jonathan Jones: eu não gosto de vc e sei que não gosta de mim, mas a situação exige que a gente aprenda a conviver da forma mais diplomática possível. Então não fique no meu caminho que não ficarei no seu. – falou a menina num tom bastante autoritário. Aquilo não podia ser coisa boa. Como ela podia ter tanta coragem a ponto de falar aquelas coisas para o terrível Jhonny?
O cara demorou um pouco para responder. Tomou um gole de cerveja e disse:
- Por mim ta ótimo.
- Quem quer pipoca?! – gritou Ray, lá da cozinha, de um jeitão bem idiota.
O Ben levantou do sofá e foi correndo pra cozinha. Gordo esfomeado.
Quando pensei que não podia ficar pior, eis que ouço a porta da frente abrir. Quem poderia ser? Corro para atender e me deparo com ninguém menos que Jennifer. Aquela era a pior coisa que poderia ter acontecido numa situação como essa.
- O que é que vc ta fazendo aqui? – perguntei.
- Não tinha festa nenhuma! O idiota apenas queria aproveitar que seus pais tão viajando pra me levar pra sua cama. Droga, eu tava tão afim de uma festa! E por falar nisso, quem são esses aí? E o que é isso na sua mão?
Eu ainda tava com a cerveja do Jhonny na mão. A cara que eu fiz deve ter sido a mais imbecil que eu consigo fazer.
- Ah... Não! Não é nada disso que vc ta pensando!
- Ahá! Aproveitou que todos nós saímos e resolveu dar uma festinha em casa, é isso, macaquinho? Quem diria! Vc ta até bebendo! Imagine só quando papai e mamãe souberem disso.
- Não... Vc não pode! – implorei, mas não adiantava. Ela já havia me dado às costas e se dirigia à sala onde estava todo mundo.
- Oi gente! – disse minha irmã idiota para todo mundo.
Ray a cumprimentou de forma bem simpática, Jhonny e Emily de forma mais inibida enquanto Ben e Ashley nem ao menos cumprimentaram. Era um pessoal muito esquisito. Minha irmã não deixaria barato. Ela voltou até mim, me pegou pelo braço e disse bem séria:
- A gente precisa conversar, Max.
Aquilo só podia ser o meu fim. Ela me puxou para um canto pra gente conversar reservadamente. Ela provavelmente me mandaria pedir para todo mundo ir embora.
- Escuta Max: quem é o teu amigo bonitão?
- Quê???
- Aquele da jaqueta de couro com a gola levantada. Aquele com um estilo meio rebelde... Meio James Dean. Quem é ele? Me diz! - falava a menina toda alegre. Aquilo só podia ser brincadeira.
- O nome dele é Jhonny. É um cara da minha escola.
- Ótimo! Escuta macaquinho: eu não vou estragar a tua festinha. Vc já ta mocinho. Ta até a tua namoradinha aqui. Eu não vou atrapalhar nada, mas diz pra esse Jhonny que tua irmã linda e descolada ta sozinha no quarto do andar de cima. E lembre-se: fale muito bem de mim para ele, ta? Se vc falar qualquer coisa idiota, eu te mato! – disse Jennifer mandando uma piscadela.
- Quê??? Ela não é minha namorada! E eu não vou falar nada disso, droga!
Tarde demais. Ela apenas me deu às costas mais uma vez e correu feliz pelas escadas. Antes de entrar no quarto, ela me olhou de uma maneira bastante suspeita e disse:
- Lembre-se: fale bem de mim, se não...
Perfeito! Agora eu pareceria mais idiota que de costume, e se eu não fizesse o que a Jeniffer mandava, com certeza ela contaria tudo sobre a festa, a bebida e os cigarros para meus pais. Eu tava numa sinuca de bico. Voltei para junto do pessoal. Estavam todos apenas me esperando para começar a reunião.
- Bem, agora que Max voltou, podemos começar com o assunto de hoje... – disse Emily.
- Espera! Tenho que falar uma coisa pro Jhonny antes – falei, já me engasgando.
- Qual é garoto! Já disse que sou bom em esconder as evidências! – disse Jhonny, já meio nervoso.
- Não é isso... É que... Bem...
- Vai garoto, desembucha!
- Bem... Minha irmã é muito bonita e descolada sabe? E, nesse momento, ela ta sozinha em seu quarto...
Silêncio constrangedor. Jhonny bebe mais um gole e diz:
- E o que eu tenho haver com isso?
Desisti. Aquilo era demais para mim.
- Bem, se era só isso, podemos começar a reunião. – disse Emily – Por favor, que horas são?
- Ah, são oito em ponto – disse Ray.
- Ótimo. Ben, vc poderia colocar no canal 12 pra mim?
O gordo pôs no canal que ela pediu. Aquele era o horário dos seriados mais populares da televisão, e no canal 12 não era diferente.
- Puxa Emily, vc assiste “Amy Rose”? Nunca pensei que vc gostasse desse tipo de programa. – falou Ray.
- Na verdade eu não gosto muito de televisão. Mas preciso mostrar uma coisa nesse programa pra vcs.
Aquilo era o fim. “Amy Rose” era um seriado idiota e extremamente popular sobre uma adolescente (a Amy Rose) que saía de sua pequena cidade natal no interior para tentar a carreira como cantora pop na capital e, quem sabe, descobrir um verdadeiro amor. Era uma comédia romântica adolescente cheia de clichês para meninas apaixonadas de doze anos. Era realmente uma bosta de seriado, e o pior de tudo é que a protagonista era interpretada por uma menina nascida na nossa cidade chamada Claire Campbell, o que fez com que nossa cidadezinha se tornasse conhecida a nível nacional. O seriado ficou tão famoso que uma gravadora contratou a garota para tentar uma carreira como cantora. Agora a própria Claire Campbell era uma espécie de pop star adolescente. A garota era realmente uma gatinha, mas devia ser burra como uma porta. O fato é que a história da Claire e da sua personagem eram muito parecidas, pois ela também veio de uma cidade pequena e agora fazia sucesso internacional, tanto com seu seriado imbecil quanto com suas musiquinhas horríveis. Enfim, a tal Amy Rose aparece na tela, e Emily diz:
- Conhecem essa garota?
- Bem... Todo mundo conhece Claire Campbell, especialmente nesta cidade – respondi.
- É. Ela é nascida aqui na cidade – comentou Ray.
- Ótimo. Passei um tempo pensando se eu não estaria enganada, pois a cor da aura das pessoas é um pouco distorcida na televisão, mas agora posso confirmar que ela é a nossa próxima Escolhida, representante do planeta Vênus.
- Quê??? – falamos todos na mesma voz (com exceção de Ben que estava concentrado na pipoca). O Jhonny quase cuspiu cerveja em todo mundo. Até Ashley ficou surpresa.
- Ah ta! Ótimo! E o que nós fazemos? Nos mudamos para a capital, escalamos um monte de fãs, fugimos de alguns seguranças e, em seguida, abordamos a pop star do momento tratando da terrível ameaça alienígena. Ai a convocamos a participar do time de defensores da galáxia. É isso? – perguntei de forma bem jocosa.
- Acho que não. Já temos a maior parte dos Escolhidos reunida. Acredito que os próximos acabaram sendo atraídos para junto de nós.
Silêncio total. Ninguém podia acreditar no que a estranha falava.
- Como vc sabe disso? – perguntou Jhonny.
- Não sei. Intuição, talvez...
- O quê?? – eu não podia aceitar aquilo.
- Ahahhah... Bem, não sei quanto à vcs, mas eu confio muito na intuição da Emily. Se ela disse que será assim, então será. – disse Ray, coçando a nuca.
Só podiam estar de sacanagem pra cima de mim.
- Ah ta. Como se isso fosse mesmo acontecer! Sabe quando a Claire volta pra essa cidade? Nunca. Nunquinha.