sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ninguém quer ficar sozinho nessa vida, não é?

Era um adulto e dez crianças presos em uma ilha. O adulto ditava as regras e as crianças obedeciam, o que não as agradava muito, principalmente à medida em que cresciam e liam os livros que sobraram do naufrágio. Eram todas muito ligadas umas as outras, só não gostavam do Fedido, porque este fedia demais.
Pensaram em arremessar o Fedido aos tubarões, mas o adulto não permitiu. "Não se pode condenar os outros apenas pelo cheiro". Protestaram contra a tirania do adulto. Exigiram seus direitos democráticos e os tiveram. Enfim, a votação: dois contra nove. Fedido não voltaria mais a incomodar. Viva a democracia!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Somewhere... Over the rainbow...

Há pouco tempo atrás, mais ou menos um mês, eu perdi uma pessoa muito querida. Uma das pessoas mais próximas que eu já tive na minha vida.
Já faz quase um mês e a família agora sofre apenas nos momentos em que a presença dele faz realmente muita falta. No começo a gente chorava bastante, a qualquer momento. Nunca se sabia quando alguém não choraria repentinamente. Agora passou e a gente tá tocando a vida em frente, porque não vale à pena ficar sofrendo pra sempre. “Chorar não vai trazer ele de volta”.
Nada vai trazer ele de volta, com certeza. Aquele defunto pra quem todo mundo rezava no velório não era mais aquele amigo que eu tinha, mas, vale mesmo à pena tocar a vida em frente? Eu não sei, mas já percebi que não tenho escolha. Sabe por quê?
Foi a primeira pessoa próxima a mim que eu perdi. Foi absolutamente inesperado. A morte apareceu diante dos meus olhos e disse: “fique esperto, meu irmão, que você pode ser o próximo a cair”. Uma pessoa que eu sinceramente considerava meu amigo não existe mais. Assim, do nada. Acabou tudo. O que eu pensei? “A vida não vale nada mesmo”. É, mas, você acha que eu ainda tô pensando assim?
Passou uma semana e aquele trabalho pra faculdade que eu tenho que entregar até novembro voltou a se tornar um problema real. Aquela conta que eu tenho que pagar voltou a me encher o saco (odeio fila de lotérica, banco, farmácia ou a puta que pariu). A queda do meu time pra segunda divisão voltou a me incomodar. E toda a noite, antes de dormir, eu me lembro do falecido e penso “essas minhas preocupações realmente não fazem sentido nenhum”.
Eu não sei. Provavelmente não. Mas eu não tenho escolha, afinal, eu mesmo só me dou ao luxo de pensar no sentido de toda essa palhaçada depois de já ter comprido com todas as minhas obrigações. A gente toca a vida em frente, mas isso não é porque a vida é bela: é porque a gente não tem escolha. Você sabe que pagar a luz antes do vencimento e entregar o trabalho antes do prazo, no final, é mais importante que a morte de uma pessoa querida ou a efemeridade da vida.
Se eu queria sentir mais, ou, ao menos, com mais intensidade? Acho que queria. Eu chorei pouco, não sei se isso é bom ou ruim. Talvez se eu pudesse chorar mais... Sei lá.
Sei que ainda acho que ficar trancado no quarto esquecendo da vida por uns longos meses ainda me parece uma reação mais natural à morte do que chorar no velório e correr atrás do trabalho da faculdade no dia seguinte.

domingo, 16 de novembro de 2008

Nada

Feminismo? Faça-me o favor

Acabei de ver na televisão o caso de um homem que recorreu à lei Maria da Penha, que prevê os crimes decorrentes de violência à mulher em casos conjugais. O homem era agredido pela esposa e ameaçado de morte pela mesma. O advogado recorreu a tal lei acreditando que não podia haver distinção de gênero nesse caso.
O advogado e o promotor de justiça responsável pelo caso acharam o caso plausível. Outra advogada e a mesma Maria da Penha foram contra a decisão do promotor, afirmando que a lei em questão se aplicava necessariamente às mulheres e que os homens possuíam outras formas jurídicas de defesa e que não precisavam recorrer à lei delAS.
Ora, acontece que, caso as mulheres não saibam, um dos pressupostos básicos da constituição brasileira é que todos são iguais perante a lei, portanto, se existe lei que não a Maria da Penha que possa defender os homens de situação semelhante, essa lei se aplica EXATAMENTE DA MESMA FORMA AOS CASOS QUE ENVOLVEM MULHERES AGREDIDAS. Então, como explicar o sexismo da lei em questão?


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Fardo

- Legal, mas, por que você não escreve um pouco sobre as alegrias da vida também?
- Ah, se eu tivesse acesso ilimitado às alegrias da vida eu não teria porque escrever.
- Mas a vida também não é só tristeza né? A vida é cheia de alegrias e tristezas.
- Sim, mas não faço questão de compartilhar as alegrias da minha vida, só as tristezas.
Depois de um tempo, nenhum deles lembrava o que tinha levado a essa discussão.
- Você é um egoista, sabe disso?
- Sei.

Cardiopatia Congênita II

E durante esse tempo todo
O que você sonhou, meu amigo?
Aposto que foi bom.
Chove como você gostava que chovesse.
Um dia de primavera não podia ter sido melhor.
Mas eu não sei mais o que pensar
Me perdoe, mas esse poema vai ter que esperar
talvez pra sempre...