segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O fim do mundo, cap. 16

- Tem certeza que este é o cara Emily?
- Sim, tenho.
- Bem Max, até agora a Emily não se enganou nenhuma vez não é? – falou Ray.
- É ele sim. Lembro com clareza dele no meu sonho – comentou Claire.
Ótimo, tudo o que a gente precisava: mais um esquisito pro nosso grupo. Estávamos no refeitório. Era horário de almoço, e numa mesa no canto do salão sentava sozinho o Oitavo Escolhido. Nunca vi o cara em lugar nenhum. Devia ser novo no colégio. Era alto, magrelo, com um pescoço alongado e com uma postura horrível. Usava uns óculos fundo de garrafa e estava entretido jogando um vídeo game portátil. Quem é o cara que trás um vídeo game portátil pra escola? Aquele devia ser o maior nerd de nosso colégio.
- Ta legal Max, sabe o que fazer – disse Emily.
Estávamos eu, Emily, Claire e Ray na mesa. Os três me encaravam com a mesma cara de “vai Max!”.
- Ah, que situação idiota, mas eu sei que vcs não vão me deixar em paz até que seja feito. É melhor que venha alguém comigo pra dividir a vergonha.
Emily se dispôs. Andamos até a mesa do cara que nem ao menos tirou os olhos daquele jogo para ver quem se aproximava.
- Olá. Eu sou Emily e este é Max. Nós somos do primeiro ano e temos algo muito importante pra tratar com vc.
O cara olha pra Emily de canto de olho. O que significava aquilo?
- Vai Max, explica pra ele.
- Então, negócio é o seguinte: essa história é bem maluca, mas essa garota aqui – apontei para Emily – não vai me deixar em paz até que tudo seja dito, então presta atenção...
Comecei a contar toda a história pro cara. Alienígenas, portais interdimensionais, etc. Mas o infeliz não tirava os olhos daquele joguinho idiota. De repente, na hora que eu tava falando dos Escolhidos, o cara levanta da cadeira num pulo, joga a mão pra cima e diz:
- É isso aí. Consegui!
Olhei pra garota pra ver o que ela pensava. Estava indiferente como sempre.
- Ta maluco? Conseguiu o que?
- Olhe só – disse o cara me apontando aquele vídeo game – consegui! É o Totomon #201. Sabe o quanto foi difícil achar esse Totomon? Sabe que as chances de encontro deste Totomon nesta dungeon são de 1/128? Beleza! Faz meses que to procurando esse bicho! Yes!!! Bem, sinto muito, mas estarei ocupado capturando esta belezinha durante os próximos minutos. Se não se importam, falaremos depois.
O quê? Totomon? Como um cara de, no mínimo, dezesseis anos ainda brincava de Totomon? Aquilo só podia ser brincadeira.
- Droga, não me diga que ele não prestou atenção nenhuma ao que eu falei?
- Tenha calma, Max. Com licença, mas quantas vezes você encontra um Totomon por minuto nesta dungeon? – perguntou Emily pro nerd esquisitão.
- Uma média e cinco a sete.
- Droga Emily, o que isso tem haver com a história?
- Bem, se ele só tem uma chance em cento e vinte e oito de conseguir o que ele quer, e só pode tentar de cinco a sete vezes por minuto, então ele deve ta procurando faz um bom tempo e acaba de achar. Pode não ser uma mera coincidência. Melhor esperar ele capturar o Totomon. Ainda temos tempo para explicar a situação.
Aquilo era muito idiota. Totomon? O cara conseguia ser mais perdedor que qualquer um de nós. Emily esperou em silêncio o cara pegar o tal Totomon. Eu já tava doidinho pra voltar à minha mesa aproveitar o tempo que sobrava pro almoço. Nesse meio tempo, Claire e Ray vieram atrás de nós.
- Olá! Meu nome é Ray Taylor. Sei que parece difícil de acreditar nessa história, mas eu acredito. Também estou nessa, e este cara – Ray pos a mão sobre meu ombro de forma simpática – é o nosso líder.
Indiferença total por parte do nerd. O cara só pensava no tal Totomon número duzentos e um. E desde quanto todo mundo me considerava o líder daquela balela toda?
- Oi! Eu sou Claire Campbell, mas vc deve saber quem eu sou né? Olha, eu também acredito com todo o meu coração no que o Max te disse. O que vc acha de fazer parte do nosso grupo? Garanto que vc vai se divertir a beça com a gente!
O esquisitão lentamente desvia seus olhos para o sorriso simpático da Claire. Analisa bem a garota, dá uma franzida na testa e diz:
- Sinto muito, mas acho que não nos conhecemos. Agora, se me permitem, preciso usar toda a minha concentração nesta captura. Hum... Meu Totomon está paralisado. Preciso trocá-lo, mas por qual? Hum... Vejamos... Este é bom, mas ta com pouco life. Hum... Vejamos...
A Claire ainda sorria, mas com uma cara engraçada de espanto. Não é por menos. Quem não conhecia Claire Campbell? Principalmente em nossa cidade? O cara só devia pensar em vídeo games mesmo. Tava cansado de esperar o perdedor ser feliz com seu joguinho, então apressei as coisas.
- Olha, negócio é o seguinte: Os únicos que podem parar os alienígenas somos nós, os Escolhidos. Se vc acredita nisso, me procure quando acabar com teu joguinho. Se não acredita, azar o teu – falei, já dando as costas e voltando para meu almoço.
- Espera Max, isso não ta certo. Ele não ta prestando atenção em vc. Não é melhor a gente esperar?
- Ah, qual é Emily? Não é vc quem vive dizendo que eu tenho o poder do convencimento? Se o cara for mesmo um dos escolhidos, deve ter entendido a situação. E olha, to perdendo meu horário de almoço. Até mais!
- Espere! – eu já tava tomando meu caminho de volta, quando o esquisito chamou.
- O que é?
- Vc tem como provar o que ta dizendo?
- Como é que é???
- Digo, a premissa é boa. Dava um bom enredo de vídeo game. Quase um Mother, mas vc tem como provar via método empírico o que ta me dizendo? Não acredito em nada que não possa ser comprovado. Assim age um bom cientista.
- Método o quê??
- Método empírico, Max. Ele quer uma prova real de que o que estamos falando é verdadeiro. Desculpe. A única prova que temos é o Canal X. Se vc conseguir sintonizá-lo esta noite, bastará como prova? – falou Emily.
Ótimo, o cara sabia falar difícil, mas e daí? Isso só fazia dele um cara mais perdedor ainda.
- É instigante, mas não podemos garantir que os humanos do futuro estejam realmente certos. Pelo que entendi, algo pode ter mudado na nossa época pois o simples fato de sabermos destes acontecimentos já pode mudar a trajetória normal dos fatos no tempo. De qualquer forma, tentarei sintonizar este canal ainda hoje. Relatarei como foi a experiência amanhã. Até lá, passem bem.
Emily e eu trocamos olhares. Ela sorri aquele sorriso de sempre, com uma cara de “missão cumprida”.
- Espere! A gente ainda nem sabe teu nome – disse Ray.
- Eu sou Dwight Elliot e estou no segundo ano. Agora, se não se importam, preciso MESMO capturar este Totomon.
Ótimo. Mais um perdedor para nosso grupo.

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