sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ciranda dos Anos Noventa

Mil anos de paraíso para você!
É como brincar de pega-pega e esconde-esconde ao mesmo tempo
mas tem aquele garoto que você não consegue pegar de jeito nenhum
e você corre mais e mais... e corre como se fosse correr para sempre.
Ai chega o amor e enche teus pulmões de sangue quente
e você quer correr mais rápido que o vento.
Mais rápido até que o próprio Flash.
Atenção tripulação! Dispensar a carga do coração, da cabeça e da barriga.
Você nunca se sentiu tão feliz, não é?
“É tão emocionante!” ela diz, mas é muito mais que isso.
É divertido.
Cuidado! É o mundo?
Sim! De repente, o mundo está ruindo às nossas costas
Esta é a hora da mágica Ciranda dos Anos Noventa.
O tempo é comprimido, mas a velocidade continua
e são mais mil anos de paraíso para você!



Você pode chorar agora...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O fim do mundo, cap. 3

Mais uma semana passou desde que Ray se tornou um dos Escolhidos. Era hora do almoço e eu estava no refeitório. Fui o primeiro a chegar à mesa. Estava esperando por Emily para que ela pudesse me manter informado sobre os novos casos de aparições extraterrestres e essas coisas. Aquilo era um tédio. Ray, como era um cara muito popular, dividia sua atenção com a gente, o pessoal do football, as garotas e mais um bando de gente. Eu nunca gostei de pessoas que tem bastante amigos. Ray até que não era tão ruim quanto eu pensava, mas eu ainda não gostava dele. Sempre odiei os caras populares.
Era segunda-feira. Eu odeio esse dia. Estava um tédio, até que a Emily chegou.
- Bom dia! – eu a cumprimentei com um sorriso no rosto.
- Bom dia. - disse ela, absolutamente séria.
Havia algo de diferente nela. Estava com os cabelos presos, o que tirava aquela franja da frente dos seus olhos. Nunca havia reparado naqueles olhos azuis que ela tinha. Ela até que era bonitinha. Me passou pela cabeça que eu poderia investir em um relacionamento com ela se ela não fosse tão estranha. De repente, pensei: “por que não?”. Afinal, eu nunca havia ficado tão próximo de uma menina como estava dela, e ela não parecia ter muitos pretendentes, então a pior parte, que é a da rejeição, eu já pularia. Se eu não gostasse, simplesmente terminava com ela. Mas e a coragem para falar qualquer coisa desse tipo pra uma menina? Droga, eu sempre odiei esse meu jeito envergonhado.
Havia duas semanas que almoçávamos juntos, só eu e ela. Às vezes o Ray passava só pra conversar rapidamente com a gente, saber das novidades, mas o cara fazia um verdadeiro rodízio de mesas, todo dia almoçando com uma galera diferente. Eu e Emily ficávamos a sós, pois ninguém queria sentar-se à mesa com perdedores como a gente. De repente, justo quando eu pensava em algo pra dizer à Emily, que estava particularmente atraente naquele dia, senta em nossa mesa Ben Watchosk. O cara estudava na nossa sala, aliás, ele estudava na mesma turma que eu havia muitos anos. Era o mais próximo que eu tinha de um amigo, mesmo assim eu o achava muito idiota, e evitava andar com ele temendo pela minha reputação. Era um garoto gordo que comia, no almoço, dois hambúrgueres e, de sobremesa, mais um pacote de batata-frita. Passava a aula inteira desenhando e era fã de quadrinhos. Era conhecido desde o primário por ser o “garoto que come meleca de nariz”, e aposto que ele devia fazer isso até hoje. O cara tinha que se aproximar de mim justo quando estou com uma garota?
- Droga Ben, vc não tem outra mesa pra sentar não? – reclamei.
Ele me olhos com uma cara de bravo e respondeu todo nervoso:
- Eu sento onde quiser. Por acaso teu nome ta escrito na droga da mesa?
A Emily ficou absolutamente calada, apenas observando a situação. Aconteceu que o cara almoçou com a gente e a nossa mesa se tornou a mesa oficial dos perdedores da escola. Ben não disse uma palavra sequer durante a refeição, só comeu como um porco, sem olhar pra cara de ninguém. De repente, pra melhorar a situação, passa o Ray acompanhado de ninguém menos que Ashley. Essa era uma menina realmente gata, mas também era a mais chata da escola. A garota era tão perfeita que te deprimia: fazia parte da torcida do time do Ray, concorria ao título de líder de torcida com a Whitney, era uma das alunas com melhores notas da escola, era boa em vários esportes, era representante da sua turma, concorria à presidência do grêmio estudantil, vinha de uma família super-rica, blá, blá, blá...
- E aí, gente! Podemos sentar com vcs? – perguntou o Ray, todo animado.
As reações foram diversas. Ray continuava com aquele sorriso modesto que eu detestava, a Emily sempre indiferente e Ben nem tirou os olhos do segundo sanduíche, mas o que foi impressionante mesmo foi a cara de estupefação que a Ashley fez.
- Você deve ta de brincadeira né Ray? Olhe só pra esses caras. É a maior concentração de perdedores que eu já vi.
Ótimo, agora eu fazia parte da maior concentração de perdedores da escola. Emily só a olhava séria, pois era imune ao que as pessoas pensavam dela. Ben só pensava em partir pra sobremesa. Eu não tive coragem de dizer nada, pra variar. Foi Ray quem repreendeu a garota.
- Pare com isso, Ashley. Não é bom falar essas coisas pras pessoas.
- Mas Ray, o que deu em vc? Por que tem dado atenção a eles? Não vê que a nossa reputação estará arruinada se passarmos a andar com este tipo de gente? Veja só: é a garota mais estranha do colégio, o comedor de meleca e... bem... nunca vi este outro ai, mas aposto que é tão fracassado quanto os outros. Como entraremos em uma boa faculdade andando com este pessoal?
Nunca agradeci tanto por alguém não lembrar de mim. Os dois continuaram discutindo sobre o assunto até que, depois de alguns insultos a mim e ao resto da mesa, a expressão de Ray mudou completamente. Nunca o vi tão zangado. Ele ficou sério, deu as costas à Ashley e disse:
- Você me dá nojo, Ashley.
Saiu do refeitório sem almoçar. A Ashley pareceu ficar arrazada. Todo mundo sabia que ela tinha uma queda pelo Ray desde que eles eram novos. A garota ficou sem reação nenhuma, olhando o amado ir embora sem ela. De repente, surge do nada Whitney e suas amigas, todas de salto-alto, bolsinhas a tiracolo e roupas de marca, rindo histericamente. A coisa era assim: Ashley e Whitney eram as garotas mais populares do colégio e as duas eram apaixonadas pelo Ray, que era, por sua vez, o cara mais popular do colégio (o que é bastante previsível). As duas eram rivais assumidas em tudo, desde títulos de miss colegial até a presidência do grêmio estudantil. A diferença é que Ashley era boa em tudo, enquanto Whitney, apesar de ser gostosa, era burra como uma porta, mas também vinha de uma família milionária.
- O que foi, queridinha? O Ray finalmente se cansou de vc? Não fique triste, isso acabaria acontecendo uma hora ou outra, hu hu hu...
- Isso não é da sua conta. Para sua informação, nós estamos muito bem sim, obrigada! Isso aconteceu só porque Ray está nervoso com a nova temporada de jogos que está chegando e com os exames semestrais. E você, querida, está pronta para os exames?
Ashley acabava de pegar Whitney pelo ponto fraco. Todo mundo sabia que ela era extremamente burra, inclusive ela mesma. As duas ficariam ali discutindo por um bom tempo.
- Sim, meu bem! Você verá. Mas de qualquer jeito, para que estudar quando você já tem uma vaga reservada em uma boa faculdade particular? É como eu sempre digo: deixe os estudos para os perdedores, pois eles realmente precisam. Querida, a conversa ta ótima, mas eu preciso retocar a maquiagem, até mais! – e mandou um beijinho para Ashley, que ainda estava arrasada com o que Ray havia dito e nem ao menos respondeu a saudação.
Assim que elas foram embora, Ashley olhou diretamente para mim com um olhar de pura raiva. Algo me dizia, desde o começo, que sobraria para mim.
- É tudo culpa sua. Sua e dos seus amigos fracassados – disse a garota, bufando, e saiu com passos firmes. Eu soube, desde que acordei aquela manhã, que aquele seria um péssimo dia.
Após toda a confusão, Ben, que já havia terminado até mesmo com a batata-frita, pegou sua bandeja, levantou e saiu sem nem ao menos dizer tchau pra gente. Emily continuou a fita-lo de maneira muito séria até que o gordo sumisse do nosso campo de visão.
- Eu sabia que este cara nos traria má sorte hoje. O Ben sempre estraga o meu dia, certa vez... – Emily me interrompeu.
- O nome dele é Ben?
- Hã... Sim, por quê?
Emily me apontou aquele olhar característico. Eu pensei “não pode ser...”.
- Ele é o quarto Escolhido. Posso sentir.
Enquanto toda aquela confusão acontecia, a única coisa na qual Emily prestava atenção era na “aura” do Ben. Aquilo sim era má sorte. Imagina só: o “comedor de meleca” agora era um dos protetores da galáxia. Não adiantava duvidar ou reclamar da Emily, eu sabia que ela sempre acabava me convencendo a falar as coisas idiotas sobre alienígenas do futuro pras pessoas. Eu começava, então, a me arrepender por ter começado com essa história de alienígenas.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O fim do mundo, cap. 2

Uma semana se passou desde que Emily e eu passamos a andar juntos. Não sei por que raios ela estava sempre me seguindo para qualquer lugar, falando sobre os casos de aparições de óvnis que ela via nos jornais e na internet. Aquilo estava se tornando um pouco chato, mas bem, eu não podia reclamar. Agora, durante o almoço, eu estava sempre acompanhado de uma garota, o que fazia com que todos os meus amigos (se é que posso chamá-los assim) e todo mundo do refeitório me olhassem diferente. Era legal, apesar de minha companhia ser a menina mais estranha da escola.
Foi durante o almoço que ela me falou sobre sua nova revelação. Deixa eu explicar isso: Após assistir ao Canal X, ela insistiu para mim que passou a ter um poder especial: o de identificar, com apenas um olhar, seres sobrenaturais. Eu fazia de conta que acreditava, mas não sabia até que ponto ela tava zoando com a minha cara. O fato é que agora ela poderia, supostamente, não só reconhecer alienígenas disfarçados de humanos ou animais ou qualquer objeto (segundo ela, essa era uma ameaça constante) como, também, poderia identificar os demais Escolhidos, que possuíam uma aura colorida e diferente das pessoas normais. Toda essa situação foi interessante até que, uma semana depois, ela identificou o novo escolhido em nossa escola.
- Eu não acredito que ELE seja nosso novo parceiro. Por que, em meio a tanta gente, ter q ser justamente ele?
- Não fui eu que o escolhi, Max, simplesmente é o que a aura dele me diz.
Estávamos falando de ninguém menos que Raymond Taylor, o popular Ray. Capitão do time de football da escola. O cara mais popular de todo o colégio. Sempre vestia a jaqueta vermelha com o símbolo da escola. Sempre andava acompanhado de um brutamonte careca com cara de mau chamado Henry e um outro cara alto com um topete lambuzado em gel chamado Eddy, sem falar das meninas lindas e descoladas da torcida do time, como Ashley e Whitney, as garotas mais populares do colégio. Eram considerados os caras mais maneiros da escola pelos homens e os mais bonitos pelas meninas.
- Ta certo, Emily, veja bem: nós estamos falando de Raymond Taylor, o RAY. O cara mais popular da escola. Como nós faremos, simplesmente pediremos licença para o resto do pessoal descolado e falaremos para ele sobre a terrível ameaça alienígena que assola nosso mundo?
Ela me olhou séria como se não entendesse a minha situação. Ela também não parecia saber direito com quem estávamos lidando.
- Era exatamente este o meu plano – disse ela, com uma calma e uma seriedade que eu não pude acreditar que aquilo fosse uma brincadeira.
Eu estava chocado. Depois de fazer uma idiotice destas, justamente com o Ray, eu seria considerando o novo “esquisito” da escola. Minha reputação, que nunca foi lá essas coisas, ficaria pior ainda.
- Escuta Emily, eu jamais farei isso, ta bom? Você fala com ele se quiser, eu ficarei espiando de longe. O que seria da minha reputação depois de uma situação dessas? Eu me recuso, ta legal? Eu, definitivamente, me recuso!
Porém, eu sou mesmo um pamonha e ela acabou me convencendo a falar com Ray, com tanto que ela estivesse junto a mim na hora de passar vergonha, o que não fazia muita diferença pra ela.
Emily e eu fomos juntos ao encontro do pessoal mais descolado da escola. Assim que nos aproximamos, interrompendo a conversa, fomos metralhados com olhares estranhos, como quem diz “o que querem aqui, derrotados?”. De repente, Emily, absolutamente calma e indiferente aos olhares, falou:
- Raymond Taylor, nós precisamos conversar com vc.
Muitos olhares estranhos. Eu estava paralisado. Ray parecia muito calmo.
- Ok, podem falar.
- Desculpe, mas gostaríamos de falar a sós com vc.
Nunca havia me sentido tão envergonhado. Era muito pior que a vez da Emily. Os tais Henry e Eddy nos olhavam de forma bem hostil.
- Hum... Ta bem. Eu volto daqui a pouco galera. – disse Ray para seus camaradas que estavam surpresos com o fato dele estar dando atenção à gente.
Fomos a um lugar mais reservado.
- E então, o que vocês querem?
- Explique pra ele, Max.
- EU? Por que eu? A gente combinou que vc diria, lembra?
- Se você foi capaz de me convencer, também será capaz de convencê-lo. Não tenha medo.
Droga, aquilo estava cada vez pior.
- Ta bem, mas antes de tudo, me deixa explicar que isso foi tudo pensado por ELA – e apontei para Emily – e que eu não tenho nada haver com isso ta legal?
Ele concordou. Eu falei tudo da mesma forma que falei pra Emily, pois eu já havia decorado aquele discurso. Ele nos olhava absolutamente surpreso. Depois de um tempo processando a informação, ele levou uma mão à nuca e coçou. Deu uma risada modesta e disse:
- Haha... Bem, vocês me pegaram desprevenido. Não esperava algo tão absurdo assim.
Eu sabia. Tava certo: Max, o cara do primeiro ano, seria o novo menino esquisito da escola. Minha reputação, finalmente, terminava em ruínas. Emily continuava o fitando muito séria para deixar claro que aquilo não era brincadeira. Foi quando Ray continuou:
- Porém, não sei ao certo o que é, mas tem algo em vocês que me passa muita confiança. Pra ser sincero, eu ainda não acredito no que vc disse, mas prometo que darei uma conferida no tal “Canal X” essa noite e prometo também que não contarei a ninguém sobre isso.
- Ta bem, manteremos contato com vc. Até breve. – disse Emily, já me puxando pelo braço para longe.
Aquilo estava ficando mais estranho a cada dia. Aquele cara legal era Raymond Taylor, o Ray que eu sempre odiei? O cara metido a herói da escola, agora bancando o bom sujeito? O lendário Ray, assistindo ao Canal X? Aquilo era muito esquisito para mim. Emily parecia achar o percurso da nossa aventura bastante normal. Ela vivia num mundo a parte. Aposto que ela nem devia saber quem era Ray, Eddy, Whitney e toda essa gente antes de falar comigo. Quando não estava me metralhando com informações sobre a nova revista óvni, estava sempre em sua carteira, quieta, lendo um livro antigo com cheiro de mofo que ela nunca devolvia à biblioteca.
Bom, pra piorar a situação, no outro dia, ao chegar na escola, me deparei com ninguém menos que Ray, o próprio, esperando na porta da nossa sala. Ele me abordou de imediato.
- Cara, isso foi realmente alucinante! Eu nunca imaginei que algo assim poderia acontecer conosco. O Canal X é real! Desculpe por não ter acreditado em vc, Max. E então, que horas Emily sempre chega? Ela está um pouco atrasada para a aula, não está?
Passei um bom tempo pensando em como Ray sabia meu nome. A Emily tudo bem, pois ela era conhecida por todo mundo por suas esquisitices, mas como ele me conhecia? Assim que Emily chegou, nós começamos a conversar sobre a invasão, os alienígenas e toda essa palhaçada. De repente, Henry, Eddy e o resto do pessoal maneiro do time de football aparece.
- Ei Ray, vamos nessa!
- Ok, eu já vou, Henry. Só preciso conversar algumas coisas com meus amigos aqui.
A cara com que Henry me olhou ao ouvir a palavra “amigo” foi indescritível. Não dava pra saber se ele ficou bravo ou se achou que fosse uma piada. Só sei que nossa aventura continuou, cada vez mais estranha e inesperada.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Apoteose ou mediocridade?

Não tem nada haver com lagoa e catedral.
A força pulsa por baixo de todo o calçamento
Contida virtualmente.
Um potencial que jamais se revelará.
O coração do leste europeu... Há um coração?
Mil cores sobre mil sóis - A verdadeira serpente dança!
O gosto do ácido como um dedo no fundo da garganta ~ Imagem
"Tudo o que eu sempre quis
foi que eu e meus amigos fossemos um só".
...
Mil palavras.
Um belo discurso. É so.
Nada...
Nada existe além de mim.
nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aniversário ou Ama-me por favor II

Hoje meus pais me levaram para passear.
Hoje meus pais me levaram para fazer compras.
Hoje meus pais me levaram para comer pizza.
Minha pele tem cheiro de talco.
Meu quarto tem cheiro de talco.
Meu quarto tem cheiro de morango.
Meus lábios tem gosto de morango.
Então eu dormi.
Dormi até que o sono acabasse.
Quando acordei, havia um bolo esperando por mim.
É meu aniversário?
Eu mereço tudo isso?
Isso é real?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Stanley, o Coadjuvante

Nós estavamos fugindo da base do Dr. Apocalipse quando escutamos as sirenes, e o auto-falante anunciando: " cinco minutos para a auto-destruição". Estavamos eu, o mocinho e a mocinha. A primeira coisa que eu pensei foi que nunca conseguiriamos escapar a tempo, mas aquilo não fazia sentido nenhum. E o meu sacrifício? Foi ai que percebi que aquela era a hora.
- Jhonny, Judy, vão na frente. Eu alcanço vocês depois.
- O quê? Stanley, você está com um parafuso a menos por um acaso?
- Não é hora para conversas. Corram logo, eu vou desarmar a bomba.
- Stanley, o quê você está pensando? - A mocinha parecia tão embasbacada. Aquilo me deixou absolutamente delirante!
- Não diga bobagens Stanley, não é hora pra... Pow! Eu acabava de acertar um soco bem na bochecha direita do mocinho. Ele caiu e a mocinha se ajoelhou, graciosa, para ajuda-lo. Aproximadamente no meio de nossa história, eu e Jhonny já haviamos brigado. Estavamos perdidos em uma floresta tropical, e eu, num surto de desespero típico de um coadjuvante, agredi o mocinho, culpando-o pelo nosso infortúnio. É claro que eu apanhei, e ele me fez manter a calma. Em pouco tempo, graças à sua astúcia, conseguimos escapar ilesos. Agora eu o socava e ele não reagia. Nunca havia me sentido tão importante.
- Escute: eu vou desarmar a bomba. Vocês sabem que só eu posso fazer isso.
- Stanley... - A mocinha estava profundamente chocada.
- Confiem em mim. Agora vão!
O mocinho se levantou. Sacudiu a poeira de sua jaqueta de aviador e seu cachecol, ajeitou seu topete, abraçou a mocinha e disse:
- Stanley. Estamos te esperando lá fora.
- Nos encontramos lá. - Ele acenou com os dedos, fazendo aquela continência heróica. Eu já estava de costas, mas levantei a mão, como se dissesse "até logo".
- Stanley... - Uma lágrima solitária deslizava pela bochecha nervosa da mocinha. Aquilo era realmente fantástico. Eu sempre fui apaixonado por ela, mas, enfim, ela não era para mim. Eu era um sujeito grandalhão, azarado e usava óculos. As chances de eu ser o coadjuvante daquela história eram de, aproximadamente, oitenta por cento. Jhonny tinha um topete, usava uma jaqueta de aviador e um cachecol, sem falar que era um homem particularmente bonito. Eles formavam o casal clássico, sem falar que Jhonny, bem, era um nome de herói. Você pode prever seu futuro pelo seu nome. Não falo de numerologia nem nada disso. Quando você nasce chamado "Stanley" você já tem que perceber que teu destino não é nada muito heróico.
Corri desesperado para qualquer lado. Não procurava a bomba. Quem se importa com a bomba numa hora dessas? Já tinha feito a minha parte. Se eles morreram ou não na explosão, eu nunca saberia, porque eu, definitivamente, iria morrer ali. Um pedregulho caiu sobre a minha cabeça e eu cai, fraco, no chão gelado. Nunca entendi por que o mecanismo de auto-destruição das bases dos caras maus nunca explodia duma vez, ao invéz de fazer a base falir aos poucos. Permaneci consciente e vi o sangue jorrar aos litros do meu crânio. Antes de morrer, imaginei a cena: os mocinhos do lado de fora, cientes de que eu devo te-los ajudado de alguma forma a escapar da morte. Abraçados. Ela chorando. Ele olhando respeitosamente e dizendo algo tipo "Stanley, seu idiota". Ah! Esse, com certeza, foi um bom final para uma vida como a minha. Um bom final!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Mundo Real

"De onde eu tava dava pra ver a cidade inteira. Eu sempre quis ver a cidade de cima, sabe? Eu tava no parapeito do prédio mais alto da cidade. Era meia noite e fazia um frio horrível lá em cima. Eu olhei tudo aquilo e... sabe? Eu odiei tudo. Aqueles caras idiotas. Quanta raiva deles eu sentia... Nossa, você nunca vai ter idéia, e eu, que queria ser amigo deles. Por que isso? Eu sempre lá, bem alegre sabe? Falando com eles, puxando assunto, e a primeira oportunidade que eles tinham de me gozar... Por que isso? Que raiva. Eu só queria ser amigo deles. Que bosta cara! São uns idiotas. Não vale a pena sabe? Dai eu gostava de uma menina. Ela é muito linda, mas, meu deus, como ela e aquelas amigas idiotas me humilharam. Sabe o que é você passar a noite inteira escrevendo uma cartinha, com todo carinho sabe? Fiz dois borrões antes da versão final, pra daí a menina mostra pra todo mundo, até pros caras que me gozavam, sabe? Como eu odeio essa cidade, cheia de mendigos e ladrões. Eu não saia mais de casa de medo sabe? Depois eu arranjei um emprego de meio turno e, meu deus, eu era muito perseguido. Teve uma vez que eu fui assaltado no caminho do trabalho, cheguei atrazado e ainda levei uma dura do chefe sabe? Me deu tanta raiva. O problema é que eu não consigo fala nada na hora. Esse que é o meu problema. Eu sempre perco a hora de fala o que eu penso, ai depois não adianta. É que tem algo que não me deixa falar sabe? Eu tenho medo, e, as vezes, parece que tá todo mundo contra mim sabe? Ai eu parei de sair de casa. Eu me sentia tão mau... Dava vontade de saí correndo. Eu não era nada sabe? Até que eu percebi que era diferente deles. Deles todos: o caras do colégio, do trabalho, as meninas e toda essa gente. Eu era muito melhor. Não precisava deles sabe? Agora eu tô bem melhor. Não preciso de ninguém. Não preciso de nada. E agora as coisas passam. Sei lá."

Então o Coração do Rei tocou o solo e todos souberam. A explosão não deixou sobreviventes.