quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Mundo Real

"De onde eu tava dava pra ver a cidade inteira. Eu sempre quis ver a cidade de cima, sabe? Eu tava no parapeito do prédio mais alto da cidade. Era meia noite e fazia um frio horrível lá em cima. Eu olhei tudo aquilo e... sabe? Eu odiei tudo. Aqueles caras idiotas. Quanta raiva deles eu sentia... Nossa, você nunca vai ter idéia, e eu, que queria ser amigo deles. Por que isso? Eu sempre lá, bem alegre sabe? Falando com eles, puxando assunto, e a primeira oportunidade que eles tinham de me gozar... Por que isso? Que raiva. Eu só queria ser amigo deles. Que bosta cara! São uns idiotas. Não vale a pena sabe? Dai eu gostava de uma menina. Ela é muito linda, mas, meu deus, como ela e aquelas amigas idiotas me humilharam. Sabe o que é você passar a noite inteira escrevendo uma cartinha, com todo carinho sabe? Fiz dois borrões antes da versão final, pra daí a menina mostra pra todo mundo, até pros caras que me gozavam, sabe? Como eu odeio essa cidade, cheia de mendigos e ladrões. Eu não saia mais de casa de medo sabe? Depois eu arranjei um emprego de meio turno e, meu deus, eu era muito perseguido. Teve uma vez que eu fui assaltado no caminho do trabalho, cheguei atrazado e ainda levei uma dura do chefe sabe? Me deu tanta raiva. O problema é que eu não consigo fala nada na hora. Esse que é o meu problema. Eu sempre perco a hora de fala o que eu penso, ai depois não adianta. É que tem algo que não me deixa falar sabe? Eu tenho medo, e, as vezes, parece que tá todo mundo contra mim sabe? Ai eu parei de sair de casa. Eu me sentia tão mau... Dava vontade de saí correndo. Eu não era nada sabe? Até que eu percebi que era diferente deles. Deles todos: o caras do colégio, do trabalho, as meninas e toda essa gente. Eu era muito melhor. Não precisava deles sabe? Agora eu tô bem melhor. Não preciso de ninguém. Não preciso de nada. E agora as coisas passam. Sei lá."

Então o Coração do Rei tocou o solo e todos souberam. A explosão não deixou sobreviventes.

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