quinta-feira, 14 de maio de 2009

Stanley, o Coadjuvante

Nós estavamos fugindo da base do Dr. Apocalipse quando escutamos as sirenes, e o auto-falante anunciando: " cinco minutos para a auto-destruição". Estavamos eu, o mocinho e a mocinha. A primeira coisa que eu pensei foi que nunca conseguiriamos escapar a tempo, mas aquilo não fazia sentido nenhum. E o meu sacrifício? Foi ai que percebi que aquela era a hora.
- Jhonny, Judy, vão na frente. Eu alcanço vocês depois.
- O quê? Stanley, você está com um parafuso a menos por um acaso?
- Não é hora para conversas. Corram logo, eu vou desarmar a bomba.
- Stanley, o quê você está pensando? - A mocinha parecia tão embasbacada. Aquilo me deixou absolutamente delirante!
- Não diga bobagens Stanley, não é hora pra... Pow! Eu acabava de acertar um soco bem na bochecha direita do mocinho. Ele caiu e a mocinha se ajoelhou, graciosa, para ajuda-lo. Aproximadamente no meio de nossa história, eu e Jhonny já haviamos brigado. Estavamos perdidos em uma floresta tropical, e eu, num surto de desespero típico de um coadjuvante, agredi o mocinho, culpando-o pelo nosso infortúnio. É claro que eu apanhei, e ele me fez manter a calma. Em pouco tempo, graças à sua astúcia, conseguimos escapar ilesos. Agora eu o socava e ele não reagia. Nunca havia me sentido tão importante.
- Escute: eu vou desarmar a bomba. Vocês sabem que só eu posso fazer isso.
- Stanley... - A mocinha estava profundamente chocada.
- Confiem em mim. Agora vão!
O mocinho se levantou. Sacudiu a poeira de sua jaqueta de aviador e seu cachecol, ajeitou seu topete, abraçou a mocinha e disse:
- Stanley. Estamos te esperando lá fora.
- Nos encontramos lá. - Ele acenou com os dedos, fazendo aquela continência heróica. Eu já estava de costas, mas levantei a mão, como se dissesse "até logo".
- Stanley... - Uma lágrima solitária deslizava pela bochecha nervosa da mocinha. Aquilo era realmente fantástico. Eu sempre fui apaixonado por ela, mas, enfim, ela não era para mim. Eu era um sujeito grandalhão, azarado e usava óculos. As chances de eu ser o coadjuvante daquela história eram de, aproximadamente, oitenta por cento. Jhonny tinha um topete, usava uma jaqueta de aviador e um cachecol, sem falar que era um homem particularmente bonito. Eles formavam o casal clássico, sem falar que Jhonny, bem, era um nome de herói. Você pode prever seu futuro pelo seu nome. Não falo de numerologia nem nada disso. Quando você nasce chamado "Stanley" você já tem que perceber que teu destino não é nada muito heróico.
Corri desesperado para qualquer lado. Não procurava a bomba. Quem se importa com a bomba numa hora dessas? Já tinha feito a minha parte. Se eles morreram ou não na explosão, eu nunca saberia, porque eu, definitivamente, iria morrer ali. Um pedregulho caiu sobre a minha cabeça e eu cai, fraco, no chão gelado. Nunca entendi por que o mecanismo de auto-destruição das bases dos caras maus nunca explodia duma vez, ao invéz de fazer a base falir aos poucos. Permaneci consciente e vi o sangue jorrar aos litros do meu crânio. Antes de morrer, imaginei a cena: os mocinhos do lado de fora, cientes de que eu devo te-los ajudado de alguma forma a escapar da morte. Abraçados. Ela chorando. Ele olhando respeitosamente e dizendo algo tipo "Stanley, seu idiota". Ah! Esse, com certeza, foi um bom final para uma vida como a minha. Um bom final!

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