quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Crônicas do Mundo 2

~ O Devorador de Crianças ~

Assim que E. chegou, A. mostrou ao amigo os restos mortais do coelhinho. Aquele mesmo com que E. a havia presenteado. O Bicho-Papão havia comido o coitadinho e deixado apenas os ossos e uns restos de vísceras. A. queria vingança e a teria com a ajuda de E.

Assim que todos foram dormir, A. e E. tomaram a escada dos pintores mais uma vez e subiram para o forro (aquele mesmo onde encontraram o Papai-Noel). E. levava seu taco de beisebol e uma lanterna enquanto A. levava uma faca da cozinha. A garota estava determinada em fazer o maldito Bicho-Papão sangrar.

De fato, o monstro se escondia lá, devorando animaizinhos pequenos que caçava pelas redondezas, como gatinhos, passarinhos e cachorrinhos. O Bicho era realmente grande – dava uns dois adultos – e tinha uma boca enorme. Assim que viu as crianças, riu fazendo uns barulhos engraçados e falou:

- BlaH BOuoO Goy bLLARg YuoOoaA HuuoOrR BllEEArgH.*

Nossos heróis não sabiam falar a língua dos monstros, então não puderam entender nada do que o Bicho disse. Depois do discurso, o monstro tirou da boca uma pequena caixinha de música, deu corda e a soltou no chão. Uma musiquinha de ninar saia da caixa. O Bicho-Papão disse:

- BlEEeeE BuuEOeoeO GooOBLIa WuuUu BlaH wBoooBb.*

E antes que pudessem agir, nossos heróis sentiram um sono profundo. Não resistiram ao peso das pálpebras e se entregaram à magia daquela caixinha de música. Quando acordou, E. percebeu que havia algo errado. Ligou a lanterna, mas que lugar era aquele? Ele e A. estavam juntos, apertados e entalados em algo que parecia ser um buraco fino ou um tubo macio. A. ainda estava sob o feitiço e dormia profundamente, lambuzada em um liquido estranho. Era o que E. temia: estavam no esôfago do Bicho-Papão, e sabia que, se não saíssem de lá logo, cairiam no estômago onde seriam digeridos. Tentou se debater, mas aquele lugar era apertado e mal deixava nosso herói se mexer. Tentou despertar A., mas era inútil. Depois de muito esforço por parte de E., o Bicho sentiu a comida incomodar e uma voz se propagou como se viesse de todos os lugares:

- WaahhrG GroOO BllaAAhrg GrRRooO ssSSSWOorp PooOObB.*

De repente, o esôfago começou a fazer contrações que empurravam nossos heróis para baixo. E. tentou se segurar mas as paredes eram lisas e escorregadias. Em pouco tempo, caíram no estômago. Os sucos digestivos começaram a vazar de todos os lados. Era um liquido quente que queimava a pele de E. O menino resolveu forçar seu retorno, mais uma vez. Outra viagem ruim ao Mundo 2.

E. logo perceberia que não devia ter deixado A. inconsciente numa situação como aquela, na qual deviam se desconectar o mais cedo possível. O Mundo 2 era belo, mas cruel.
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* Olhem só o que o Pequeno Príncipe acaba de encontrar: crianças belas e rosadas! Há quanto tempo este Príncipe não come crianças de verdade? Parecem deliciosas!

* Querida Sarasvati, prisioneira na caixa deste Príncipe. Cante para estas crianças más para que durmam e sejam boazinhas durante o desjejum deste Príncipe.

* Crianças más! Durmam e esperem pela digestão deste Príncipe. Sejam crianças obedientes.

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