terça-feira, 2 de setembro de 2008

Ama-me, por favor

Ele olhou para o quarto vazio e lembrou que não tinha mais nada para lembrar. Nada que valesse a pena lembrar. Pensou também que não tinha mais nenhum plano para o futuro. Costumava ter, mas, agora não tinha mais ou, se tinha, eram todos muito imediatos e irrelevantes. Se acostumou a viver dos prazeres mais passageiros, recorrendo a eles com uma certa frequência, como a bebida e o tabaco. De repente, pensou sobre si mesmo e percebeu que havia se acostumado a viver desse modo, aguentando os dias da semana, hora após hora, pra tentar a sorte com a felicidade no fim de semana e sempre voltar pra casa no domingo com uma sutil , porém, profunda sensação de insatisfação que se arrastava pelas horas exaustivas e tediosas que estavam por vir na próxima semana. Estranhamente, pensou que havia se acostumado a viver sem, necessariamente, ser feliz, seja lá o que isso significasse. Estranhou também como se tornou comum e aceitável os olhos desviarem do espelho. Não havia porque fitar a si próprio, muito menos por muito tempo. O mais estranho ainda era que, apesar de pensar que havia se acostumado com tudo isso (e, talvez, não fosse só o porre que havia tomado), ainda sentia algo estranho... Era difícil definir, mas era como... uma náusea...

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