segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Crônicas do Mundo 2

~A Condessa~

Havia naquele Jardim uma bela estrada de tijolos amarelos. J. sempre estava lá, às seis da tarde, esperando aquela elegante carruagem passar. J. entrava no carro e voltava apenas ao anoitecer. A. estava extremamente curiosa quanto a tal carruagem. Depois de muito insistir, J. permitiu que A. a acompanhasse nessa viagem por apenas um dia, contanto que não contasse a ninguém o que acontecia dentro daquela caleche. Era segredo.

Ao anoitecer, a carruagem parou em frente às meninas. Uma bela mulher chamou-as para dentro. Aquela era a Condessa. J. e A. estavam de frente para a belíssima nobre, que fumava um narguilé de forma elegante. Depois de algumas reverências, a Condessa deu a J. uma carreira de um pó dourado sobre uma bandeja de vidro. J. aspirou todo o pó de uma só vez e riu de forma idiota e descontrolada. O mesmo pó foi oferecido a A., mas esta recusou. Foi-lhe oferecido, também, o narguilé, mas a menina não queria usar aquelas drogas. Apesar da situação perturbadora, aquela viagem estava divertida. A tal Condessa era uma ótima anfitriã. O erro de A. foi aceitar uma das balas que estavam no pote à sua frente. Tudo naquela caleche estava envenenado. A. foi drogada e dormiu profundamente.

Nossa infeliz protagonista despertou com frio, em uma cela de masmorra. As paredes eram de pedra maciça e gelada. Havia uma coleira de ferro em torno de seu pescoço. Tentou fugir, mas era inútil - as grades eram de ferro. Depois de muito tempo de solidão, a porta é aberta por J., que usava um vestido preto bastante discreto sob um avental branco. Estendeu roupas como as suas para A. e disse:

- Vista-se logo! Nossa dona, a Condessa de Bathory, ordenou que limpássemos o salão e a cozinha. Apresse-se, se não quiser ser punida!

J. parecia falar sério. A. se apressou em vestir as roupas de serviçal, pois não queria ser punida de forma alguma. Ao andar pelo gigantesco casarão da Condessa, as duas passaram por uma janela pela qual podiam ver os arredores do castelo. Havia um grande muro coberto por arame farpado que cobria toda a mansão, enquanto ogros horrendos, cada um segurando pela coleira quatro cães com chifres e olhos vermelhos, faziam ronda para se certificar que nenhuma das escravas fugiria daquele antro. A. sentiu medo.

As duas meninas passaram a vassoura e o espanador por todo o grandioso salão de festas, depois lavaram o chão e a louça daquela cozinha nojenta, infestada de baratas e ratazanas. Estava tudo sob controle, até que J. derrubou, acidentalmente, uma xícara de marfim ao chão. O barulho foi estrondoso. A Condessa surgiu, enfurecida, com o rosto coberto por um véu negro e um chicote na mão. J., apavorada, disse, apontando para A.:

- Foi ela, madame! A culpa é toda dela. É mesmo uma desastrada!

A. quis falar a seu favor, mas o medo a deixou sem palavras. A Condessa respondeu:

- Não importa qual das duas foi a culpada. As duas pagarão. Já fizeram o suficiente limpando o salão. Não há mais serventia para vocês aqui. São meninas inúteis. Imprestáveis! A única coisa que ainda podem me oferecer é a beleza da juventude. Guardas! Levem-nas daqui!

Quatro ogros surgiram de repente, tomando as meninas de forma violenta. Foram levadas até a Câmara do Sacrifício onde receberiam a pior das punições. A primeira seria J, e A. presenciaria o castigo para temer a seguir, pois o mesmo destino a aguardava. A. estava em uma cela logo ao lado, enquanto J. foi acorrentada e içada ao teto de forma a ficar suspensa no ar.

- Você é realmente bonitinha. Seu sangue deve conter muita beleza! – disse a Condessa para J. – Não posso dizer o mesmo de você. É tão feia que sinto pena, mas alguma beleza, por mais que extravagante, em seu sangue deve haver, mesmo que seja pouca. – continuou Bathory, agora para A.

A seguir, um dos ogros trouxe para Bathory uma horripilante gadanha, com a qual a terrível Condessa passou a cortar a pele de J. O sangue da menina desesperada escorria até o corpo de sua algoz, e esta se rejuvenescia, tornando-se mais bela e moça.

A. alcançou o limite de medo e se desconectou antes de qualquer situação perigosa, claro. A viagem era como um sonho, mas as expressões do Mundo 2 começavam a fazer a menina pensar profundamente em seus sentimentos. Na verdadeira A.

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