quinta-feira, 23 de abril de 2009

O fim do mundo - capítulo 1

E lá estava eu, parado. Não sabia o que fazer, aliás, até sabia o que fazer, mas e a coragem? Havia um mês que as aulas tinham começado e eu não tinha falado nada, e lá estava ela, sentada em sua carteira. Me lembro que eu sempre achei ela estranha, diferente de todo mundo. Não era só eu que achava isso, na verdade, todo mundo pensava isso. Ela não tinha amigos. Ficava sentada na sua carteira lendo ou desenhando. Tinha uma franja comprida que escondia parte dos seus olhos. Havia todo tipo de boatos sobre ela, e eram todos bem estranhos.
Houve um intervalo. Ela fazia apenas aquela aula comigo, então eu tinha que me apressar. Essas coisas são engraçadas porque eu levantei tão de repente da minha cadeira que nem percebi. Quando percebi já estava pensando algo do tipo: “droga, to em pé já, não tem mais volta!”.
Andei até a carteira dela. Eu tentava não pensar nada do tipo: “droga, ela vai me achar um idiota!”, ou “ela vai rir muito da minha cara”. Não tinha jeito e eu andei aquele caminho inteiro pensando isso. Não era um caminho super longo da minha carteira até a dela, mas deu tempo de pensar essas coisas um monte de vezes.
- Oi!
Não tinha mais volta. Eu lembro que tremia. Ela só mirou os olhos pra cima, sem mexer o rosto.
- Oi.
Ela voltou a olhar pro seu caderno. Uns segundos depois ela ergue a cabeça e me olha direto nos olhos. Ela percebe que eu quero falar algo.
- Oi! É que... Eu sei que é estranho falar essas coisas pra você. A gente nem se conhece e tal. Talvez você ache que eu sou louco, ahaha... Se você achar isso não precisa mais falar comigo. Nem precisa me dizer mais oi. Mas é que eu preciso mesmo fala essas coisas.
Ela continuava me olhando com a mesma expressão. Não dava pra dizer se ela tava interessada ou se tava me achando um idiota, me explicando feito um burro. Sei que eu continuei com aquela conversa.
- É que... Bem... Há um mês atrás, exatamente à meia noite, eu apertei o botão de seleção aleatória de canais da minha TV. Deu que caiu em um canal secreto, chamado “Canal X”. O que eu vi lá foram imagens mandadas por gente do futuro, gente do ano de 2022. Daí eles disseram que, no ano de 2020, graças ao alinhamento dos planetas da nossa galáxia, se abriu um portal inter-dimensional do qual saíu uma raça alienígena com poderes psíquicos que dominou o planeta e transformou a galáxia inteira em sua colônia. Segundo esses humanos do futuro, que foram escravizados, a única forma de vencer estes seres está no passado. Agora, no nosso tempo, existem nove “escolhidos” que tem o poder de evitar que este portal se abra. Bem... Um deles sou eu, e eu acho que a outra é você. Eles diziam que todos os escolhidos estavam pertos uns dos outros, e que eram pessoas especiais, diferentes das demais pessoas... Ah, bem, é isso! Se vc não acreditar em nada do que eu disse eu não vô fica bravo tá?
Eu nunca havia me sentido tão idiota.
Ela continuava me olhando séria. De repente ela começou a rir. Era um riso muito estranho, não dava pra dizer se era gozação comigo ou se só a situação era idiota. Sei que eu nunca tinha visto ela rir daquela maneira.
- Ahahahaa... Vc é mais interessante que eu pensava. Qual é seu nome?
- Eu? Sou Max.
- Meu nome é Emily.
- É, eu sei, ahahaha.
Ela não riu dessa vez. Aquilo me surpreendeu muito. Se ela houvesse dito aquilo pra mim, com certeza eu a mandaria dizer essas coisas malucas pra outro.
- É... Viu, eu precisava explicar bem a situação pra vc.
- Tá. Vamos almoçar juntos.
Almoçar juntos? Ela sempre procurava as mesas mais vazias e eu sempre sentava no primeiro local vago que encontrava. Aquilo estava estranho demais.
- Legal! Depois a gente se fala então.
- Tá.
Ela pegou sua pasta e saiu da sala. Eu nunca poderia imaginar que isso seria o começo de uma longa história.

Nenhum comentário: