segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Super Adventure - Prelúdio

Os pais do pequeno Pedro, de dez anos, tinham uma viagem muito importante a fazer, então o deixaram com seus avós que moravam no interior. Era um sítio pequeno, com algumas poucas galinhas, duas vacas e um cavalo preguiçoso chamado Bartolomeu. O menino tinha pouco a fazer naquele local desolado. Passava suas tardes assistindo os poucos canais chatos que passavam na televisão da sala de estar. A casa toda tinha cheiro de velhice, uma mistura de mofo com cheiro de sabão. Havia moscas por toda a parte. Pedro estava convencido que aquele seria um fim de semana lento e tedioso.

Não o deixavam se aventurar muito além de onde se podia ver da janela, então o garoto decidiu explorar o casarão. Gostava de lugares antigos, apesar de tudo. Gostava de vasculhar cômodos pouco utilizados, como depósitos e porões. Tinha a sensação de adentrar um santuário abandonado ao subir ao sótão, lotado de caixas repletas de velharias, amontoadas umas sobre as outras. Mexeu em tudo até encontrar algo que lhe chamasse a atenção, o que não demorou tanto: em meio a um monte de álbuns de infância e ferramentas, um console de videogame antigo. Não parecia com nada que conhecesse. Era demasiado grande e pesado, assim como os controles. Aquilo não podia ser nem o mais antigo entre os Nintendos, na verdade, parecia até mais antigo que o Atari. Mais antigo até que aqueles que vinham com Pong na memória e tinha os controles direto no console, mas tinha uma entrada grande para cartucho. Vasculhou mais, caixa por caixa, até encontrar um único cartucho robusto, com símbolos estranhos e números desenhados no adesivo. A descoberta reanimou o desolado menino que já havia se conformado com a morte por tédio excessivo. Aquele jogo antigo devia ser uma droga, mas era, com certeza, melhor que o canal do boi e o do mercado de pulgas.

A velhinha estava lá fora cuidando da hortinha e o velho havia subido à cidade de caminhonete, mas Pedro era esperto e sabia se virar. Pegou a pequena televisão do quarto dos avós e a levou ao sótão, onde havia uma tomada 110. Ligou a T.V. e, em seguida, plugou os cabos de áudio e vídeo e a fonte do misterioso videogame. Deu certo! Bastava encaixar o cartucho e uma aventura, por mais modesta que fosse, estaria confirmada. Desapontamento. Não funcionou de primeira, mas o menino lembrou dos antigos falando saudosamente dos tempos em que se assoprava a “fita”. Puxou a maior quantidade de ar que seu pulmão agüentava e soprou com força. Pó e pedaços de uma espécie de lã voaram para todos os lados. Expectativa. O “click” do cartucho encaixando na entrada correta. Deu certo!

Deu-se início a musica chiptune. Um bando de símbolos esotéricos apareceu na tela. O menino não entendia nada até o momento em que, de repente, a tela se escureceu e surgiu um diálogo em letras brancas em português. O jogo era nacional? Quem diria.

“ Bem vindo ao Super Adventure! Antes do Herói prosseguir, um breve questionário deve ser respondido. Seja sincero. Não há nada a temer.”

Deu-se, então, início a um interminável repertório de perguntas inúteis, desde “qual a sua cor favorita?” e “quantos anos você tem?” até “ se você encontrar uma carteira na rua, cheia de dinheiro, tentaria devolve-la ao dono ou ficaria com o dinheiro?” e “você gosta dos seus pais?”. A última questão foi: “Está preparado para uma aventura de verdade?”. Pedro não esperava nada menos que isso para sua vida. Uma nova caixa de diálogo se abriu:

“Parabéns. Você é o escolhido! Agora os portais para do país mágico de Aventura se abrirão para o Herói. Seja corajoso, Pedro, e não chore.”

O jogo o chamou de Pedro? Mas em momento algum foi requisitado o nome do jogador. Estranho. Deu-se, então, uma animação introdutória à aventura. Basicamente o herói Pedro havia sido escolhido para resgatar a princesa de Aventura das garras do terrível Feiticeiro.

O enredo era simples. O garoto estava acostumado a jogar games de ficção cientifica com histórias complexas e diálogos extensos e complicados. Ajeitou-se sobre a almofada em que sentava e preparou-se para a aventura. Então a tela escureceu e a calma música de prelúdio cessou repentinamente. Alguns segundos sem nenhuma resposta. Teria o jogo travado? Assim que Pedro se levantou para resetar, um barulho alto e estridente passou a ser berrado pela televisão, e um monte de cores e formas começou a passar rapidamente pela tela, girando de maneira hipnótica.

Aquela esquisitice já era demais, mas antes que Pedro pudesse desligar o videogame, uma força estranha pareceu-lhe conduzir até a televisão. Na verdade, estava sendo arrastado por uma força gravitacional. Como um vento. Estava sendo dragado para um furacão. A força crescia rapidamente. O menino se agarrou ao que tinha por perto, mas até as caixas, por mais pesadas que fossem, pareciam estar sendo puxadas pelo buraco negro que se abriu na tela. Tentou gritar, pedindo ajuda à avó, mas o barulho emitido pela televisão era tão absurdamente alto que nenhum de seus pedidos por socorro pode ser ouvido. Nem ele próprio podia ouvir seus gritos. Então a força se tornou tanta que Pedro voou em direção à televisão e atravessou a tela. Logo estava atravessando um túnel cilíndrico composto de uma espécie de energia colorida. Antes que pudesse conceber toda aquela situação, o menino chegou a seu destino. O Herói chegou à terra mágica de Aventura.

Um comentário:

blur disse...

Let the games begin.